16 Abril 2014
Uma das mensagens mais fortes do estudo do IPCC é que é preciso haver uma transição energética rápida e forte rumo a tecnologias de baixa emissão de carbono. A era dos combustíveis fósseis pode estar acabando. "As mudanças que a mitigação exige na economia serão enormes", diz o alemão Ottmar Edenhofer, co-presidente do WG III, o grupo de cientistas responsável pelo relatório. "Mas mesmo que o estudo ainda não traga um número específico, não custa muito para salvar o planeta".
A reportagem é de Daniela Chiaretti, publicada pelo jornal Valor, 14-04-2014
O sumário para formuladores de políticas tem 33 páginas. Sua base são 16 capítulos e três anexos do relatório "Mudança Climática 2014: Mitigação" feito por 235 autores de 57 países e centenas de contribuições. É o que existe de mais elaborado, mais denso e mais atual estudo científico sobre a concentração de gases-estufa no mundo hoje e o que precisa ser feito imediatamente.
As mensagens foram claríssimas. As emissões de gases-estufa atingiram níveis sem precedentes e as políticas atuais são absolutamente insuficientes. A queima de combustíveis fósseis no transporte, na energia e nas indústrias responde por 80% deste aumento. O uso do carvão se intensificou pela queda de preço.
O estudo diz que, ainda assim, é possível tentar manter o aumento da temperatura da Terra em 2º C até o fim do século, o que evitaria desastres naturais mais intensos do que já se têm hoje. Para isso tem que haver um corte de 40% a 70% nas emissões em 2050 em relação aos níveis de 2010 e chegar em níveis perto de zero em 2100. O uso de energias renováveis, nuclear ou de queima de fósseis com sistemas que sequestrem carbono tem que triplicar ou quadriplicar até 2050.
"Os investimentos não podem esperar as negociações do acordo climático, têm que ser competitivos, prestar atenção para que lado o vento bate", diz Oswaldo Lucon, cientista brasileiro desde 1996 no IPCC. "Veja o que os alemães estão fazendo, eles têm mais que uma Itaipu em energia solar. A tendência é buscar eficiência energética, consumir menos energia nos processos e serviços", continua. "Recomendo que o Brasil pense em um plano B que seria a narrativa da competitividade, de diversificar a matriz, se tornar mais eficiente".
A redução dos subsídios aos combustíveis fósseis pode reduzir as emissões, embora o sumário não apresente uma estimativa.
"O custo da energia renovável caiu muito. Temos que sair dos combustíveis fósseis e mudar a direção dos investimentos", disse Samantha Smith, a líder de mudança do clima do WWF ao Valor. "Temos que colocar o dinheiro no futuro. É hora de apostar nas energias renováveis. Esta é uma mensagem importante para o Brasil, com as reservas do Pré-sal".
"Há muitas soluções disponíveis, como nunca tivemos antes", diz Kaisa Kosonen, especialista em mudança do clima do Greenpeace International. "Energias renováveis deram um grande salto, são muito mais baratas hoje", continua. "O novo modelo está pronto, aqui se trata de como livrar-se do velho. Não podemos carregar os dois adiante. Terá que ser feita uma escolha".
"O que está muito claro é que a tendência de aumento das emissões de gases-estufa tem que acabar rapidamente. E que todas as sociedades têm que estar a bordo", disse o indiano Rajendra Pachauri, presidente do IPCC.
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Mitigação exige mudanças enormes na economia, diz representante do IPCC - Instituto Humanitas Unisinos - IHU