Por: André | 03 Fevereiro 2014
Existem “outros” Maciel. Fundadores de congregações e institutos religiosos que, como o fundador dos Legionários de Cristo, não vivem segundo o carisma que pregam. Personagens com liderança suficiente para iniciar obras de Deus, mas que depois perdem o caminho. Uma situação que não se deve esconder, segundo o responsável pela vida consagrada da Santa Sé, o cardeal João Braz de Aviz.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez e publicada no sítio Vatican Insider, 31-01-2014. A tradução é de André Langer.
“Não é apenas o caso dos Legionários de Cristo; temos vários casos neste sentido, casos antigos ou mais recentes. Nem todos os fundadores que trazem uma graça boa à Igreja vivem segundo a graça que comunicam, e isto temos que reconhecer e distinguir bem as coisas. É um trabalho que estamos fazendo com muito cuidado, e não é fácil, pelo contrário, é muito difícil”, aceitou, nesta sexta-feira, o prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica durante uma coletiva de imprensa.
Estes casos de fundadores incongruentes questionam seriamente a Igreja. Como é possível que Deus se sirva de homens ou mulheres corruptos (em alguns casos abertamente imorais, como no de Maciel) para infundir o carisma de uma obra divina? Braz não deu uma resposta direta a esta pergunta, mas afirmou a necessidade de “distinguir entre o fundador que tem um carisma e o carisma em si”.
Considerou imperioso “distinguir a graça, o dom e a luz de um carisma” do fundador cujo testemunho em determinadas ocasiões não reflete tal carisma. “No passado, temos exemplos emblemáticos, como o de São João Bosco e muitos outros, mas em alguns outros casos presentes não necessariamente o fundador está em sintonia com o que prega”, disse.
Além dos Legionários de Cristo, o cardeal Braz advertiu que muitos dos carismas das atuais famílias religiosas na Igreja têm necessidade de ser purificados porque, no decorrer dos anos, foram se enchendo de “costumes culturais” e formas relacionadas mais com a finalidade do que com o sentido original. Depois se descobre que esses elementos não fazem parte do carisma, precisou.
Acrescentou que isso exige uma “capacidade crítica”, mas também uma “espiritualidade profunda” sobre os fundadores e ter eles mesmos esta espiritualidade, para poder purificar o carisma.
“O erro é dizer com nossa mente, com nossa convicção, que este carisma terminou sua função. Isto é usurpar um direito que é de Deus, porque se Deus suscitou um carisma Ele o conserva e se quiser Ele mesmo o mata, não nós. Este é um dos erros que estamos vivendo agora. Deve-se purificar o carisma, retornar ao carisma segundo a instituição principal, manter a graça principal que é um dom para a Igreja, mas também purificar das coisas que não são historicamente necessárias porque já deram resposta em outro tempo, não no tempo presente. Talvez hoje não sejam necessárias. Desta maneira, tantos carismas podem recuperar seu frescor e vivacidade”, ponderou.
No momento, os Legionários de Cristo não dependem da Congregação para os Religiosos, esclareceu o secretário desse organismo, José Rodríguez Carballo. Precisou que esse instituto tem um delegado pontifício, o cardeal Velasio de Paolis, que responde diretamente ao Papa.
Recordou, além disso, que eles estão celebrando nestes dias um Capítulo Geral eletivo, após o qual se verá se retornam à competência dessa Congregação vaticana ou não. “No caso de retornaram, passarão a depender novamente do nosso dicastério, o que seria um sinal de que voltam à normalidade como instituto. Mas esta decisão depende somente do Santo Padre e qualquer decisão a este respeito será acolhida por nós com espírito de total disponibilidade”, ponderou.
Revelou também que o processo eletivo das novas autoridades do governo dos Legionários de Cristo está em andamento e quando terminar, seguramente se fará público o nome dos novos superiores.
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A Santa Sé reconhece: existem “outros” Maciel - Instituto Humanitas Unisinos - IHU