19 Dezembro 2013
Diálogo, discernimento, fronteira. As três palavras-chave de São Pedro Fabro imediatamente remetem à ação pastoral do Papa Francisco. Uma sintonia que é enfatizada pelo diretor da revista La Civiltà Cattolica, padre Antonio Spadaro, que, justamente por ocasião da canonização, publicou, pela editora Ancora, o livro Pietro Favre. Servitore della consolazione (Pedro Fabro. Servidor da consolação, em tradução livre).
A reportagem é de Alessandro Gisotti, publicada no sítio da Rádio Vaticano, 17-12-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Qual a importância para os jesuítas da canonização do primeiro companheiro de Inácio de Loyola?
Ela tem um significado muito forte, porque todos conhecem São Francisco Xavier, o segundo companheiro de Santo Inácio de Loyola. Mas Pedro Fabro foi o primeiro, o primeiro companheiro que compartilhou o quarto com Santo Inácio quando ele estudava na Universidade de Paris, foi o primeiro a se aproximar dele, o primeiro a fazer os Exercícios Espirituais... Eu diria que, sem Pedro Fabro, a Companhia de Jesus não existiria. Portanto, é um momento muito particular e realmente importante para nós.
Pedro Fabro, justamente, é o primeiro companheiro de Inácio de Loyola, porém – e trata-se de um fato – ele permaneceu na sombra por muito tempo. Quais são os motivos disso?
Talvez com o tempo, especialmente durante a segunda metade do século XVI, a sua fama foi um pouco vítima de uma espécie de desconfiança com relação à dimensão mística que até mesmo na Companhia de Jesus abriu caminho em favor de uma linha mais ascética do que mística. Ao invés, Pedro Fabro é uma figura mística, se quisermos até mesmo difícil de se compreender bem: é um pouco complexa. No entanto, a dedicação nunca se perdeu com o passar do tempo. O próprio Santo Inácio, na realidade, mais do que celebrar sufrágios por ele, fez com que se celebrassem missas de alegria, de triunfo, e São Francisco Xavier, assim que Pedro Fabro morreu, até acrescentou o seu nome à Ladainha dos Santos...
Quem canonizou o primeiro companheiro de Santo Inácio foi o primeiro papa jesuíta: por que a figura de Fabro é tão amada por Jorge Mario Bergoglio?
Por que o papa gosta de Fabro? Ele me respondeu, substancialmente, com uma lista de razões: o diálogo com todos, até mesmo com os mais distantes, os adversários, a sua piedade simples, eu diria até popular, uma certa ingenuidade – o próprio papa se definiu como um pouco ingênuo, um pouco bobo –, a sua disponibilidade imediata. Mas, além disso, duas coisas que eu considero verdadeiramente fundamentais: a sua atitude de discernimento interior e o fato de ser um homem de grandes e fortes decisões, mesmo sendo uma pessoa muito, muito doce.
Por outro lado, o que encontramos de Fabro na ação pastoral de Papa Francisco?
Encontramos muito: no traço humano, na espiritualidade... Fabro era um homem muito aberto à experiência e à vida. Acima de tudo, era um homem sem barreiras mentais, sem preconceitos. Amante da reforma da Igreja, ele sabia que havia a necessidade de muito tempo e fundamentava o seu desejo de reforma na amizade. Um dia, por exemplo, sentiu interiormente que precisava rezar ao mesmo tempo pelo papa, por Lutero, por Henrique VIII e por Suleiman II. Fabro, além disso, viveu em um clima fluido e tempestuoso na primeira metade do século XVI parisiense e é portador de uma sensibilidade moderna que hoje vibra em consonância com a nossa. Portanto, ele encarnou uma abertura mental e espiritual com relação aos desafios da sua época, que nos lembra muito o impulso missionário do Papa Francisco.
O título do seu livro sobre Fabro é "Servidor da Consolação". De algum modo, também se poderia aproximar essa definição justamente ao Papa Francisco: servidor da consolação, da misericórdia...
Penso que sim. No fundo, o Papa Francisco também ama Fabro justamente por causa da sua capacidade de discernimento, isto é, da sua capacidade de compreender a vida espiritual e de entender como Deus age dentro de nós. A consolação é a percepção sensível interior da união com Deus. A mística de Pedro Fabro tem a ver com a vida de todos os dias, com a vida cotidiana: Fabro sempre viveu uma familiaridade com Deus imediata, direta, e, para Fabro, assim como para o Papa Francisco, vale o que Santo Inácio escreveu, isto é, que Deus se comunica com cada um de nós com moções interiores: ou seja, ele move e atrai a vontade. Portanto, eu diria que a experiência de Fabro deve ser melhor compreendida e estudada também para entender o estilo e o modo de governo do Papa Francisco.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''A abertura mental e espiritual de Pedro Fabro é a mesma de Bergoglio''. Entrevista com Antonio Spadaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU