30 Outubro 2014
Gianni Valente, colaborador do sítio Vatican Insider, ofereceu a sua reflexão sobre o recente Sínodo ao sítio Il Sismografo, 27-10-2014, em resposta a esta pergunta: "Sem entrar em complexos aprofundamentos, qual a característica ou reflexão que mais lhe chamou a atenção ou que você considera de notável relevância desse Sínodo?". A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a resposta.
1) Do último Sínodo, chamou-me a atenção a sua incompletude. Condição que fala de uma Igreja em busca, a caminho. Que entrou "em paciência", para usar uma expressão do Papa Francisco ("Isso significa suportar, carregar sobre as costas o peso das dificuldades, o peso das contradições, o peso das tribulações", homilia na capela de Santa Marta, 7 de maio de 2013).
Uma Igreja que não apareceu absorvida somente pelo cuidado de confeccionar seguros macacões anti-Ebola, para que a Verdade não seja contaminada, mas, ao contrário, tencionada a encontrar novos caminhos, para que essa Verdade encontre os homens e as mulheres assim como são. Na condição em que se encontram. Sem precauções demais. Buscando o contato, o "corpo a corpo" com suas vidas concretas.
Assim, implicitamente, o Sínodo dos bispos voltou a sugerir que a salvação prometida pelo cristianismo é transmitida sacramentalmente, pelos gestos que o Senhor opera hoje, e não como se transmitem as ideias, as opiniões, os princípios. O dinamismo com o qual a Igreja vive e se move é um dinamismo sacramental, em que toda mudança real na vida dos fiéis tem a sua fonte na graça. Essa percepção do mistério da salvação também representa a verdadeira origem da solicitude mostrada em torno da questão da eucaristia e do confessionário aberto para os divorciados em segunda união, a ser avaliada caso a caso e sob certas condições, que representou o ponto mais discutido do debate sinodal. A confiança nos sacramentos como gérmens reais de mudança e de salvação nas vidas agredidas dos homens prevalece sobre o cômputo dos requisitos.
2) Outra característica a registrar é que todo o caminho sinodal, para além de toda redução "parlamentarista" e de toda emboscada ou manobra e preconceitos, confia-se a uma aposta: a aposta confiante de que o Sínodo só pode seguir em frente e alcançar a sua meta se ainda existe o Povo de Deus – pastores e fiéis –, guiado infalivelmente pelo sensus fidei, que o livre e imunize tanto das lisonjas e das pressões do pensamento único veiculado pela mídia dominante, seja da ditadura dos círculos clerical-midiáticos que, nas últimas décadas, pretenderam ditar leis dentro do corpo eclesial a partir de posições de poder, adquiridas pela cooptação com base ideológica: pequenos Santos Ofícios virtuais, sempre à caça do "inimigo" interno, o católico traidor que se desviou da sã doutrina, que tinham tomado gosto por gerir pequenas e grandes operações de política eclesiástica.
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Existe ainda o Povo de Deus, guiado infalivelmente pelo sensus fidei? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU