28 Novembro 2014
O economista que se despede agora do cargo de ministro da Fazenda, que ocupou por mais de oito anos, viveu momentos de glória e de fracasso. Junto com o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, enfrentou de forma exitosa uma crise financeira internacional de grandes proporções e levou o país a crescer 7,5% em 2010, repetindo uma taxa de crescimento só vista no Brasil nos anos do chamado "milagre econômico" da década de 1970. O sucesso foi tão grande que ele projetou taxa de expansão da economia de 5,5% ao ano por um longo período.
A reportagem é de Ribamar Oliveira, publicada pelo jornal Valor, 28-11-2014.
Depois, confirmado no cargo no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, executou uma estratégia conhecida como "nova matriz econômica", que levou à atual estagnação da economia do país, com inflação elevada e desajuste das contas públicas. Durante o primeiro mandato de Dilma, a economia brasileira apresentou uma das menores taxas médias de crescimento desde a redemocratização.
O desgaste do ministro atingiu tal proporção que ele foi descartado do futuro governo pela presidente Dilma Rousseff, sem aviso prévio, durante a campanha eleitoral. Esta foi a forma encontrada pela candidata do PT à Presidência da República para indicar ao mercado que haveria mudança em sua estratégia econômica no segundo mandato.
Mantega nasceu em Gênova, na Itália, e é uma pessoa calma, gentil e incapaz de cometer grosserias. Outro traço da personalidade do ex-ministro é o otimismo, considerado excessivo por alguns, especialmente quando projeta taxas de crescimento da economia brasileira. Além disso, mesmo tendo passado quase 12 anos no governo federal, o nome de Mantega nunca esteve envolvido em escândalos.
Ele é formado em economia pela Faculdade de Economia e Administração da USP, onde fez doutorado em sociologia do desenvolvimento e depois especialização no 'Institute of Developing Countries' da Universidade de Sussex, Inglaterra.
Desde a década de 1980, Mantega é um quadro do PT, tendo participado da redação do programa do candidato Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 1989, de quem se tornou assessor econômico. Durante os dois mandatos do ex-presidente, todos sabiam que o que Mantega falava era o que Lula pensava. Quando ainda era ministro do Planejamento e presidente do BNDES, ele atacava a política monetária do BC, criticando as taxas de juros elevadas e pedindo celeridade para a sua derrubada.
A atuação de Mantega no Ministério da Fazenda pode ser dividida em duas fases. Enquanto contou com o contrapeso de Henrique Meirelles no governo, durante o segundo mandato do ex-presidente Lula, Mantega não alterou o chamado tripé econômico - que levava o governo a perseguir o centro da meta de inflação de 4,5% ao ano, a manter o câmbio flutuante e a perseguir meta de superávit primário em torno de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB).
Nesta fase, ele lutou pela expansão do crédito para a população de baixa renda, estimulando a bancarização e o crédito consignado, como parte do projeto de sustentar o crescimento da economia pela via do mercado de consumo de massas. Retomou os investimentos públicos por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com a crise financeira internacional de 2008, Mantega aumentou os gastos públicos e criou novas linhas de financiamento do BNDES aos investidores em condições favorecidas. Para sustentar essa política, usou empréstimos do Tesouro ao banco público.
Na segunda fase, já durante o primeiro mandato da presidente Dilma, Mantega reforçou a política de concessão de crédito subsidiado do BNDES aos empresários, utilizando cada vez mais empréstimos do Tesouro ao banco estatal, que chegaram ao montante de R$ 455,1 bilhões. Empreendeu uma política agressiva de desonerações tributárias, com o objetivo de dar competitividade às empresas brasileiras e estimular os investimentos privados. Aumentou também as transferência de renda às famílias. Para isso, reduziu ano após ano o superávit primário do governo federal.
Como parte da estratégia, o governo empreendeu uma forte redução da taxa real de juros, que caiu ao seu menor nível histórico. Ao mesmo tempo, o governo fez uma desvalorização forçada do real frente ao dólar para estimular as exportações. Essa política de juros baixos, câmbio desvalorizado e gasto público crescente foi chamada de "nova matriz econômica". Com a saída de Mantega e o convite a Joaquim Levy para ocupar o Ministério da Fazenda, Dilma Rousseff indica que decidiu abandonar essa política e retomar o antigo tripé econômico.
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Mantega sai da Fazenda, após fracasso da "nova matriz econômica" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU