Novo partido de esquerda agita a política na Espanha

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05 Novembro 2014

Os partidos políticos tradicionais da Espanha estão buscando uma resposta à ascensão meteórica do partido insurgente de esquerda Podemos, fundado menos de dez meses atrás. Segundo as mais recentes pesquisas, o partido se tornaria o maior do país, se as eleições fossem hoje.

A reportagem é de Tobias Buck, publicada pelo jornal Financial Times e reproduzida pelo jornal Valor, 04-11-2014

Analistas advertem que a alta nas intenções de voto no Podemos pode ser uma reação intuitiva aos recentes escândalos de corrupção que sacodem o "establishment" político da Espanha. Mas destacam também que o partido demonstrou uma capacidade de resistência muito maior que o previsto pelos céticos - e que tende a despontar como adversário forte dos dois partidos tradicionais nas eleições gerais do ano que vem.

"As pessoas estão reagindo à situação política atual, em vez de pensar no próximo governo. Há uma enorme volatilidade nas pesquisas. Mas o Podemos está, no momento, muito consolidado como um partido viável", disse o analista político José Fernández-Albertos, do Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha, em Madri.

O mais recente sinal da crescente atratividade do partido surgiu no domingo, quando uma pesquisa do jornal "El País" situou o Podemos à frente do conservador Partido Popular (PP), governista, e dos socialistas, hoje na oposição. A pesquisa revelou que a adesão ao Podemos saltou de 13,8%, em outubro, para 27,7% em novembro. O apoio ao PP despencou de 30,2% para 20,7%, o que coloca o partido do premiê, Mariano Rajoy, em terceiro lugar, atrás dos socialistas.

Os líderes do PP têm se mantido, até agora, bastante confiantes diante da ascensão do Podemos. Eles argumentam que o novo partido é muito mais ameaçador para os socialistas, de centro-esquerda, do que para o direitista PP. Esse ponto de vista tende a ser revisto na esteira das últimas pesquisas, que sugerem que os efeitos do Podemos podem ir mais longe do previsto pelos estrategistas do PP.

"O que fica evidente é que a população encontrou no Podemos uma alavanca para mobilizar os políticos e lhes enviar o recado de quanto está insatisfeita", disse José Ignacio Torreblanca, diretor do escritório de Madri do Conselho Europeu de Relações Exteriores. "Mas a grande interrogação é se isso é, em última instância, uma questão pluripartidária ou uma coisa que só afeta a esquerda."

A secretária-geral do PP, Dolores de Cospedal, buscou ontem mostrar compreensão com a onda de fúria popular contra a corrupção, mas alertou que "a Espanha não pode se tornar um caldo de cultura para o populismo".

Comandado por Pablo Iglesias, de 36 anos, um carismático professor universitário de ciência política, o Podemos foi criado em janeiro deste ano. Defende uma maciça reforma do sistema político, o lançamento de uma renda básica, financiada pelo governo, para todos os cidadãos, uma semana de 35 horas de trabalho e o controle público de setores "estratégicos" da economia. O programa do Podemos propõe impedir empresas lucrativas de demitir funcionários e dar aos parlamentos dos países da UE poder de controle sobre as políticas do Banco Central Europeu.

O partido ganhou destaque após conquistar cinco assentos e 8% dos votos nas eleições europeias deste ano.