Por: André | 28 Abril 2014
E é também muito polêmico com o Islã. É o egípcio Yoannis Lahzi Gaid. Uma crítica do cardeal Kasper ao Papa. Dois inesperados retornos na Congregação para os Religiosos.
Fonte: http://bit.ly/1mM6xvr |
A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio Chiesa, 23-04-2014. A tradução é de André Langer.
O Papa Francisco tem um novo secretário particular. Chama-se Yoannis Lahzi Gaid. É um padre egípcio, do rito copta, pertencente ao serviço diplomático vaticano. Personagem com um currículo fora do comum. Autor, no passado, de declarações muito críticas sobre o Islã.
Gaid ocupa o lugar do maltês Alfred Xuareb, que o pontífice herdou há um ano de Bento XVI e a quem agora destinou para o cargo de prelado secretário da nova Secretaria de Assuntos Econômicos. Acompanha o outro secretário particular do Papa, o argentino Fabián Pedacchio Leániz, que mantém também o papel de funcionário da Congregação para os Bispos.
A escolha de Gaid, como é em geral a dos secretários particulares, ao não ser uma nomeação formal, não foi publicada de forma oficial. O primeiro a dar a notícia, na semana passada, foi o sítio Vatican Insider.
Gaid, nascido em 1975, frequentou a Pontifícia Academia Eclesiástica e em 2007 entrou no serviço diplomático da Santa Sé. Inicialmente destinado para a Nunciatura de Brazzaville (Congo), ficou ali menos de três anos. Em março de 2010, foi transferido para a Nunciatura do Iraque e Jordânia, mas ali sua permanência foi muito breve. Com efeito, em julho de 2011 foi destinado para a representação pontifícia de Nova Delhi, mas antes que a transferência para a Índia se efetivasse foi retido na primeira seção da Secretaria de Estado, em um cargo de pouca importância, a das distinções honoríficas, habitualmente reservado ao pessoal não diplomático.
Mas Francisco pôde apreciá-lo, tanto como seu inquilino na residência da Santa Marta, como intérprete durante os encontros com os interlocutores de língua árabe. Gaid é também o prelado que durante as audiências gerais das quartas-feiras dirige as saudações na língua do Corão.
O novo secretário do Papa teve entre seus admiradores o seu conterrâneo egípcio Magdi Cristiano Allam, jornalista e escritor muçulmano convertido ao cristianismo e batizado no dia 22 de março de 2012 em São Pedro pelo Bento XVI. Além disso, tornou-se, há algum tempo, muito crítico em relação a uma Igreja que, na sua opinião, é muito complacente com o Islã.
Em seu livro “Grazie Gesù. La mia conversione dall’Islam al cattolicesimo”, publicado pela Mondadori no ano do seu batismo, Allam escreveu a propósito de Gaid:
“Uma menção particular merece o padre Yoannis Lahzi Gaid, egípcio, durante anos vigário da Igreja de Santa Domitila, em Latina, e atualmente secretário da Nunciatura Apostólica no Congo-Brazzaville. Conheci-o em Roma depois que, durante anos, me havia expressado sua amizade e sua solidariedade. Como profundo conhecedor da realidade do Islã tal como é efetivamente na mente e nos corações da maioria dos muçulmanos, e não como alguns mistificadores e dissimuladores querem aprsentá-lo, eles que se riem da ignorância, da ingenuidade, do angelismo e da colusão ideológica do Ocidente, o padre Yoannis compartilha plenamente das minhas posições sobre o Islã e esteve fraternal e cristãmente próximo a mim nos momentos em que o vendaval midiático, orquestrado de forma instrumental no dia seguinte à minha conversão para desacreditar-me e difamar-me, chegou ao seu apogeu”.
Neste sentido, Allam citou uma entrevista de 31 de março de 2008 na qual Gaid afirmava: “Busquei ser sempre o amigo que respeita a religião diferente do outro sem ter medo de dizer a verdade ou de destacar que o cristianismo é um apelo à liberdade. E quando Magdi me perguntava sobre os coptas do Egito, eu não escondia as imensas dificuldades que os cristãos vivem em lugares onde a maioria é muçulmana. Uma dificuldade que não provém de alguns integristas, mas de uma cultura de morte e de violência baseada em frases bem claras que citam e incitam à violência e à jihad, isto é, a matar todos aqueles que são diferentes, a matar a liberdade de consciência. Basta pensar diferente para ser condenado à morte”.
Em 2010, além disso, depois da chacina do ano novo na igreja dos Santos, em Alexandria (Egito), Gaid respondeu publicamente às declarações do Grande Imã da mesquita de Al-Azhar, que havia condenado como uma interferência nos assuntos internos do Egito as palavras de Bento XVI no Angelus do domingo, 02 de janeiro. Foi uma declaração que assinalou a ruptura, por parte egípcia, do diálogo entre a Al-Azhar e o Vaticano, reativado a duras penas apenas recentemente.
Gaid expressou essa crítica, obviamente, não na qualidade de diplomata vaticano, mas a título pessoal no sítio da Igreja Católica de Alexandria (Egito), amplamente replicada por outros meios de comunicação em todo o mundo.
Gaid, assim como o outro secretário Pedacchio Leániz, continuará a exercer o cargo que até agora havia ocupado. Uma confirmação suplementar do fato de que, sob Francisco, e voltamos nisso aos tempos de Pio XII, os secretários particulares do Papa não têm mais um papel tão importante quanto tiveram nos últimos pontificados, desde João XXIII até Bento XVI.
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No que diz respeito aos serviços das distinções honoríficas, onde o novo secretário particular do Papa continua trabalhando, nota-se que com o Papa Francisco seu volume de trabalho foi sensivelmente reduzido.
Mas não cessou de todo. É o que prova o último fascículo das Acta Apostolicae Sedis, o boletim oficial da Santa Sé, onde são publicados os nomes dos primeiros beneficiados com cargos honoríficos deste pontificado.
Os leigos condecorados são muitos: mais de 140 os homens e mais de 20 as mulheres. Na lista há ex-embaixadores e diplomatas, guardas suíços e policiais pontifícios, benfeitores e benfeitoras, e também políticos, como o democrata-cristão italiano Luca Volonté, que foi condecorado com placa da Ordem de São Gregório Magno, e o político trabalhista australiano Ronald Joseph Mulock, condecorado com a mesma insígnia, mas sem placa.
Pelo contrário, são pouquíssimos os clérigos, e todos empregados da cúria romana ou do serviço diplomático, respeitando assim as novas limitações papais, divulgadas pela Rádio Vaticano em janeiro passado.
A título de comparação, nos últimos meses de João Paulo II, os eclesiásticos condecorados com o título de monsenhor foram mais de 200. Ainda mais foram os condecorados na fase final do pontificado de Joseph Ratzinger, com documentaos de nomeação datados até 25 de fevereiro de 2013, ou seja, até quase o dia da renúncia como Papa.
Para informação, os últimos “protonotários apostólicos supranumerários” condecorados no pontificado de Bento XVI, com data de 22 de fevereiro, são o australiano Harry Entwistle, desde 2012 guia do ordinariato pessoal local para os anglicanos que entraram na Igreja católica, o estadunidense P. Edward Sadie, da diocese de Wheeling-Charleston e o curial vicentino Luigi Cerchiaro.
Ao passo que os últimos “prelados de honra” são dois sacerdotes do ordinariato militar das Filipinas (Albert Corralejo Sonico e Rubén Dina Espeno), um alemão do clero de Bamberg (Georg Kestel), dois italianos da diocese de Piazza Armerian (Rosario La Delfa e Vincenzo Murgano), um húngaro da diocese romena de Alba Iulia (Ferenc Potyo) e o subsecretário da segunda seção da Secretaria de Estado, o maltês Antoine Camilleri.
