Por expulsão de madeireiros, indígenas Ka’apor bloqueiam BR-316 no Maranhão

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

03 Agosto 2015

Cerca de 100 indígenas do povo Ka’apor bloqueiam, desde as 5 horas desta quinta-feira (30), os dois sentidos da rodovia BR-316, entre os municípios de Nova Olinda e Zé Doca, noroeste do Maranhão. Os indígenas protestam contra a exploração ilegal de madeira na Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu e a morosidade nas investigações acerca do assassinato de Eusébio, liderança morta em abril a mando de madeireiros. “A polícia não dá nenhuma resposta, parece estar resguardando os suspeitos. Não intimou nenhum madeireiro a depor”, diz uma liderança.

A reportagem foi publicada pelo sítio Amazônia, 31-07-2015.

Os Ka’apor têm sido perseguidos e ameaçados cotidianamente devido às ações de vigilância e proteção territorial que promovem na TI contra a ação de madeireiros. No dia 16 de julho, uma das principais lideranças na defesa do território foi alvo de um atentado a tiros. O Estado não ofereceu nenhum tipo de proteção aos indígenas, que temem por suas vidas. “Tentamos proteger nossa terra, mas sabemos que é muito fácil pra eles nos matarem, assim como fizeram com o Eusébio, porque nada acontece. Eles seguem impunes nas suas atividades ilegais, nos ameaçando e transportando caminhões e caminhões de madeira de dentro da nossa terra”, diz uma liderança do Conselho de Gestão Ka’apor, instância administrativa organizada pelos indígenas que monitora a educação, saúde e proteção territorial.

Liderança Eusébio Ka'apor durante protesto pela proteção do território. Eusébio foi assassinado em abril e suspeitos não foram intimados

Para desocupar a rodovia, os indígenas exigem a presença do secretário de Segurança do estado, Jefferson Miler Portela, de um delegado da Polícia Civil e de um representante da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Brasília. As lideranças reivindicam ainda a instalação de postos de vigilância no território – decisão judicial de janeiro de 2014 que não foi cumprida pela Funai, Polícia Federal e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Os órgãos foram condenados pela Justiça Federal a implantar postos de fiscalização nas Tis Alto Turiaçu, Awá Guajá e Caru.

Os indígenas também pedem ações na saúde e educação, como a contratação de professores, melhoras nas estruturas dos postos e escolas e a contratação de duas Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena, para atuação nas aldeias. Os indígenas revelam que a coordenação regional da Funai é omissa e não atende as necessidades básicas nas aldeias. “Embora reconheça nosso trabalho, a Funai alega que a nossa luta não pode se resumir a pedir recursos. Se for assim, de onde conseguiremos apoio para continuar a resistência contra os madeireiros?”, queixa-se um indígena.

Os Ka’apor organizaram o protesto depois de realizarem um encontro nessa terça (28) e quarta-feira (29) no município de Presidente Médici, onde debateram estratégias para a proteção da TI. “Vamos dar continuidade ao nosso plano de trabalho para o etnomapeamento e gestão do território”, revela um membro do Conselho de Gestão. “O encontro foi um momento de compreender a realidade indígena no Brasil, especialmente a situação dos povos Guarani-Kaiowá, Munduruku, Tupinambá e Terena”, explica a liderança. Durante o encontro, o grupo leu uma carta em que o povo Munduruku demonstra solidariedade aos indígenas Ka’apor e Guarani-Kaiowá e daí surgiu a ideia de realizar intercâmbio entre os povos. “Planejamos fazer encontros com nossos parentes indígenas, para compartilhar as experiências e estarmos juntos em atividades futuras”, diz o indígena.