14 Novembro 2014
O título da obra de John Meier, Um judeu marginal, é provocativo e indica um personagem que está no centro da difusão do cristianismo, mas que se situa "às margens" da sociedade política e religiosa do seu tempo.
A análise é do teólogo italiano Rosino Gibellini, doutor em teologia pela Universidade Gregoriana de Roma e em filosofia pela Universidade Católica de Milão, e republicado pelo blog Teologi@Internet, da Editora Queriniana, 13-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
"Jesus virou-se e, vendo que o seguiam, perguntou: 'O que buscam?' Eles responderam: 'Rabi (…) onde moras?' Jesus lhes disse: 'Venham e vejam'" (Jo 1, 38-39a).
Poder-se-ia citar essas palavras, que soam como um convite para a busca, também para a incessante busca do Jesus histórico, que é um capítulo criativo, dinâmico e ainda ativo dos estudos históricos, bíblicos e teológicos.
Entre os nomes mais em circulação, é preciso citar o do biblista norte-americano John Meier, autor da obra Um judeu marginal. Repensando o Jesus histórico (Ed. Imago), já publicada em quatro grossos tomos, em um total de cerca de 3.000 páginas e, agora, em fase de continuação e de conclusão.
O biblista da Notre Dame University (South Bend, Indiana) já entregou à editora Yale University Press (New Haven, Connecticut) o quinto volume, que está previsto para ser publicado em 2015 em edição inglesa e também em edição italiana – e já se pode pensar que seguirá um sexto volume conclusivo (que não exclui um sétimo volume final).
A obra é bem definida pelo subtítulo Repensando o Jesus histórico. O título, Um judeu marginal, é provocativo e indica um personagem que está no centro da difusão do cristianismo, mas que se situa "às margens" da sociedade política e religiosa do seu tempo.
Meier escreve: "O primeiro e mais importante significado que dou ao termo aplicado a Jesus sublinha a simples realidade de que, do ponto de vista da literatura judaica e pagã do século posterior a Jesus, o Nazareno foi no máximo um 'pontinho' na tela do radar. A pessoa que ia se tornar o centro religioso da civilização europeia começou tão longe, na periferia, que era quase invisível. É esse paradoxo, ao menos, que o rótulo 'marginal' pretende sublinhar para o leitor" (vol. 3, 16-17).
Meier está em busca do Jesus histórico, alcançável pelos métodos da crítica histórica, mas que não é o Jesus real (considerado na totalidade da sua personalidade) nem o Jesus teológico da cristologia, que se vale de outras metodologias legítimas.
Escreve Meier: "O que eu entendo, portanto, quando falo do Jesus histórico? O Jesus histórico é aquele Jesus que podemos recuperar ou reconstruir servindo-nos do equipamento científico da pesquisa histórica moderna aplicada às fontes antigas. Por sua natureza, o Jesus histórico é uma abstração e uma construção moderna. Ele não tem a mesma extensão da realidade completa de Jesus de Nazaré, que compreende tudo o que Jesus de Nazaré disse ou fez durante os cerca de 30 anos da sua vida" (vol. 4, 18).
O autor imagina, para esse seu trabalho "historiográfico", um conclave não papal: "Se um católico, um protestante, um judeu e um agnóstico – todos honestos historiadores competentes dos movimentos religiosos do primeiro século – fossem trancados nas entranhas da biblioteca da Harvard University School […], sem a chance de sair antes de terem elaborado um documento comum sobre quem era Jesus de Nazaré e sobre o que ele significou […]" (vol. 1, 7), Um judeu marginal é o que, segundo Meier, esse documento revelaria.
A obra foi idealizada, no início, como um único volume como Manual, mas foi pensado, e continua sendo pensado, em quatro grandes partes, mesmo que os número dos tomos se ampliam, até chegar agora, nas previsões, ao número de seis tomos.
Escreve Meier: "O desejo de uma exposição global e imparcial exigiu, portanto, mais espaço do que se pensou originalmente para esta biblioteca" (vol. 2, 7).
A biblioteca é o Anchor Bible Reference Library, que representa uma das mais importantes bibliotecas de estudos bíblicos em nível internacional.
A primeira parte principal é metodológica e corresponde à primeira parte do Vol. 1, As raízes do problema e da pessoa (1991). Nessa primeira parte do Vol. 1, As raízes do problema, dão-se todas as indicações necessárias sobre a história do problema e do método histórico-crítico praticado. Extremamente interessante, ele é uma introdução metodológica.
A segunda parte do Vol. 1, As raízes da pessoa, entra no tema, tratando sobre o nascimento, os anos do desenvolvimento e do ambiente cultural de Jesus, necessários para entender a cena na qual Jesus entrou no início do seu ministério. Essa segunda parte do Vol. 1 constitiu a segunda parte principal da discussão, dedicada ao contexto da vida de Jesus de Nazaré.
Em síntese: primeira parte: o método; segunda parte: o contexto.
A terceira parte principal se ocupa do ministério público e inclui o Vol. 2 e o Vol. 3.
O Vol. 2, Mentor, mensagem e milagres (1994), se divide em três partes. A primeira parte, sobre o Mentor, centra-se na única pessoa que exerceu a maior e singular influência sobre o ministério de Jesus, ou seja, João Batista.
A segunda parte, a Mensagem: "Toma-se a tal ponto como evidente que, no coração da mensagem de Jesus, está o símbolo-chave do 'Reino de Deus'" (Vol 2, 20).
A terceira parte é dedicada aos Milagres. A Bultmann e discípulos, que afirmam que "o homem moderno não pode acreditar em milagres", Meier responde: "Bultmann e companhia não podem vir me dizer o que o homem moderno não pode fazer, quando os dados empíricos e sociológicos provam que o homem moderno faz justamente aquilo que eles negam" (Vol. 2, 22), isto é, procuram milagres.
O Vol 3, Companheiros e antagonistas (2001), ainda pertence à terceira parte principal, sobre o ministério público. Ele se divide em duas partes. A primeira parte explora a relação de Jesus com os seus seguidores judeus (a multidão, os discípulos, os doze).
A segunda parte explora a relação de Jesus com os seus antagonistas judeus (os fariseus, os saduceus, os essênios, os qumranitas, os samaritanos, os escribas, os herodianos e os zelotas).
O Vol. 3 conclui a segunda parte principal da obra, dedicada justamente ao ministério público.
Em síntese:
Primeira parte: Método (Vol. 1)
Segunda parte: Contexto (Vol. 1)
Terceira parte: Ministério público (Vol. 2 e Vol. 3)
Com o Vol. 4, entramos na quarta parte principal: os enigmas da vida de Jesus: leis, parábolas, autodesignações, morte.
A obra se concluiria com o Vol 4, intitulado Os últimos enigmas da vida de Jesus: leis, parábolas, autodesignações, morte (Vol. 3, p. 648-649). Mas já o primeiro enigma, a lei, envolveu o autor em um denso volume, o Vol. 4, Lei e amor (2009).
No Vol. 4, seguiram-se todas as discussões de Jesus sobre a lei, escrita e oral. Meier escreve repetidamente: "O Jesus histórico é o Jesus halakhico, isto é, o Jesus preocupado e comprometido a discutir a Lei mosaica e as questões práticas que dela brotam" (Vol. 4, p. 21).
Encontrei o autor no seu escritório, enquanto, diante do seu computador, estava trabalhando sobre esse quarto volume, em 2002, durante um congresso teológico do qual eu participava na Notre Dame University, onde ele é professor de estudos bíblicos.
Ele se lamentava da lentidão do trabalho, devida a motivos de saúde, mas também à grande quantidade de referências textuais do patrimônio legal do judaísmo, que diziam respeito ao tratamento do tema: Jesus e a Lei (que não deve ser contraposto ao amor, e, de fato, o tema do Vol. 4 é formulado assim: Lei e amor).
Meier já concluiu a parte sobre o segundo enigma: o fato de Jesus falar em parábolas, e já o entregou à nova direção, que passou do célebre estudioso Dr. David Noel Freedman (que morreu em abril de 2008), junto à editora Doubleday, Nova York, ao Prof. John Collins, junto à Yale University Press, New Haven (Connecticut, EUA), que adquiriu o programa bíblico da Doubleday.
Como informa uma recente correspondência com a editora Queriniana, o Prof. Meier comunicou que o Prof. Collins avalia como "revolucionária" (revolutionary) o tratamento das parábolas e, portanto, comunica que se proceda imediatamente à edição como Vol. 5.
O autor deve adaptar-se a essa decisão editorial. O Vol. 5 é esperado para 2015 em inglês e, previsivelmente, também em italiano.
Portanto, restam os dois últimos enigmas a serem tratados no Vol. 6: a linguagem arcana das autodesignações (um termo melhor do que "títulos", ou "títulos cristológicos" de Jesus); os trágicos dias finais com a crucificação, morte e sepultamento (a ressurreição pertence ao Jesus real, mas não ao Jesus histórico); salvo depois propor um epílogo de síntese, já anunciado no Vol. 1, p. 22: "Um epílogo tentará, depois, algumas primeiras reflexões, tanto históricas quanto teológicas, sobre tudo o que veremos. Como deixarei claro naquele momento, esta obra inteira é, em certo sentido, uma introdução e um convite aos teólogos, para que obtenham desta pesquisa particular o que pode ser útil para a tarefa mais ampla da cristologia contemporânea – o que, evidentemente, este livro não aborda" (esse epílogo conclusivo, talvez, poderia ser o Vol. 7, final da obra).
O caminho ficou mais curto, mas ainda continua sendo "longo e empoeirado", como muitas vezes o autor da grande obra o define.
Na edição italiana:
Vol. 1. Le radici del problema e della persona
Biblioteca di teologia contemporanea 117
2001/2008 – Quarta edição – 472 páginas
Vol. 2. Mentore, messaggio e miracoli
Biblioteca di teologia contemporanea 120
2002/2012 – Quarta edição – 1.344 páginas
Vol. 3. Compagni e antagonisti
Biblioteca di teologia contemporanea 125
2003/2010 – Terceira edição – 736 páginas
Vol. 4. Legge e amore
Biblioteca di teologia contemporanea 147
2009 – 760 páginas
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A busca pelo Jesus histórico continua - Instituto Humanitas Unisinos - IHU