18 Novembro 2013
"Não consigo entender como um país que tem a maior parte de sua energia proveniente de carvão pode abrigar um evento de clima." A frase de um líder comunitário que combate a indústria do carvão na Polônia reflete o sentimento não só de uma parcela da população e de ambientalistas como de negociadores presentes à Conferência do Clima, que reúne 195 países e ocorre até o fim desta semana na capital, Varsóvia.
A reportagem é de Giovana Girardi e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 17-11-2013.
Toma corpo no país o movimento "Desenvolvimento, sim, minas de carvão, não" - uma coalizão de prefeitos, ONGs locais e internacionais, que denuncia impactos sociais e ambientais do uso do minério, pede mudanças no investimento energético do país e na legislação que permite a expropriação de qualquer terra onde se encontre depósitos de carvão.
A dependência econômica do combustível fóssil - maior contribuinte para as emissões de gases de efeito estufa do planeta - e a pouca disposição do país de permitir que a União Europeia, como grupo, assuma metas mais ousadas de cortes de emissões depois de 2020, foram algumas das críticas que mais circularam pelas corredores, salas e plenárias improvisadas no Estádio Nacional de Varsóvia, construídas com suporte financeiro da indústria do carvão.
Na semana que começa, o assunto deve ganhar uma proporção ainda maior com a realização simultânea à COP da Cúpula Mundial do Carvão, vista por muitos como uma afronta ao evento climático.
Questionado sobre isso, o presidente da conferência, Marcin Korolec, ministro polonês do Meio Ambiente, disse que este é só mais um dos "vários eventos que estão ocorrendo ao mesmo tempo" e "que é algo paralelo e não parte do quadro da COP". Disse também à imprensa que o país tem algo a mostrar ao mundo, como a redução de emissões. Os dados, porém, são contestados por ambientalistas, que dizem que a redução só aconteceu após o colapso do bloco comunista, mas não por mudanças estruturais.
Saia-justa
A secretária executiva da Convenção do Clima, Christiana Figueres, que organiza a realização da COP, ficou em uma saia-justa ao ser convidada para a cúpula. ONGs solicitaram que não fosse ao evento, pedido que ela rejeitou.
"Eu compartilho a preocupação, mas também acredito que é meu dever falar sobre isso", escreveu às ONGs.
"É precisamente por isso que eu vou falar com uma indústria que precisa mudar rapidamente e precisa escutar as razões para isso."
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Realização de Cúpula do Carvão causa saia-justa na Polônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU