06 Fevereiro 2015
Estamos degustando lentamente e de modo grotesco o nosso compromisso para enfrentar e derrotar a infâmia do chamado califado. Estamos cedendo à vingança.
A opinião é do jornalista e escritor italiano Adriano Sofri, em artigo publicado no jornal La Repubblica, 05-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
"Nós" somos aqueles que dizem que querem debelar o mal sem trair seus próprios valores. "Nós" corremos o risco de fracassar em uma e em outra coisa. Estamos degustando lentamente e de modo grotesco o nosso compromisso para enfrentar e derrotar a infâmia do chamado califado. Estamos cedendo à vingança.
Nessa quarta-feira, o Jordan Times, a cujo país deve ir a mais forte solidariedade, pelo custo humano que paga – o suplício do seu jovem piloto oficial, os seus milhões de refugiados – e pelo papel estratégico nas fronteiras do delírio jihadista, colocava ao lado da notícia da execução de Sajida al-Rishawi e de outro terrorista condenado o relato de uma conferência internacional realizada em Amã sobre o tema "O amor e o perdão, única cura das profundas raízes do terrorismo", promovida pelo Instituto Real para as Relações entre as Fés Abraâmicas, com a participação do príncipe Hassan.
A Jordânia tinha decidido voltar às execuções capitais, depois de anos de moratória, antes da captura de Moaz al-Kaseasbeh. No entanto, o enforcamento da mulher protagonista de uma negociação falsa obedece ao automatismo da retaliação. Está provado, acima de tudo, que o IS, sobre o qual se perguntava por que visava à sua libertação, nunca se preocupou com a sua vida, mas com a sua morte.
Pode-se colocar ao lado do propósito de uma eficaz inflexibilidade contra o carrasco do IS uma compaixão por uma terrorista fracassada? Sajida, por sua vez, há dez anos, devia vingar os seus lutos tomando parte do massacre de pessoas indefesas que estavam festejando um casamento em um hotel? Errou, ou quis errar, quem sabe: depois, permaneceu durante todos esses anos em uma cela, até que o escritório de propaganda do IS a retirou para entregá-la ao carrasco.
Na conferência citada, os oradores repetiram que o perdão é um sinal de força, não de fraqueza. O governo jordaniano não acreditou que podia se permitir tal força.
No dia 29 de janeiro passado, tinha acontecido um episódio significativo em Kirkuk, depois do sangrento ataque do IS, repelido com gravíssimas perdas. Nas ruas da cidade, alguém tinha amarrado os cadáveres dos agressores aos carros e os arrastaram por aí. As fotografias rapidamente invadiram a rede. Em uma delas, um cadáver era apedrejado por uma idosa que tinha perdido um familiar no ataque. Diz-se, sem confirmação, que outras fotos mostravam cadáveres decapitados.
Alguns comentários justificavam a barbárie com a necessidade de encorajar uma população aterrorizada pelo ataque de artilharia, de franco-atiradores, de carros-bomba e de terroristas suicidas nas ruas de casa. As autoridades militares e civis curdas lamentaram o incidente e abriram uma investigação para apurar se um carro da polícia da cidade tinha participado. A presidência curda condenou "o tratamento desumano dos corpos, de quem quer que fossem e independentemente do que possam ter cometido. É insuportável que se copie desse modo a crueldade do IS".
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Quando o perdão é mais forte do que a vingança. Artigo de Adriano Sofri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU