A 100 anos do nascimento do jesuíta Zoltán Alszeghy, um teólogo original

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15 Janeiro 2015

A fecunda produção teológica do padre Zoltán Alszeghy (Budapeste, 1915 – Roma, 1991), jesuíta húngaro e professor de teologia dogmática, em grande parte publicada em italiano, caracteriza-se pela dupla assinatura com o colega Maurizio Flick, também este jesuíta. A esses dois professores da Gregoriana, muitos teólogos da geração concomitante e posterior ao Concílio Vaticano II devem a sua formação acadêmica.

A opinião é do teólogo e padre italiano Maurizio Gronkowski, professor de teologia dogmática na Pontifícia Universidade Urbaniana, em Roma, em artigo publicado no jornal L'Osservatore Romano, 14-01-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Graças ao seu decisivo impulso, a própria Associação Teológica Italiana viu o seu surgimento, em Nápoles, em 1967. O intenso compromisso acadêmico dos dois professores – especialmente na segunda metade do século passado – constituiu uma contribuição relevante para a renovação do método em teologia.

A fim de prestar homenagem a esse mestre, a 100 anos do seu nascimento, a Pontifícia Universidade Gregoriana organizou, para o dia 16 de janeiro, uma jornada de teologia dogmática. O encontro será aberto pelas palestras deste que escreve e de Dario Vitali, com intervenções voltadas a destacar as características teológico-fundamentais e cristológicas de Alszeghy.

Seguirão, depois, as palestras de professores húngaros. Ferenc Patsch irá tratar do perfil biográfico e teológico de Alszeghy, enquanto István Seszták aprofundará os aspectos antropológicos e trinitários do sacramento da penitência. A tarde será dedicada a um debate sobre o método teológico entre palestrantes e doutorandos.

O percurso intelectual do padre Alszeghy começou com a tese sobre "A teoria do amor de Deus em São Boaventura" (1946), para depois se voltar para a pesquisa em antropologia teológica em torno de alguns temas maiores, como a doutrina da graça ("Nova criatura", 1956 ; "O evangelho da graça", 1964), a criação ("O Criador", 1959; "Os primórdios da salvação", 1978), o pecado e a redenção ("O pecado original", 1972; "O sacramento da reconciliação", 1976; "O mistério da cruz", 1978 ).

Ao mesmo tempo, ele se ocupou da reformulação metodológica do tratado de antropologia ("Anthropologia theologica", 1967-1968; "Fundamentos da antropologia teológica", 1969; "O homem na teologia", 1971) e da própria teologia ("O desenvolvimento do dogma católico", 1967; "Como se faz teologia", 1974).

A amplitude dos temas investigados, a originalidade das posições assumidas em cada um deles e o intervalo de tempo da produção (antes e depois do Concílio) são suficientes para nos permitir dizer que estamos diante de uma das maiores figuras da teologia contemporânea, à qual, infelizmente, não foi reconhecido o devido mérito. Apesar da tradução dos livros em várias línguas e o longo período de ensino, a sua figura – junto com a do coirmão Flick – praticamente caíram na sombra.

No entanto, se hoje o sentido da fé cristã é capaz de reconhecer a comunidade crente como o lugar em que surge a teologia, de apreciar o primado de Cristo na Criação, de interpretar corretamente o pecado original em chave evolutiva, de entender o caráter dinâmico do dogma católico, de ler o mistério da cruz em perspectiva salvífica, tudo isso se deve à renovação teológica proposta por Alszeghy e Flick.

Através da revisão do método, graças à sua obra, foram repensados os conteúdos bíblicos e dogmáticos da fé cristã. A sua contribuição se destaca por uma originalidade à espera de ser redescoberta.

O propósito de evidenciar a contribuição de Alszeghy poderia parecer árduo, já que a maioria das suas obras são escritas a quatro mãos com Flick, sem distinção das seções entre os dois coautores. Na realidade, essa característica – além de ser um unicum na teologia do século XX e, especialmente, na Companhia de Jesus – constitui um motivo de particular interesse, pois mostra a capacidade incomum de harmonizar o pensamento e a sua expressão entre dois colegas da mesma faculdade teológica, como fruto de uma rara comunhão intelectual e espiritual.

Como confirmação do direito de reconhecer a Alszeghy a copaternidade da produção teológica de dupla assinatura – além da exposição do pensamento oferecido na sua docência, da qual muitos discípulos hoje são testemunhas –, podemos considerar uma rara e preciosa entrevista que o cardeal Angelo Amato obteve do nosso professor no dia 7 de outubro de 1989 (Ricerche Teologiche 1/1990), em que ele assumiu a responsabilidade pessoal pela reflexão e pelas perspectivas.

Particularmente em "O mistério da cruz", infelizmente não suficientemente conhecido, é expressado um pensamento não muito comum. Ao contrário, teve uma maior relevância o livro "Como se faz teologia", que contribuiu para esclarecer de modo decisivo a metodologia teológica pós-conciliar e especialmente a sistemática.

Interrogado, depois, sobre temáticas hoje de grande atualidade – como a disputa doutrinal ou pastoral do Vaticano II –, Alszeghy não hesitava em se dizer de acordo com o padre Yves Congar, que considerava o termo "pastoral" como expressão da doutrina cristã na vida do mundo contemporâneo.

Quanto à questão da salvação dos não cristãos e ao valor das religiões, ele preferia ampliar o olhar para toda a humanidade, a qual Cristo comunica a interioridade e a sua vida, chegando à perfeição da sua doação através da experiência da cruz e Ressurreição. "Essa influência, obviamente, é qualitativamente mais forte quando é veiculada pelo pertencimento também visível à Igreja, pela sua pregação e pelos seus sacramentos. No entanto, não é restrito apenas à Igreja. Lembre-se a doutrina antijansenista que afirma que também há graça fora da Igreja (cfr. Denzinger – Schönmetzer 2429). E graça significa a comunicação da vida interior de Jesus. E esse, a meu ver, é o verdadeiro significado da doutrina do Vaticano II sobre aqueles que entram em contato com o mistério pascal. (...) Jesus comunica pessoalmente a si mesmo também àqueles que não o conhecem" (ibid).

Alszeghy, mestre de teologia e de vida espiritual, que incansavelmente se entregou também ao acompanhamento de muitos jovens sacerdotes e religiosos, teve a humildade de elaborar um pensamento em diálogo com Flick, que sustentou fraternalmente até a morte, e de encorajar o crescimento da teologia italiana, em uma época de crescente colonização cultural.

Talvez, também a esses dois grandes méritos – muitas vezes não considerados como tais – se deve a negligência em relação a uma contribuição original à reflexão teológica e autenticamente eclesial que espera ser reavaliada.