16 Junho 2014
Suíço de Emmenbrücke (Lucerna), onde nasceu no dia 15 de março de 1950, Kurt Koch (foto abaixo) está há quase quatro anos à frente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos (e também da Comissão para as Relações Religiosas com o Judaísmo).
A reportagem é de Giuseppe Rusconi, publicada no sítio Rosso Porpora, 14-06-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ex-bispo de Basileia por 15 anos, criado cardeal no dia 20 de novembro de 2010, Koch é um dos purpurados mais apreciados pelo papa e acompanhou perto dele a visita à Terra Santa entre os dias 24 e 26 de maio passado, que se concluiu de facto com a invocação pela paz realizada nos Jardins Vaticanos no domingo, 8 de junho.
Encontramo-lo no seu escritório na Via della Conciliazione para uma entrevista sobre os últimos acontecimentos e também sobre as relações com aquela parte da ortodoxia mais zelosa das suas prerrogativas e, de facto, interlocutora não raramente hostil no diálogo ecumênico: o Patriarcado de Moscou.
Eis a entrevista.
Eminência, comecemos pela recente viagem apostólica do Papa Francisco à Terra Santa. Qual o objetivo, do ponto de vista ecumênico? Objetivo alcançado?
O primeiro objetivo da viagem era o encontro com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I, em lembrança do histórico abraço de 50 anos atrás na Terra Santa entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Ecumênico Atenágoras. O objetivo foi plenamente alcançado, e disso seguiram-se muitos bons frutos.
Muitos bons frutos: quais?
Sobretudo, o aprofundamento do "diálogo da caridade". Para mim, acima de tudo, foi muito importante e positivo que tenha sido possível rezar todos juntos na Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém. Essa igreja sempre foi um sinal visível da divisão entre os cristãos...
Lembramos brigas indecorosas entre monges de confissão diferente por razões de "território" e "tarefas" codificadas para cada uma delas...
Finalmente, por uma vez, foi possível que os cristãos de Jerusalém rezassem todos juntos. Não era algo tão óbvio! E isso é um bom presságio para o futuro da unidade dos cristãos... foi um momento também muito comovente!
Antes, o senhor citou o "diálogo da caridade", como uma forma de colaboração com o mundo ortodoxo.
Distinguimos entre "diálogo da caridade" e "diálogo da verdade": este último diz respeito à discussão teológica sobre os temas da doutrina. O primeiro implica a construção e o desenvolvimento de relações fraternas de amizade e de reconhecimento. Especialmente entre Constantinopla e Roma, já existe uma consolidada tradição de visitas recíprocas. Uma delegação ortodoxa de alto nível vem a Roma para a festa de São Pedro e São Paulo. Eu lidero a delegação vaticana a Constantinopla para a festa de Santo André. O patriarca, além disso, participou da entronização do Papa Francisco e também estava presente no domingo passado na Invocação pela Paz na Terra Santa, realizada nos Jardins Vaticanos. Deve-se somar a isso a disponibilização de igrejas: em Roma, por exemplo, São João Paulo II deu a igreja de São Teodoro al Palatino.
Na coletiva de imprensa no avião de Tel Aviv para Roma, o Papa Francisco evocou uma frase que Atenágoras disse a Paulo VI há meio século, cuja veracidade foi confirmada por Bartolomeu: "Vamos juntos, tranquilos, e coloquemos todos os teólogos em uma ilha, que discutam entre si, e nós caminhemos na vida". Entre as questões sobre as quais se continua a discutir – mas que permanecem sem solução – encontramos a do primado do bispo de Roma: nas palavras do Papa Francisco na Basílica do Santo Sepulcro, é preciso "manter um diálogo com todos os irmãos em Cristo, para encontrar uma forma de exercício do ministério próprio do bispo de Roma, que, em conformidade com a sua missão, se abra a uma situação nova e possa ser, no contexto atual, um serviço de amor e de comunhão reconhecido por todos".
São João Paulo II, na encíclica Ut unum sint, já pedira que todas as Igrejas entrassem em diálogo sobre a práxis do primado do bispo de Roma, que deve ser entendido não como obstáculo, mas como ajuda para o ecumenismo. Bento XVI confirmou tal abordagem já na primeira visita a Constantinopla, e o Papa Francisco continua nesse caminho. Penso que a Comissão Internacional Mista para o diálogo teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas deu um grande passo com o documento de 2007, em que se reconhece que sinodalidade e primado são sempre interdependentes. Hoje, estamos diante de um grande desafio: o de concretizar tal assunto. É uma tarefa árdua, em todo caso.
O Patriarca Bartolomeu é um primus inter pares em âmbito ortodoxo e está muito bem disposto em relação à Igreja Católica. Mas não podemos esquecer que a ortodoxia tem um polo muito importante também em Moscou. O senhor esteve em Moscou em meados de dezembro passado e encontrou-se tanto com o patriarca de todas as Rússias, Kirill, quanto com o Metropolita Hilarion, "ministro das Relações Exteriores" do patriarcado. Passaram-se poucos meses desde esses encontros, mas, enquanto isso, aconteceram fatos relevantes, principalmente na Ucrânia, com repercussões também nas relações religiosas. Em que ponto estamos hoje nas relações religiosas entre Roma e Moscou?
Na resposta, considero vários aspectos do problema. Em nível teológico, o diálogo é feito com todas as Igrejas ortodoxas, e, portanto, não é bilateral, mas multilateral. Na Comissão Internacional, estão presentes 14 Igrejas ortodoxas. E aqui surge um grande problema, porque, no final de dezembro passado, o Patriarcado de Moscou publicou uma declaração oficial sobre a questão do primado, que contrasta com o Documento de Ravena e com as teses da Comissão Internacional. Você vai entender que, sobre tal assunto, continuar o diálogo torna-se difícil hoje. Em nível de relações pessoais, posso observar que o Patriarca Kirill aponta sobretudo para a aliança pela defesa dos valores cristãos na Europa. Como diz o Metropolita Hilarion, "precisamos de uma colaboração cultural e social". É importante, mas isso não pode, por si só, constituir uma alternativa para o diálogo teológico tão atormentado.
Nesse contexto, há anos, fala-se de um desejado encontro de cúpula entre o papa e o patriarca de todas as Rússias. João Paulo II, nesse caso, teve a "desvantagem" de ser polonês. Com Bento XVI, alemão, parecia possível se aproximar do encontro, mas a história decidiu de outra forma. Com Francisco, argentino de grande talento nos contatos ad personam, diplomático do sorriso e do abraço, o senhor pensa que finalmente se pode concretizar tal desejo, mesmo que em circunstâncias históricas menos favoráveis?
É claro que o Papa Francisco deseja, quer o encontro e não coloca nenhuma condição. As dificuldades vêm de Moscou e hoje se agravaram com a crise na Ucrânia.
A posição clara tomada pela Igreja greco-católica ucraniana ao lado dos insurgentes hoje no poder certamente não agradou muito a Moscou... Durante o Fórum Católico-Ortodoxo Europeu realizado em Minsk, no dias 2 a 6 de junho, o Metropolita Hilarion foi muito duro: "As declarações agressivas dos uniatas [os greco-católicos ucranianos], as ações destinadas a minar a ortodoxia canônica, os contatos ativos com os ortodoxos dissidentes (...) causaram uma perda enorme não só para a Ucrânia e os seus habitantes, mas também para o diálogo católico-ortodoxo. Tudo isso nos levou muito para atrás, recordando os dias em que os católicos e os ortodoxos não se sentiam aliados, mas rivais".
O Metropolita Hilarion recentemente também disse que, neste momento, um encontro com o papa não é realmente possível. Além disso, eu tenho que notar que nem mesmo a opinião dos ortodoxos ucranianos é tão homogênea. Por exemplo, foram publicadas por Kiev duas cartas abertas ao Patriarca Kirill e a Putin: e o seu conteúdo não é tão diferente daqueles expressados pelos greco-católicos ucranianos... Em suma, os ortodoxos na Ucrânia também estão divididos em relação a isso, e não corresponde à realidade a defesa de que só os greco-católicos criam problemas para o Patriarcado de Moscou.
Eminência, poucos dias depois da viagem à Terra Santa, o senhor esteve naquela Síria em que as milícias muçulmanas jihadistas (que objetivamente deram força às ajudas concretas fornecidas aos rebeldes anti-Assad, em particular da Arábia Saudita, Turquia, Estados Unidos, Grã-Bretanha, França) se enfurecem contra os cristãos. Sobre a questão síria e sobre a proteção dos cristãos no Oriente Médio (veja-se também o que está acontecendo nestas horas no Iraque "pacificado" à la americana) nos últimos meses, desenvolveu-se uma boa colaboração entre a Igrejas Católica e as Igrejas ortodoxas, incluindo o Patriarcado de Moscou.
Ali, em particular, temos uma longa tradição de colaboração com a Igreja Ortodoxa Siríaca – uma das mais antigas do OrienteMédio – e de grande proximidade com o Patriarca Ignatius Zakka Iwas I, que liderou a Igreja que tem mais de dois milhões de membros de 1980 a março deste ano, quando morreu. Ignatius Zakka Iwas I foi uma figura de destaque para o movimento ecumênico, sempre teve uma grande abertura em relação à Igreja Católica e também participou como observador no Concílio Vaticano II. Para mim, era muito importante participar da entronização do seu sucessor, o Patriarca Ignatius Aphrem II.
A cerimônia foi realizada em Damasco?
A poucos quilômetros de Damasco, por razões de segurança. Eu queria estar lá também para mostrar proximidade e solidariedade neste momento à Igreja Ortodoxa Siríaca e a todo o povo sírio, tão duramente provado pela guerra que enfurece sobre o território martirizado. Senti uma grande alegria ao ver o novo patriarca e, ao mesmo tempo, senti uma grande dor pelos sofrimentos a que os sírios são submetidos. Também registrei com satisfação uma forte presença do mundo ecumênico na entronização: acho que a colaboração intensa entre as Igrejas cristãs pode ser de grande ajuda nas trágicas circunstâncias atuais. As Igrejas não estão unidas teologicamente, mas certamente estão unidas no ecumenismo da caridade, necessário para sobreviver. A unidade de ação pode aliviar os sofrimentos.
No seu discurso na Basílica do Santo Sepulcro, o Papa Francisco disse, dentre outras coisas – e achamos que isso também vale em grande medida para o que está acontecendo na Síria: "Aqueles que, por ódio à fé, matam, perseguem os cristãos, não lhes perguntam se são ortodoxos ou se são católicos: são cristãos. O sangue cristão é o mesmo". Ainda sobre o tema das relações com o mundo ortodoxo, o Papa Francisco, durante a coletiva de imprensa no avião de Tel Aviv a Roma, se referiu a alguns dos conteúdos das suas conversas com o Patriarca Bartolomeu, citando, dentre outras coisas, a questão da data da Páscoa: "É um pouco ridículo: 'Diga-me, quando o teu Cristo ressuscita?' 'Na semana que vem.' 'O meu ressuscitou na semana passada'". Para além do tom um pouco irônico do papa, a questão não é tão banal. Em sua opinião, será possível chegar em breve à unificação das datas da Páscoa para católicos e ortodoxos?
Eu não sou um profeta. Mas seria bom se os cristãos se encontrassem unidos no mesmo dia para reviver o principal e fundamental festa do cristianismo. A vontade de unificar a data está presente em muitos ambientes cristãos. Também em muitos ortodoxos. Mas eu acredito que os ortodoxos podem tratar da questão no próximo Sínodo pan-ortodoxo.
Há alguma grande dificuldade teológica para se encontrar uma data única?
Não, acho que as dificuldades estão mais ligadas a problemas práticos.
Passemos para o fim de tarde do domingo passado nos Jardins Vaticanos, para a Invocação pela Paz na Terra Santa. Por que o Patriarca Bartolomeu também estava presente?
A Invocação estava previsto para a Terra Santa, durante a visita do Papa Francisco e, evidentemente, também com a presença do Patriarca Bartolomeu I. Não foi possível: encontrar um lugar neutro de encontro revelou-se uma árdua tarefa. Por isso, pensou-se em Roma. E assim aconteceu, e foi um evento muito importante e encorajador para todos. Eu acredito que a força da oração e a ação poderosa do Espírito Santo podem abrir espaço para desenvolvimentos novos e positivos – que nós, por enquanto, não podemos prever nem nos tempos, nem nos conteúdos – para a concretização de uma verdadeira paz na Terra Santa.
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''Um encontro entre Francisco e Kirill? Moscou dificulta.'' Entrevista com Kurt Koch - Instituto Humanitas Unisinos - IHU