Por: Jonas | 13 Março 2015
A Igreja católica salvadorenha começou o processo de beatificação do padre jesuíta Rutilio Grande, o primeiro sacerdote salvadorenho assassinado e de cuja morte se completa, na quinta-feira, um novo aniversário.
Fonte: http://goo.gl/EyJbdN |
A reportagem é publicada por Religión Digital, 12-03-2015. A tradução é do Cepat.
Grande realizava seu trabalho pastoral em uma das regiões mais pobres do país, onde organizou as comunidades eclesiais de base, que eram vistas pelos grandes proprietários de terra da região como uma ameaça a seu poder.
“É o primeiro sacerdote de uma longa lista de sacerdotes assassinados em El Salvador”, disse o padre jesuíta José María Tojeira. Disse que também morreram um jovem e um idoso, que o acompanhavam para dar comunhão a um enfermo. Outras duas crianças sobreviveram ao ataque.
Grande, de 49 anos, foi assassinado no dia 12 de março de 1977, junto a Manuel Solórzano, de 72 anos, e Nelson Rutilio Lemus, de 16, em uma estrada rural do município de Aguilares, no norte da capital. O crime foi atribuído à Guarda Nacional, uma das forças de segurança mais repressivas, depois dissolvida.
O “padre Tilo”, como era chamado pelos seus amigos e paroquianos, era muito amigo do arcebispo Óscar Arnulfo Romero, que em breve será beatificado, após o Vaticano confirmar que o mataram por ódio à fé.
Ao tomar conhecimento dos assassinatos, dom Romero foi ao templo onde estavam os três corpos e celebrou uma missa. Para seu funeral cancelou todas as missas na arquidiocese e organizou apenas uma na catedral de San Salvador, da qual participaram mais de 150 sacerdotes e milhares de fiéis católicos. Em sua homilia, Romero apresentou Rutilio Grande como um exemplo a ser seguido por todos os sacerdotes.
Um dia depois de se reunir com os sacerdotes da Arquidiocese de San Salvador, dom Romero anunciou que não auxiliaria atividade governamental alguma enquanto o crime não fosse investigado, mas nunca houve investigação, nem foram julgados os culpados.
Monsenhor Jesús Delgado, que foi seu secretário particular e que escreveu a biografia oficial do Arcebispo mártir, disse que quando Romero se reuniu com o presidente Arturo Armando Molina (1972-1977), este lhe apresentou uma lista de 30 sacerdotes que tinham que sair do país e Romero lhe respondeu: “Os sacerdotes são intocáveis”.
Segundo Delgado, Molina disse ao Arcebispo: “aqui você sabe que a segurança nacional foi instaurada, ou se está junto com o governo ou se está contra ele, caso não se esteja com ele são comunistas, portanto, fora da lei”.
A resposta de Romero foi que não voltaria a visitar o presidente, nem se reuniria com os militares, e “a partir desse momento começa a realizar suas homilias com toda aquela análise da realidade e aproveitava para dizer ao governo que não estava de acordo”.
“O assassinato de Rutilio Grande, um padre bom, transformou-lhe”, afirmou Delgado. O general Carlos Humberto Romero assumiu a presidência da República no dia 1º de julho de 1977, mas as coisas não mudaram com o governo. O General foi deposto do cargo no dia 15 de outubro de 1979 e assumiu uma Junta Revolucionária de Governo formada por militares jovens e civis.
“A morte de Rutilio foi um golpe para (dom Romero) muito forte, era o melhor sacerdote que havia no país nesse tempo, era um grande amigo dele, não somente humanamente falando, mas também como sacerdote e para dom Romero foi um golpe moral”, disse Delgado.
De 1977 até 1989, forças de segurança, esquadrões da morte e militares assassinaram 13 sacerdotes, entre eles Romero e seis jesuítas da UCA. Também estupraram e assassinaram três religiosas norte-americanas.
Comandos urbanos da guerrilha assassinaram Francisco Peccorini, um doutor em filosofia que foi jesuíta em seus anos de juventude, mas que depois se tornou um dos maiores críticos dos jesuítas da UCA, assim como também do governo democrata cristão da época e dos movimentos de esquerda.
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Após Romero, dá-se início ao processo de beatificação de Rutilio Grande - Instituto Humanitas Unisinos - IHU