12 Novembro 2015
O cardeal Francesco Montenegro acaba de escutar as palavras de Francisco na catedral de Florença: "Que Deus proteja a Igreja italiana do poder, dinheiro e imagem".
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 11-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Essa mudança de ritmo é o fim do ruinismo?
O papa está nos propondo a interrupção de uma certa atitude. Mas ele não está inventando a Igreja. Ele apenas a está movendo para a frente. Como se nos dissesse para tirar da gaveta algo que acabou ficando bem no fundo. Ele está nos dizendo que a mudança é possível e está nos contagiando com a sua força. Trata-se de tirar o pó do Evangelho. Acho que precisamos percorrer de modo unitário o caminho da periferia, da base, do povo.
O papa não quer uma Igreja obcecada pelo poder.
O Evangelho é sempre novidade. As exortações que escutamos nos obrigam a olhar para a frente, porque o rosto de Deus não está impresso, abstrato, distante. Está perto. É o mendigo na esquina, assim como aqueles que vivem uma situação de dor em solidão.
Esse discurso marca um antes e um depois para a Conferência Episcopal Italiana?
O papa está nos indicando não tanto um hábito novo. Ele está nos dizendo para redescobrir algo que já está no DNA do cristianismo, mas até agora foi mantido um pouco à parte. Aos poucos, foi sendo construída a imagem de uma Igreja, provavelmente, mais orientada para a sua segurança, tendencialmente autorreferencial. Assim, pouco a pouco, nos fechamos cada vez mais, enquanto a Igreja foi feita para ser aberta.
Os bolsões de resistência existem...
Mais do que bolsões de resistência, trata-se de mentalidades diferentes. É que nem todos veem isso da mesma maneira. Pedro e Paulo também discordavam entre si por causa de pontos de vista diferentes.
Antes, a Igreja "hospital de campanha" não estava na moda?
Não é verdade: sempre houve muitas figuras, como a Madre Teresa, que a realizaram. Até ontem, Romero era considerado uma espécie de louco, mas agora foi reabilitado. Também me vêm à mente La Pira ou Sturzo, figuras proféticas que estão destinadas a se tornarem bem-aventuradas.
Por que há tantos venenos em torno do papa?
Perguntemo-nos: existe alguém que talvez queira perder o poder? O fato é que, quando a caravana parte, os cães ladram. Esse papa está pondo em movimento uma caravana que tinha parado e tinha encontrado um oásis, e isso incomoda muitos. É um sinal de que aquilo que está sendo proposto está na direção certa. Soma-se a isso o fato de que uma Igreja como a que Francisco leva em frente não agrada a muitos ambientes externos que trabalham para enfraquecê-la. Eu não sei se se trata de lobbies ou de maçonaria.
Você se sente desconfortável ao ler notícias como a da cobertura do cardeal Bertone?
Não gostaria de tornar um caso pessoal. Pessoalmente, eu não compartilho essa escolha. Também não compartilho certos estilos de vida. Se há cardeais que escolheram isso, devem ter feito isso em consciência. Penso, no entanto, que muitas coisas estão destinadas a mudar no futuro, porque a caravana da mudança está em marcha.
Você vive em um palácio?
Ah, sim, e até mesmo bonito, em Agrigento. Só que a metade está caindo aos pedaços, literalmente, e a Proteção Civil declarou-o inseguro e fechou para mim a metade estável. Assim, tive que mudar metade da Cúria e os escritórios. Eu vivo em dois ambientes, mas está bom assim. Ah, por favor, escreva também que eu pago regularmente o imposto imobiliário e todos os demais impostos.
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Com Francisco, a "caravana da mudança" está em marcha. Entrevista com Francesco Montenegro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU