20 Mai 2014
No "jardim multicolorido do Senhor, há espaço para todas as multidões". Palavra de Christoph Schönborn, que falou nesse domingo sobre o caso que está abalando a Áustria. O influente cardeal de Viena escreveu na sua coluna regular no jornal Heute que "nem todos os que nasceram homens se sentem também homens, e o mesmo pode valer também para as mulheres. Eles merecem o nosso respeito, assim como todos os outros seres humanos". A referência a Conchita Wurst, a drag queen que venceu com grande margem o Eurovision Song Contest, é explícita.
A reportagem é de Tonia Mastrobuoni, publicada no jornal La Stampa, 18-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O ponto crucial da aceitação, que o artista teria levado para o palco da competição de canto mais popular da Europa, "é um grande tema, um tema real", segundo Schönborn, especialmente para pessoas como Wurst, forçadas a sofrer injustiças, discriminações e malícias.
"Tolerância", observou, significa "que é preciso respeitar as pessoas, mesmo que não se respeitem as suas opiniões". Por isso, o cardeal está "contente" com "Thomas Neuwirth, que, com seu nome artístico Conchita Wurst, teve tamanho sucesso".
A declaração é sensacional, mas reflete o clima transversal de euforia que se respira no país desde que a drag queen de 25 anos varreu o Eurovision. E não apenas porque a Áustria não vencia há décadas a competição de canto, que não se destaca exatamente pela qualidade, mas é muito seguida principalmente no Norte e no Leste da Europa.
As pesquisas do "meinungsraum" dizem que 80% dos austríacos estão "orgulhosos" com Conchita Wurst e pensam que ela é um "elemento positivo para a reputação do país". Deve-se notar, porém, que até a noite da vitória, sempre havia uma maioria de austríacos que tinha uma opinião positiva sobre o artista, mas menor: 60%. Entre o "antes" e o "depois", também diminuiu o número daqueles que "não estão orgulhosos" com a drag queen: de 46% a 29%.
Pesquisas que devem ser analisadas com cuidado, no entanto. E que colidem, por exemplo, com aquelas que tentam ir um pouco mais a fundo do que a simples simpatia por Conchita Wurst. Apenas 32% dos austríacos apoiaria o próprio filho se ele fosse uma drag queen ou um drag king. Cerca de 16% até mesmo tentaria impedi-lo.
Enquanto isso, sem dúvida, Conchita Wurst forneceu um impulso positivo para a política. A prefeitura de Viena está pensando em promover iniciativas anti-homofobia, enquanto os Verdes e os social-democratas estão pedindo uma extensão dos direitos para os homossexuais.
Nessa terça-feira, a artista será esperada para uma recepção na chancelaria, onde o chefe de governo, o social-democrata Werner Faymann, irá acolhê-la, juntamente com o ministro da Cultura.
Entre as muitas pessoas que enviaram suas saudações à cantora, de Beckenbauer a Elton John, também está até mesmo o líder da direita populista FPÖ, Heinz-Christian Strache. Na sua página no Facebook, ele escreveu que, "apesar das opiniões diferentes que se possam ter sobre a artista, faço os meus melhores votos para Tom Neuwirth, conhecido como Conchita Wurst, pela vitória no Eurovision Song Contest".
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Cardeal abençoa Conchita: ''Ela merece respeito'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU