18 Dezembro 2014
A multiplicação das "revoluções" bergoglianas – que misturam gestos simpáticos e escolhas de governo, posições teológicas e nomeações, atos de magistério e piadas relatadas – serve inconscientemente para ocultar o modo de ser cristão daquele cristão que é Bergoglio, o modo de ser bispo do Francisco bispo.
A opinião é de Alberto Melloni, historiador da Igreja, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII de Bolonha. O artigo foi publicado no jornal Corriere della Sera, 17-12-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A voraz máquina midiática não deixa escapar nada do Papa Francisco, que joga conosco como faria um gigantesco gato branco com os ratos do jornalismo. Dando ouvidos à mídia, deveremos estar, grosso modo, em 847 "revoluções" em 20 meses: onde "revolução" é usado para tudo o que o papa faz e diz.
Esse instinto universal dos criadores de manchetes deriva em parte da quota ordinária de papolatria que acompanha o início dos pontificados e que o próprio Francisco – quando repreendeu os jovens que gritavam o seu nome em uma das primeiras grandes audiências – só pode lamentar e suportar com a sua irônica bonomia.
Em parte, essa empolgação com tudo aquilo que o papa faz de novo ou que se diz que seja novo é fruto da amnésia coletiva contagiosa difundida pela hipertrofia das redes sociais digitais (como aquela inclinação ao patriarca em Istambul, que se tornou uma notícia fotográfica mundial, mas que era bem pouco em comparação com Paulo VI que beijou os pés do Metropolita Meliton, em um gesto do qual, no entanto, faltam os registros).
Em parte, porém, essa multiplicação das "revoluções" bergoglianas – que misturam gestos simpáticos e escolhas de governo, posições teológicas e nomeações, atos de magistério e piadas relatadas – serve inconscientemente para ocultar aquela que não é necessário que seja uma revolução para ser importante: isto é, o modo de ser cristão daquele cristão que é Bergoglio, o modo de ser bispo do Francisco bispo.
Um modo – um estilo, diria Christophe Théobald – que assume o evangelho com simplicidade, com radicalidade, com confiança.
A simplicidade é aquela que sofrem (e amam) sobretudo os teólogos: que se sentem deslocados por uma relação com o relato da fé que parece abrir mão da elaboração intelectual e teológica. O que não é tecnicamente verdade.
O Papa Francisco, de fato, não sei por que, detesta o "citacionismo": aquela contínua recorrência do superego a "auctoritates" que, quanto mais distantes e extravagantes forem, mais atraem a admiração dos incompetentes que confundem a cultura com o virtuosismo erudito.
O fato de que ele não o pratique é uma virtude: mas nele há algo mais. Um voluntário desconhecimento das fontes históricas, exegéticas, teológicas do seu discurso: que é, obviamente, alimentado por leituras muito diversas, mas que ele nunca indica, às quais ele nunca apela, para deixar que seja a palavra evangélica como tal que tome posse dos ouvintes na sua radicalidade.
Radicalidade que, ao contrário, inquieta (e fascina) os fiéis: porque a palavra de Bergoglio não é uma palavra que usa o radicalismo como um chicote para depreciar ideologicamente os vícios da modernidade ou outros sujeitos identificados com os "ismos" de memória ratzingeriana (relativismo, laicismo etc.).
Mas é uma escuta do Evangelho na sua exigência última: que lh faz usar palavras duras e claras sobre a pobreza, sobre a mansidão; ou sobre a calúnia com a dureza do superior provincial da Companhia de Jesus de uma "casa" que ele sabe muito bem que, sem uma coralidade de virtudes, verá se corromper a vida comum e o próprio objetivo da militância fraterna.
O que não agrada ao tradicionalismo ou "conservadorismo" católico, acostumado a falar mal de um "mundo" do qual se sentia distante, mas que não deixa tranquila nem mesmo aquela zona reformadora ou "progressista" que acreditava que a vida cristã fosse sacudir a cabeça sobre os males do centro e do poder, como se a corrupção destes não fosse matriz de epidemias graves.
Epidemias que requerem um uso sábio do Evangelho: sobre o qual é o episcopado que justamente se sente chamado em causa e se encontra diante de uma dificuldade (que, no entanto, é a própria razão da sua vocação) ao uso do Evangelho que Bergoglio faz.
Um uso objetivamente audaz: porque Francisco recorre à palavra bíblica com radicalidade, sem aparentes mediações e, portanto, movendo-se em um limite que normalmente intimida os bispos.
O fundamentalismo bíblico e o literalismo são uma grande patologia das Igrejas livres e pentecostais, que são hoje a ala marchante do cristianismo, em termos de conversões: é evidente que o fundamentalismo e o radicalismo bíblico pertencem a dois modos distintos e divergentes de viver a vida cristã, entre literalismo e adesão espiritual ao texto das escrituras, são tão diferentes quanto o preto e o branco. Diferentes, distintos, divergentes: mas objetivamente fronteiriços.
A "fé dos simples" – o argumento clássico que todos os repressores usaram contra a renovação da Igreja – é capaz de distingui-los? Para Francisco, sim: ele tem confiança no "sensus fidei" que lhe permite pregar o Evangelho como ele o prega e saber que ele pode ser compreendido, sobretudo por aqueles que mais precisam dele – ou seja, as pessoas marcadas e feridas por si mesmas, pela vida, por ambas.
Confiança – este é um tema que Enzo Bianchi tornou discurso comum – ou fé, como se quiser. A aposta do Papa Francisco é justamente esta: use até o fim a sua fé na confiança de que quem o ouve entenderá. Na convicção de que o seu ministério e a sua vocação não é restituir à instituição pontifícia um prestígio perdido e refundar o papismo "de esquerda", em que a tentativa de refundá-lo "de direita", em uma chave conservadora, naufragou. Mas reativar uma sede.
Uma das orações da comunidade de Taizé que o papa citou em Istambul, entrelaçando São João da Cruz e Luis Rosales, fala de um caminho feito na escuridão para a luz da única sede: a palavra de Francisco sacia e dá sede, justamente.
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As palavras simples. Artigo de Alberto Melloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU