07 Abril 2014
Na cidade de Goethe e Schiller, fãs de música clássica querem que outro ex-morador famoso seja homenageado em Weimar. Eles querem reconstruir a casa de Johann Sebastian Bach, que compôs algumas de suas obras mais importantes na cidade.
A reportagem é de Karoline Kuhla, publicada pelo revista Der Spiegel e reproduzida pelo portal UOL, 04-04-2014.
Pode ser uma cidade pequena, mas Weimar é o pináculo da alta cultura alemã, mais densamente habitada por grandes figuras históricas do que talvez qualquer outra cidade no país. Goethe, Schiller, Herder, Liszt, Wagner, Strauss, Nietzsche, Gropius, Feininger, Kandinsky, Klee e Thomas Mann, todos estes a chamaram de lar. A maioria dessas figuras ilustres é homenageada de alguma forma na cidade. Mas um está claramente ausente: Johann Sebastian Bach.
O compositor viveu na cidade por dez anos, durante o século XVIII, na Markt 16, bem no centro da cidade. O prédio que foi seu lar foi demolido há muito tempo, e as únicas coisas encontradas no terreno atualmente são uma banca de bratwurst [salsicha] e um estacionamento. Não há nem mesmo uma placa para indicar que uma importante adega abobadada da Renascença está localizada sob os carros. Bach provavelmente mantinha seus suprimentos pessoais ali, incluindo os generosos "30 barris de cerveja" que recebia a cada ano, além dos seus salários pelos serviços musicais prestados aos duques de Weimar. Calculados ao longo de um ano, isso significa que o compositor barroco tinha disponíveis cerca de 4,5 litros de cerveja por dia.
"Nós precisamos deste local para celebrar Bach", diz Myriam Eichberger, professora da Escola Liszt de Música, que organizou uma lista impressionante de apoiadores para uma petição em prol de sua campanha. Os signatários incluem o alemão recebedor do Nobel de medicina Günter Blobel, o sul-africano recebedor do Nobel de literatura John Coetzee, assim como o renomado maestro austríaco Nikolaus Harnoncourt, conhecido mundialmente por suas apresentações anuais televisionadas do Concerto de Ano Novo da Orquestra Filarmônica de Viena. Cerca de 11 mil fãs de Bach de todo o mundo assinaram a petição online em change.org. Eles estão buscando a reconstrução do antigo prédio em que Bach viveu e que o público tenha acesso à adega histórica.
O compositor, é claro, viveu em outros lugares no Estado de Turíngia, onde ele é celebrado atualmente, com casas de Bach localizadas em Wechmar, Arnstadt e Eisenach, sem contar as muitas igrejas onde o músico tocou órgão, se casou ou nas quais seus filhos foram batizados.
O elefante na sala
Até o momento, entretanto, não é o aparente excesso de locais de peregrinação dedicados a Bach na Alemanha que impede os esforços de Eichberger e daqueles que apoiam sua campanha. O problema é a Arabella Hospitality, uma empresa pertencente à família bilionária Schörghuber, de Munique.
Em Weimar, os Schörghubers operam o Hotel Elephant, um estabelecimento cinco estrelas que sempre foi um endereço importante na praça. Tanto Goethe quanto Hitler estão entre os hóspedes proeminentes que pernoitaram no hotel. Por acaso, o hotel também é dono do terreno onde ficava a casa de Bach até sua demolição, em 1989. O diretório local do Partido Comunista ordenou que o prédio fosse demolido no último inverno antes da queda do Muro. Hoje o espaço é usado como um estacionamento com 70 vagas, que o gerente da Arabella Hospitality, Reinhold Weise, diz serem "essenciais e importantes para o hotel".
Mesmo que a empresa dona do hotel considerasse destinar o imóvel para outra finalidade, Weise tem outras ideias para ele, incluindo uma área de spa e quartos adicionais. Se esses planos vingassem, o estacionamento poderia ser transferido para uma garagem subterrânea, diz Weise. Mas esse é um cenário de horror para os fãs de Bach, porque colocaria em risco a adega histórica.
No entanto, esses planos não serão executados tão cedo. A Arabella Hospitality não acredita que o hotel em Weimar seja lucrativo o bastante para justificar um investimento significativo. "Nós somos uma empresa que depende da geração de lucros", diz Weise.
Por ora, o local permanecerá um estacionamento, dando mais tempo a Myrian Eichberger para promover sua campanha. "Eu sou flautista e bem capaz de prender meu fôlego por muito tempo", ela diz. Eichberger já conseguiu o financiamento inicial. Blobel, um fã de Bach que atualmente mora em Nova York, se ofereceu para comprar a propriedade disputada na Markt 16.
Um estímulo ao turismo?
Bach se mudou para o prédio em 1708, aos 23 anos, com sua esposa grávida. Ele se tornou o organista da Corte e posteriormente o primeiro violino da orquestra dos duques de Weimar. Foi aqui que ele compôs a maioria de suas obras para órgão e mais de 30 cantatas. A adega é a única remanescente palpável da passagem do maestro pela cidade. Na verdade, o porão abobadado representa o único vestígio arquitetônico de qualquer prédio oficialmente reconhecido como um lugar onde Bach já viveu, diz Eichberger. Isso, ela afirma, é o motivo para a reconstrução ser imperativa. Algum dia, ela espera que concertos no horário do almoço encantem o público na casa ressuscitada de Bach.
Eichberger também considera isso bem mais atraente para o Hotel Elephant do que um estacionamento subterrâneo. O hotel está presente como cenário no clássico "Carlota em Weimar", de Thomas Mann, um fato que continua gerando lucros ao hotel hoje, diz Eichberger. Um memorial ao compositor na vizinhança poderia ser ainda mais lucrativo, ela acrescenta.
"Com o devido respeito a Thomas Mann", ela diz, "Johann Sebastian Bach foi um titã".
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Fãs de Bach querem reconstruir casa do compositor na Alemanha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU