09 Abril 2014
O jornalista italiano Filippo Rizzi, por ocasião do 30º aniversário da morte de Karl Rahner (na foto, de bengala), dedicou um grande artigo na revista Agorà à data comemorativa entrevistando especialistas como Ignazio Sanna, Karl Heinz Neufeld SJ e Rosino Gibellini.
Publicamos abaixo uma parte da entrevista concedida por Gibellini, doutor em teologia pela Universidade Gregoriana de Roma e em filosofia pela Universidade Católica de Milão, publicada no blog Teologi@Internet, da Editora Queriniana, 07-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Qual é, essencialmente, o significado da teologia do grande teólogo Karl Rahner?
A teologia de Rahner é uma das tentativas mais consistentes do século XX de manter aberta a racionalidade reduzida da cultura secular ao horizonte mais amplo de uma racionalidade que reconhece também o mistério de Deus. Ele ensinou a ver em cada tema teológico o que é universalmente humano, como aliança com a razão pertencente desde o início à dinâmica missionária do Evangelho. O teólogo alemão – e isto é tipicamente rahneriano – pratica essa aliança em cada questão teológica, e esse método dá uma sugestiva profundidade às suas páginas.
Qual é a contribuição de Rahner e também de Congar para a realização da revista internacional de teologia Concilium, que se prepara para celebrar o seu 50º aniversário de edição (1965-2015)?
Rahner e Congar representam duas áreas linguísticas definitivamente criativas na elaboração da teologia, que preparou a temática e o debate conciliares. Do fervor teológico do Concílio, também nascia a revista internacional de teologia Concilium (1965) como fórum internacional de reflexão teológica a serviço da práxis na Igreja e na sociedade. Congar dava este testemunho: "A Concilium tentar ser um radar, que prolonga, na mutação contemporânea, a grande tradição teológica. A teologia sempre está em busca. Isso é importante no momento em que somos agredidos por tantos problemas novos". E Rahner advertia: "Certamente, passará muito tempo até que a Igreja, que recebeu de Deus a graça do Concílio Vaticano II, seja a Igreja na figuração do Concílio Vaticano". Enquanto Congar foi conselheiro, Rahner assumiu, na primeira década, a direção da seção "Teologia prática" (e não da Dogmática, confiada a Schillebeeckx), contribuindo assim para desclericalizar a chamada "Teologia pastoral", em vista da responsabilidade comum da evangelização.
Qual é o mais decisivo, em sua opinião, da teologia de Rahner, que nos seus 16 volumes dos Escritos Teológicos tratou de todos os temas da teologia?
Entre as perspectivas abertas, eu indicaria a que recebe o nome de "existencial sobrenatural". A graça como oferta está sempre presente no centro mesmo de toda a existência humana: aqui está Deus com a sua graça libertadora, que espera como resposta o "sim existencial da vida", o sim ao sentido positivo da vida. É uma visão que faz com que todos sintam a proximidade salvífica de Deus.
Que memória pessoal o senhor gostaria de evocar nesta circunstância?
Lembro-me de ter participado, com Gustavo Gutiérrez (que estava naquele mês em Roma, agradecido a Rahner por ter defendido a teologia da libertação na sua versão), no solene funeral do teólogo alemão em Innsbruck, para onde ele tinha se retirado nos últimos anos. Também estavam presentes no funeral Metz, Lehmann, Kasper e Schillebeeckx. Aos participantes foram distribuídos o boletim informativo dos jesuítas da província da Alemanha meridional (datado de Munique, abril de 1984/2), dedicado à figura de Rahner. Eu sempre o guardei e comentei várias vezes aos jovens teólogos a sua última entrevista reproduzida. O entrevistador perguntava: "Como se pode transmitir a fé para a próxima geração?". Rahner respondia: "Acima de tudo, deve-se pregar bem [grito no texto]. Para pregar bem, deve-se antes estudar bem a teologia. Mas, para pregar bem, deve haver homens vivos, devotos, radicalmente cristãos que possam pregar. Naturalmente, também deve haver uma certa liberdade dentro do exercício de tal atividade apostólica ou pastoral". A teologia, portanto, é vista como instrumento do anúncio e da missão.
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Os 30 anos da morte de Rahner. Entrevista com Rosino Gibellini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU