Por: André | 14 Abril 2015
Com uma decisão longamente aguardada, os Estados Unidos decidiram extraditar para a Espanha um militar salvadorenho de alta patente acusado de estar envolvido no assassinato dos padres jesuítas, da empregada doméstica e de sua filha, em novembro de 1989, na residência junto à Universidade Centro-Americana de San Salvador.
Fonte: http://bit.ly/1JGgT8m |
A reportagem é de Alver Metalli e publicada por Tierras de América, 12-04-2015. A tradução é de André Langer.
A resolução, sobre a qual não havia nenhuma certeza, permitirá continuar o processo contra Inocente Orlando Montano, ex-coronel e vice-ministro de Segurança, um dos 19 militares acusados de participar do planejamento de um dos últimos massacres executados antes do fim da guerra civil que ensanguentou El Salvador durante duas décadas e que terminou com os acordos entre o governo e a guerrilha em 1992.
O Departamento de Estado reconheceu, com a extradição do ex-oficial, que existem acusações fundadas contra ele que devem ser analisadas por uma corte penal e podem derivar em um processo. Por outro lado, a Justiça norte-americana documentou a responsabilidade de Montano em cerca de mil violações graves dos direitos humanos, incluindo múltiplos casos de assassinatos além do massacre dos jesuítas. Montano era o supervisor de uma rádio que alguns dias antes do massacre ameaçou de morte os jesuítas. Acredita-se que ele participou de diversas reuniões, numa das quais foi dada a ordem de matar os padres da Universidade Católica Centro-Americana sem deixar testemunhas.
Lynn Karl, professora universitária especializada no conflito salvadorenho, elaborou um relatório para a Justiça estadunidense que aponta Montano como o oficial no comando de unidades militares que assassinaram 65 pessoas e efetuaram centenas de prisões arbitrárias e torturas. A acusação contra Montano remonta a 2008, quando os familiares de algumas vítimas apresentaram a denúncia. Mas a Justiça ibérica, que decidiu intervir porque alguns assassinados eram de nacionalidade espanhola, emitiu apenas em 2011 a ordem de prisão internacional contra o oficial – que, entretanto, havia se transferido para os Estados Unidos –, porque apenas nesse ano soube-se que o militar estava preso por fraude migratória e solicitou-se sua extradição.
Montano radicou-se em Massachusetts em julho de 2001 e tentou renovar seu visto de migrante de maneira fraudulenta. Preso e processado por esta infração, que ele mesmo admitiu ter cometido, foi condenado, em 2013, a 21 meses. No decorrer do procedimento comprovou-se também que o imputado havia ocultado informações sobre seu passado militar em três sucessivas declarações nos anos 2007, 2008 e 2010. Por essa razão, durante o juízo contra ele foram ouvidas testemunhas e estudados diversos relatórios – da Comissão da Verdade de El Salvador (1993), do Barriers of Reform, dos Estados Unidos (1990), e outro documento elaborado por membros do Congresso dos Estados Unidos – que demonstravam que Montano estava envolvido em centenas de casos de violação dos direitos humanos, incluindo, precisamente, o massacre dos jesuítas da UCC.
Montano, detido em uma prisão federal dos Estados Unidos, cumprirá sua condenação de 21 meses no próximo dia 16 de abril e a extradição para a Espanha será imediata.
A hora da prestação de contas chega também para o ex-general Carlos Eugenio Vides Casanova (na foto, ao centro, de óculos), que já foi devolvido à sua terra natal, El Salvador, em um voo especial. Vides Casanova foi diretor da Guarda Nacional de 1979 até março de 1983, quando foi nomeado ministro da Defesa, cargo que ocupou até maio de 1989. Três meses depois, em 21 de agosto, transferiu-se para os Estados Unidos com um visto de imigrante e obteve a residência anos mais tarde. É acusado de “inúmeros atos de violação de direitos humanos”, entre eles tortura e assassinato.
Em 1989, depois da chacina dos jesuítas, iniciou-se um juízo contra os soldados do Batalhão de Reação Imediata Atlacatl, responsáveis pelo massacre, mas a Procuradoria Geral da República do país centro-americano não procedeu com a devida diligência contra eles para evitar – afirmam as organizações de direitos humanos – que se chegasse às altas patentes das Forças Armadas salvadorenhas.
Vides Casanova chegou na quinta-feira ao Aeroporto Internacional Dom Óscar Arnulfo Romero junto com outros salvadorenhos deportados pelas autoridades migratórias estadunidenses. A norma aplicada contra ele foi aprovada em 2004 e permite a expulsão dos Estados Unidos de quem tenha ordenado, participado ou colaborado com casos de tortura ou execuções extrajudiciais.
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Os Estados Unidos extraditam dois militares acusados pelo massacre de Ellacuría e dos jesuítas em 1989 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU