23 Novembro 2015
Sociólogo, diretor de ensino da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, Michel Wieviorka concentrou o seu trabalho de 40 anos na integração, no terrorismo, no racismo e no antissemitismo.
A reportagem é de Cosimo Caridi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 20-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Essa palavra é muito perigosa. E, quando um presidente de esquerda fala de guerra contra o terrorismo, exatamente com as mesmas palavras usadas por Bush em 2003, é difícil de aceitar. Na guerra, o inimigo está fora, não é um cidadão do seu próprio Estado. Como é possível estar em guerra se o problema são jovens franceses que atuam na França, mesmo que com o apoio de fora? Na quarta-feira, em Saint Denis, onde foram mortos alguns desses terroristas, foi uma operação policial, e não militar.
Mas anunciar a guerra une os franceses?
Nestes primeiros dias, todos os partidos estão compactos, há até quem chamasse isso de Sacra União. Mas, em menos de três semanas, haverá as eleições regionais, os partidos vão brigar, e a Sacra União, que deve enfrentar o terrorismo, vai explodir. Quem vai desfrutar disso vai ser apenas a direita.
Como se supera esse momento?
O terrorismo, quando há pessoas que atiram pelas ruas, é um minuto em que todos os problemas se condensam. Mas esses problemas são muito diferentes entre si. Alguns têm raízes profundas, de 40 ou 50 anos. É preciso começar a partir daí.
O que há de errado no sistema de integração francês?
Tudo começou nos anos 1970. Primeiro, os migrantes tinham a ideia de voltar para os seus países de origem, mas muitos decidiram ficar. Isso aconteceu em um momento em que não havia o pleno emprego. A classe média, portanto, não pôde deixar as banlieue aos novos migrantes. E, assim, nasceu um déficit de integração, que, por sua vez, levou à discriminação. Hoje, se você é jovem e escuro de pele, provavelmente você vive na periferia e não consegue encontrar trabalho.
Falta só um empreso para esses jovens?
A política diz aos migrantes ou aos seus filhos: "Vocês devem se integrar, a República é maravilhosa. Liberté, Egalité, Fraternité". Mas, quando você não é livre, quando você não se sente igual aos outros, você se sente deixado para trás, uma parte de você se torna louca. Porque esse discurso é uma promessa, mas que não funciona para você.
O que devemos esperar para os próximos meses?
Os acontecimentos recentes nos mostram que essa crise será cada vez mais forte. A sociedade dá a você a liberdade para ser crente, mas, ao mesmo tempo, pede que os muçulmanos não sejam muçulmanos no espaço público. A islamofobia vai crescer ainda, assim como o antissemitismo. Há muitos judeus que decidem ir viver em Israel, que dizem que não podem viver como judeus nesta sociedade. Vivemos um momento de fragmentação, e, para alguns grupos, é mais difícil do que para outros.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
"É equivocado falar de guerra." Entrevista com Michel Wieviorka - Instituto Humanitas Unisinos - IHU