Até o dia 30 de setembro de 2013, ao contrário, o Papa Francisco nomeou somente um prelado de honra (o pulês Vincenzo Francia, membro da Congregação para a Causa dos Santos) e apenas cinco capelães da Sua Santidade: dois diplomatas (o italiano Andrea Francia e o maronita libanês Simon Kassas) e três curiais (o espanhol José Jaime Brosel Gavila, o croata Zvonimir Sersic e o polonês Albert P. Warso).
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O Papa Jorge Mario Bergoglio manifestou muitas vezes sua estima pela teologia do cardeal Walter Kasper, a quem – não por acaso – escolheu como relator único no último consistório, elogiando-o publicamente por sua intervenção sobre a comunhão aos divorciados recasados.
Mas, em uma entrevista, o cardeal alemão disse algo que não concorda em absoluto com o comportamento do atual Papa:
“O bispo é um pastor. A consagração episcopal não é uma condecoração, é um sacramento, remete à estrutura sacramental da Igreja. Por que então é necessário um bispo para realizar as funções burocráticas? Aqui, me parece, corre-se o risco de abusar dos sacramentos. Nem sequer o cardeal Ottaviani, histórico secretário da Congregação para o Santo Ofício, era bispo. O foi depois, com João XXIII”.
Com efeito, foi com o Papa Angelo Roncalli que começou a prática de elevar ao episcopado dignitários curiais que até a época de Pio XII permaneciam como simples sacerdotes.
Essa prática foi continuada também nos pontificados posteriores, inclusive o atual.
Com efeito, no ano passado o Papa Francisco elevou ao episcopado dois eclesiásticos cujas funções, em si, não o requerem: o secretário geral do Governadorado do Estado da Cidade do Vaticano, Fernando Vérgez Alzaga, e o reitor da Universidade Católica de Buenos Aires, Víctor Manuel Fernández.
E a estes dois, também depois da entrevista de Kasper contra o “abuso dos sacramentos”, acrescentou um terceiro: o novo subsecretário do Sínodo dos Bispos, mons. Fabio Fabene.
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Na próxima semana, se reunirá para a quarta sessão plenária o Conselho dos oito cardeais escolhidos por Francisco para ajudá-lo no governo da Igreja e na reforma da cúria.
Enquanto isso, o Papa Bergoglio confirmou em suas funções os dirigentes e os membros da Congregação para os Religiosos e dos Pontifícios Conselhos para a Cultura e para o Diálogo Inter-religioso.
No que se refere à Congregação para os Religiosos, o pontífice procedeu a uma robusta injeção de novos membros, tanto cardeais como simples bispos.
Entre estes últimos, os novos ingressos mais curiosos são os do franciscano conventual italiano Gianfranco A. Gardin, desde dezembro de 2009 arcebispo-bispo de Treviso, e do redentorista estadunidense Joseph W. Tobin, desde outubro de 2012 arcebispo de Indianápolis.
Ambos foram secretários do mesmo dicastério, mas sem terminar, por diferentes motivos, os cinco anos do respectivo mandato, e depois foram transferidos para dioceses que não são de primeiríssimo plano.
Do primeiro, Gardin, se disse que teve desencontros com as irmãs beneditinas que nessa época moravam no Vaticano, no mosteiro Mater Ecclesiae, consideradas por ele muito tradicionalistas no campo litúrgico.
Enquanto que do segundo, Tobin, se escreveu que havia sido “impugnado” pelos cardeais dos Estados Unidos – curiais ou não – que o consideravam muito dócil com as religiosas americanas submetidas à visita canônica do dicastério por suas posições ultra progressistas.
Hoje, o mosteiro de clausura Mater Ecclesiae, que foi convertido na residência do Papa emérito, já não existe mais. E da visita apostólica às religiosas estadunidenses perdemos as pistas.
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Francisco tem um novo secretário. Que fala árabe - Instituto Humanitas Unisinos - IHU