10 Fevereiro 2014
É preciso calcular a pegada "ecológica" do novo papa? Francisco escolheu o seu nome em homenagem a São Francisco de Assis, famoso pela sua atenção a "toda a criação", "santo patrono dos ecologistas" desde 1979, quando João Paulo II reafirmou a preocupação da Igreja Católica pelas questões ambientais. O símbolo é atraente.
A reportagem é de Stéphanie Le Bars, publicada no jornal Le Monde, 05-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ainda mais que, no dia seguinte à sua eleição, evocando o santo italiano, "homem da pobreza, homem da paz, homem que ama e preserva a criação", o papa afirmou: "Neste momento, temos com a criação uma relação que não é é muito boa, não é?". Algumas semanas depois, ele interpelava os responsáveis políticos e econômicos mundiais: " Nós somos 'guardiões' da Criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente".
Em meados de janeiro, diante dos diplomatas credenciados no Vaticano, ele retomava uma frase muito citada no âmbito católico: "Deus perdoa sempre, o homem algumas vezes, enquanto a Criação, se maltratada, nunca perdoa". Francisco também denuncia a "cultura do desperdício", que se aplica hoje "aos bens e às pessoas".
"Não ao fracking"
Em novembro de 2013, ele posou ao lado de compatriotas argentinos que exibiam uma camiseta com a frase "No al fracking" (não ao fraturamento hidráulico). Recentemente, o Vaticano confirmou que o papa planeja a escrita de uma encíclica sobre a "ecologia da humanidade", que, além da proteção da natureza, pressupõe o respeito "por todas as criaturas de Deus". Um documento semelhante, consagrado exclusivamente às relações entre o homem e a natureza, seria inédito.
Além disso, o Papa Francisco se mostra mais atento a esses problemas em comparação aos seus antecessores? Ou é a Igreja Católica, no seu conjunto, que acompanha a conscientização da sociedade sobre esses temas? "Todos os papas, sobre esses temas, estão em perfeita continuidade", observa Dom Marc Stenger, especialista no assunto para o episcopado francês. "Mas, enquanto o quilate ecológico dos papas foi reconhecido ao longo dos anos, com Francisco, esses problemas foram postos desde o início como um ponto-chave do seu pontificado".
Paulo VI, em 1972, durante a Conferência sobre o Clima das Nações Unidas, foi o primeiro papa a explicitamente colocar em alerta contra "os desequilíbrios provocados na biosfera pela exploração desordenada das reservas físicas do planeta, o desperdício dos recursos naturais não renováveis, a poluição e o atentado contra a vida vegetal e animal". Mas, em nível local, as Igrejas permaneceram tímidas.
Convencidos, como todo crente, de que "Deus é o autor da Criação", João Paulo II e Bento XVI, depois, fizeram desse tema uma recorrência do seu ensino. Mas a ecologia cristã, se recomenda uma mudança nos modelos de desenvolvimento e de consumo, também apresenta especificidades. Ela defende a ligação entre a ecologia e a paz, assim como o lugar do ser humano dentro da criação.
Assim, Bento XVI afirmava em 2007: "Quando a Igreja Católica assume a defesa da Criação, obra de Deus, não deve apenas defender a terra, a água, o ar (...), mas também proteger o ser humano contra a própria destruição", uma alusão à defesa da vida "desde a concepção até o fim natural".
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Ecologia, uma das prioridades do Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU