30 Outubro 2015
Há poucos dias, a editora italiana Piemme anunciou para o mês de janeiro, junto com a Feira do Livro de Frankfurt, a publicação do livro-entrevista com o Papa Francisco de Andrea Tornielli, vaticanista e coordenador do sítio Vatican Insider.
A reportagem é de Francesco Gagliano e Luis Badilla, publicada no sítio Il Sismografo, 29-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Tornielli, a quem o sítio Il Sismografo fez algumas perguntas sobre o livro, intitulado Il nome di Dio è Misericordia, destaca: o papa "apresenta o coração do seu pontificado e comunica com a sua linguagem simples e direta a grande mensagem do Ano Santo da Misericórdia".
Eis a entrevista.
Em janeiro, o seu livro será publicado em diversas línguas, um livro-entrevista nascido de conversas com o Papa Francisco. O seu título é muito significativo e desafiador: "O nome de Deus é misericórdia". Como nasceu o projeto e qual era o seu propósito?
Sempre fiquei impressionado com a centralidade dessa mensagem no Papa Francisco. Começando por aquela primeira missa com o povo na paróquia de Sant'Anna, no domingo, 17 de março de 2013, quando, na homilia feita de improviso, comentando o Evangelho que fala da adúltera salva e perdoada por Jesus, o papa disse: "A misericórdia é a mensagem mais importante de Jesus". Assim, enquanto eu assistia ao momento em que Francisco anunciava o Jubileu da Misericórdia, eu disse que seria bom lhe fazer algumas perguntas sobre isso, tentando ir ao coração, compreender onde têm origem essa abordagem e esse olhar.
Obviamente, o livro, que vai chegar algumas semanas depois da abertura do Ano Jubilar da Misericórdia, está centrado justamente nos conteúdos desse Ano Santo. Dias atrás, você disse: o papa fala "para todas as almas, dentro e fora da Igreja". O que Francisco pode dizer no Ano Jubilar para as pessoas que pertencem a povos, culturas, tradições não cristãs? Onde está o "gancho", por assim dizer?
Há muita necessidade de misericórdia e de perdão no nosso mundo. "Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão", escrevia São João Paulo II na mensagem para o Dia Mundial da Paz publicada logo depois dos atentados do 11 de setembro de 2001. Portanto, o perdão também tem um valor social, público, até internacional. Mas eu acho que a mensagem da misericórdia fala para todas as almas, porque todos, sem excluir ninguém, precisamos nos sentir verdadeiramente amados, escutados, acolhidos como somos.
E é nesse abraço de misericórdia que nos descobrimos limitados, pequenos, necessitados de perdão. Costuma-se dizer, e com razão, que hoje se perdeu o sentido do pecado. Eu acrescentaria que também se perdeu a esperança de poder recomeçar, de poder ser continuamente pegos pelos cabelos e salvos. Essa é a grande mensagem cristã, que o papa faz reverberar para além das fronteiras e barreiras: existe um Deus que te quer bem, que te espera, que vem te buscar para te abraçar.
Depois das conversas com o papa, você teve uma ideia de por que ele colocou no centro do seu pontificado a misericórdia de Deus? Na sua opinião, qual relação o papa percebe entre o amor de Deus pelas suas criaturas e os inúmeros sofrimentos e dilacerações desses seus filhos?
A resposta para a primeira pergunta foi dada pelo Papa Francisco no primeiro Angelus, naquele domingo, 17 de março de 2013, citando a velhinha que tinha ido se confessar com ele, há pouco tempo bispo auxiliar de Buenos Aires. Aquela senhora idosa tinha dado ao futuro papa uma grande lição de teologia, que brotou da fé dos simples, daquele sensus fidei que o povo de Deus tem, e que Francisco também citou no memorável discurso para o 50º aniversário do Sínodo: "Se o Senhor não perdoasse, todo o mundo não existiria".
Sem a misericórdia de Deus, o mundo não ficaria de pé. Quanto à segunda pergunta: eu entendo que, se realmente se faz a experiência do amor de Deus na própria vida, se se experimenta a Sua misericórdia e o Seu perdão, não ficamos indiferente diante dos sofrimentos de todos os outros seres humanos. Eu penso na Madre Teresa de Calcutá e em como o seu rosto cheio de rugas representou o sorriso e a proximidade de Deus para tantos "últimos", para tantos abandonados, para tantos pobres.
Nesse "cruzamento" de amorosidades entre o Pai e os Seus filhos, que Ele criou por amor gratuito, que lugar tem a Igreja hoje e amanhã, e especialmente qual "forma" da Igreja?
A Igreja, isto é, o povo de Deus existe para levar a todos esse anúncio de amor, de proximidade, de esperança e de redenção. Ela anuncia a vitória sobre a morte de um Deus que se fez homem e aniquilou a Si mesmo sofrendo o mais infame dos patíbulos para salvar cada um de nós. E o cristianismo se difundiu graças ao testemunho de pessoa a pessoa. Não sou capaz de responder sobre qual "forma" de Igreja.
Em vez disso, eu falaria de qual "rosto": o rosto da misericórdia, da proximidade, do acompanhamento, da ternura, do encontro, do abatimento de todas as cercas, esquemas e preconceitos. Jesus, nos Evangelhos, não se encontrava com as multidões simplesmente enunciando doutrinas. Ele falava de Deus, do seu Reino e da sua misericórdia, entrando em contato com as pessoas, com os seus corações. Ele se comovia diante dos seus dramas, não ficava indiferente. O Deus cristão tem o rosto de Jesus, que se comove "até as entranhas" por nós. Parece-me que esse é o rosto autêntico da Igreja. Eu acho que é isso que significa evangelizar.
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"O nome de Deus é Misericórdia", o novo livro-entrevista com o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU