26 Junho 2013
O governo constata, depois de analisar a forma como a Copa das Confederações e a Copa do Mundo foram incluídas entre os protestos da população nos últimos 20 dias: uma coincidência, sem dolo ou intenção de criminalizar as competições. A Copa das Confederações está no fim, realiza-se em um período curto de duas semanas, e os movimentos de rua não foram nem mais nem menos fortes no locais dos jogos. E a Copa do Mundo, ainda distante, não está ameaçada, creem as autoridades federais.
A reportagem é de Rosângela Bittar e publicada pelo jornal Valor, 26-06-2013.
Ao argumento de que as manifestações pioraram em Belo Horizonte no dia do jogo, apareceram pela primeira vez em frente ao estádio, em Brasília, ocorreram na Bahia, também com o Brasil em campo, altos funcionários que participam das análises do Planalto rebatem: As manifestações começaram em São Paulo, onde não havia jogos; foram fortíssimas em Porto Alegre e Curitiba, duas cidades ausentes da disputa; no Recife houve jogo e foram comedidas, o mesmo ocorrendo na Bahia.
Em Minas, na avaliação feita agora no Planalto, o movimento não teve a mesma característica, foram paralisações de corporações, greve contra o governo, um movimento não espontâneo como os demais.
Duas informações alimentadas no circuito da Copa das Confederações agudizaram os temores do governo. Primeiro, a de que a Fifa ameaçava transferir a atual etapa final para outro país porque o time da Itália, que viajou ao Brasil com a família, crianças inclusive, preocupava-se muito com a segurança e pretendia ir embora. A segunda é que, diante do atual exemplo de caos, e temendo que a situação se repita de forma mais grave na Copa do Mundo, que se realiza em período mais longo, com a presença de mais times e delegações de todos os continentes, países como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra já estavam se oferecendo à Fifa para realizar o torneio. Não apenas por causa da insegurança e das manifestações possíveis, mas porque os estádios e o sistema de organização da Copa das Confederações apresentaram-se com muitos problemas. Ora, argumenta o governo, não é para esse teste mesmo que serve a Copa das Confederações?
Ao governo brasileiro nem o secretário geral da Fifa, Jerome Valcke, nem Joseph Blater, o chefe supremo da organização, confirmaram as tentativas de rasteira dos paises adversários. Ao contrário, garantiram que a Copa do Mundo será realizada no Brasil. Ao que as autoridades nacionais anuiram: se boatos há, não partiram dos governos desses países, mas de empresas e organizações com interesse pecuniário na Copa. Uma espécie de carona oportunista nos movimentos sociais do Brasil.
Expressões de preocupação da presidente Dilma em seu discurso da última sexta-feira acabaram por aumentar a tensão em torno do que estaria por acontecer. Pediu que o Brasil recebesse bem todos os times, tal como é recebido quando vai disputar partidas no exterior.
Para o governo, porém, esse discurso não teve um significado maior. A presidente pretendeu prevenir hostilidades e dar a todos uma dimensão do que a Copa representa para o Brasil do que considerar a hipótese de ruptura.
Outra questão que fez parte das análises do governo sobre as primeira etapa das Confederações é que esta Copa não é alvo dos protestos, que têm a ver com saúde, educação, transportes, segurança, a agenda de pessoas e não de corporações, associações, poderes, sindicatos, partidos. Tanto que começaram em São Paulo, onde sequer havia jogo.
Há, porém, a questão dos gastos de governo com os estádios, agora com a denominação moderna de arenas, e a crítica de que a presidente foi induzida a erro no seu pronunciamento ao garantir que não há dinheiro público nesses gastos, quando há. O que as análises revelam é que Dilma não disse que não há dinheiro público, mas que não há dinheiro do orçamento da União. O que há, admite-se, são empréstimos do BNDES e renúncia fiscal para equipamento e matéria prima na construção dos estádios. Uns R$ 500 milhões para a Copa contra R$ 27 bilhões da renúncia da indústria automobilística.
Por enquanto, não há preocupação com o que pode acontecer na Copa do Mundo. As pesquisas mostram ao governo que a Copa aparece como uma das últimas preocupações dos manifestantes, em sexto ou sétimo lugar, depois de tudo o mais. Ou seja, não tem a ver com as causas mais profundas da saturação do povo. Conclusão que poderá ser conferida, brevemente, com a chegada da Copa de 2014.
Foi um golpe do mestre marqueteiro: a presidente Dilma Rousseff jogou a responsabilidade pelas soluções para os problemas do país ao Congresso; posou bem na foto de comandante de governadores e prefeitos que apenas compuseram o cenário, mudos para a sociedade; ganhou tempo precioso para retomar a escalada rumo à reeleição; deu munição às ruas para também se ocuparem longe do governo federal e trabalharem no plebiscito da reforma política, elegendo temas que agora irão ao Congresso em forma de emenda constitucional e não mais de convocação de Assembleia Constituinte, um bode jurídico retirado da sala no segundo dia de vigência.
A presidente já resolveu pelo menos um problema, o do PT, que desde Lula no período mensalão tenta aprovar uma reforma que contenha voto em lista e financiamento público e jamais consegue. Resolveu, também, um problema do seu governo, que não conseguia fazer andar no Congresso o projeto que destina os recursos do pré-sal para Educação, agora incluído às pressas na premência de uma agenda positiva.
O Congresso, claramente insatisfeito com a forma como a presidente agiu, e sem ter muita moral para se impor, poderia aproveitar e incluir no plebiscito uma questão política e uma injustiça: uma, a reforma tributária, impossível no Brasil porque a União não divide encargos mas não arrecadação; outra, a reforma da previdência, para acabar com a maior injustiça aplicada a uma grande maioria de aposentados que não leva seu cartaz à passeata: o fator previdenciário, que replica o já injusto sistema de aposentadoria dos que não são funcionários públicos. Mas poderia também, quem sabe, acabar com a reeleição, experiência que provou-se inadequada para o Brasil e os brasileiros.
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A Copa do mundo e o Pilatos do Credo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU