24 Junho 2013
Está destinada a se tornar uma imagem-símbolo do pontificado aquela cadeira vazia no centro da Sala Paulo VI, enquanto, na tarde desse sábado, convidados e autoridades ouviam um pouco confusos o "Grande concerto de música clássica para o Ano da Fé" na ausência, ao invés da presença, do papa.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 23-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Isso porque, justamente no dia anterior, falando aos núncios de todo o mundo, Francisco voltou a denunciar a "mundanidade espiritual" que é a "lepra" da Igreja, o fato de "ceder ao espírito do mundo" que "expõe a nós, pastores, ao ridículo", aquela "espécie de burguesia do espírito e da vida que leva a se acomodar, a buscar uma vida cômoda e tranquila".
Cadeira deixada vazia pelo Papa Francisco em concerto pelo Ano da Fé (Foto: L'Osservatore Romano)
O fato é que ninguém jamais teve que anunciar aquilo que coube ao arcebispo Rino Fisichella, quando todos, às 17h30min, esperavam a entrada do pontífice na sala: "O Santo Padre não poderá estar presente devido a um compromisso urgente e improrrogável".
Confusão geral e um relativo suspense: por quê? O padre Federico Lombardi logo excluiu motivos de saúde, até porque o próprio Fisichella havia explicado que os compromissos do papa na manhã desse domingo estavam todos confirmados. Além disso, na sala, estava sentado o doutor Patrizio Polisca, o "médico-chefe" do pontífice, e também estava Dom Georg Gänswein, secretário de Ratzinger: era impensável que ouvissem Beethoven se o pontífice ou o antecessor estivessem se sentindo mal. E então?
E então que Francisco decidiu não sair de Santa Marta e continuar trabalhando como todos os dias. Assistir a um concerto não faz parte do estilo de um papa que renunciou a sair de férias – ele permanecerá no Vaticano – e que ofereceu o Palácio de Castel Gandolfo ao descanso de verão de Ratzinger. Só que o concerto já havia sido fixado desde agosto de 2012 e organizado bem antes do conclave: cancelá-lo não era possível, então Bergoglio renunciou de última hora.
No "hotel" vaticano, informam que Francisco não se mexeu de lá. No sábado, havia boatos de que ele teria respondido: "Eu não vou ao concerto. Não sou um príncipe renascentista". É o sentido do raciocínio que muitos atribuem a ele do outro lado do Tibre. A ausência no concerto está em linha com os muitos "rasgos" dos seus primeiros 100 dias. Começando pela escolha de não morar no Palácio Apostólico para não ficar "isolado": a primeira grande reforma de Francisco, que despedaçou por encanto um clima de corte renascentista ou real, em que o "poder" dentro e fora da Cúria era medido pela proximidade ao papa ou por ser ou não "admitido" ao "Apartamento". O papa que quer "uma Igreja pobre e para os pobres", como arcebispo de Buenos Aires, não ia a concertos e, ao contrário, à noite, visitava incognitamente as famílias nos barracos das favelas.
Tudo isso, ainda nesse sábado, aumentou o nervosismo curial na expectativa espasmódica das novas nomeações, na Cúria como no IOR: Francisco estava lidando com isso? Há quem espere uma primeira onda no dia 29 de junho, festa dos santos Pedro e Paulo. O papa está se encontrando com os mais de 100 diplomatas da Santa Sé, os núncios, e também fez isso nesse sábado.
Além disso, a substituição na cúpula é dado por descontado. Todos os chefes de dicastérios estão em suspenso, "donec aliter provideatur", enquanto não se proceder de forma contrária, começando pelo secretário de Estado: o substituto de Bertone – há semanas fala-se do cardeal Giuseppe Bertello, presidente do Governatorato e membro do "grupo" do conselho cardinalício – deveria assumir depois do verão europeu. Em Bolonha, o arcebispo Carlo Caffara completou 75 anos e, em seu lugar, circula o nome do cardeal Mauro Piacenza, atual prefeito do clero. Francisco segue em frente. Nessa segunda-feira, será definido o primeiro encontro com o primeiro-ministro Enrico Letta, no início de julho.
A "revolução" de Bergoglio traz consigo grandes expectativas. Nesse sábado à noite, em São Pedro, aos gritos de "Francesco, Francesco", houve uma vigília com velas por Emanuela Orlandi, liderada pelo seu irmão, Pietro. O padre Lombardi falou ao canal Tg2: "Não há segredos guardados que poderiam resolver o caso. Continuar dizendo isso é calunioso. Quem tinha responsabilidades dentro da Santa Sé sempre colaborou com as investigações".
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A cadeira vazia deixada pelo papa no concerto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU