17 Junho 2013
Uma manifestação realizada nas proximidades do Maracanã terminou com um ataque indistinto de policiais contra manifestantes e famílias que passavam o domingo na Quinta da Boa Vista. No início da tarde, o grupo de cerca de mil pessoas que tentava se aproximar do estádio, onde Itália e México se enfrentaram pela Copa das Confederações, foi dispersado, com bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Os manifestantes se refugiaram na Quinta, área federal, vetada ao Batalhão de Choque, que passou a atirar mais bombas e gás de pimenta do lado de fora, atingindo também pessoas que nada tinham a ver com o protesto.
"Estava com as minhas duas filhas, como sempre faço em alguns domingos do ano. A polícia chegou jogando bomba de efeito moral. Minhas filhas ficaram desesperadas, eu não sabia o que fazer. Moro em Madureira e não sei como vou pegar o trem para chegar em casa", disse Alessandra Santana, que estava acompanhada das filhas de 13 e 7 anos, ambas muito nervosas. A mais nova exibia no rosto o resíduo de pó branco do spray usado pela polícia.
A reportagem é de Victor Costa e publicada pelo jornal O Globo, 17-06-2013.
A manifestação provocou a interdição de vias importantes, como as avenidas Radial Oeste e Bartolomeu de Gusmão e a Praça da Bandeira, além de provocar o fechamento da estação São Cristóvão do metrô. Os manifestantes protestavam contra o alto custo de vida nas cidades que sediarão a Copa e em favor de mais recursos para saúde e educação. Apenas às 19h15m as ruas foram totalmente abertas ao trânsito. Os manifestantes que estavam na Quinta foram escoltados pela PM até a estação da Leopoldina, onde encerraram o ato. Seis pessoas foram detidas; mais tarde, cinco delas foram liberadas. Uma foi presa em flagrante, conduzido à 20ª DP (Vila Isabel) e autuada por posse ou emprego de artefato explosivo ou incendiário.
O relações públicas da Polícia Militar, coronel Frederico Caldas, no entanto, afirmou que não houve excesso do Batalhão de Choque na repressão aos manifestantes. O protesto teve início por volta das 15h30m, pouco antes do início da partida entre México e Itália, pela Copa das Confederações da Fifa. O primeiro confronto envolveu aproximadamente 600 pessoas e policiais militares, que usaram spray de pimenta para dispersar a multidão. Este grupo foi contido na passarela que liga o estádio à estação do metrô. O clima ficou tenso e os manifestantes seguiram para a Quinta da Boa Vista. Um outro protesto também estava sendo realizado próximo à Rua São Francisco Xavier.
Um grupo de 25 artistas do Projeto Regar, um projeto de arte cristã, também fez um ato no local. Eles faziam uma caminhada lenta, com roupas bem simples e o corpo todo pintado com uma tinta bege. De vez em quando, em silêncio, abriam cartazes com uma frase bíblica em português e inglês.
Frequentadores da Quinta da Boa Vista contaram que viveram momentos de pânico.
O garçom Frederico Júnior também disse ter se assustado com o confronto entre manifestantes e a polícia. Ele passeava com cinco crianças e a mulher grávida pelo parque quando o conflito chegou ao local.
"Estou agora com as crianças e a minha mulher grávida nervosas e passando mal. As pessoas podem protestar, fazer o que quiserem, mas eles e a polícia precisam lembrar que aqui é um parque com crianças", disse ele bastante aflito.
Já o metalúrgico José Carlos Gomes, de 60 anos, foi comemorar o aniversário do pai em sua casa no Maracanã. Morador de Tomás Coelho, em Belford Roxo, ele saiu mais cedo da festa com a filha para evitar o fluxo maior após o jogo na volta para casa. No entanto, nada adiantou. Ele deixou a filha na Estação da Mangueira, onde ela pegaria o trem para casa, e seguiu para a Estação de São Cristóvão, que ficou fechada das 4h30m às 5h50m. Ele contou que chegou ao local às 5h e só conseguiu embarcar 50 minutos depois.
Os amigos Maycon Diniz e Graciane Alves, de Niterói, que levaram a amiga Adriele Cristina, de Goiás, para conhecer o Maracanã pela primeira vez neste domingo, ficaram assustados com o confronto entre manifestantes e policiais.
"Estou muito assustada e com medo de que aconteça algo com a gente e, principalmente, com o Maycon, que é cadeirante. As pessoas vêm ao estádio para conhecer e acabam encontrando essa situação. Não somos contra a manifestação, desde que seja pacífica e não atrapalhe quem quer se divertir", afirma Graciane.
Durante o confronto, o fotojornalista Luiz Roberto Lima, que trabalha para as agências Globo e Estado precisou do auxilio de um bombeiro após passar mal com os gases de efeito moral lançados pela policia. Após o tumulto, o fotografo sentia dificuldade de respirar e enxergar.
"Não estou nem conseguindo abrir meus olhos", reclamou Lima, que foi socorrido por jornalistas e por um bombeiro.
Balanço sobre o transporte dos torcedores é positivo, diz prefeitura
Deitado num canto do vagão do Metrô sobre um saco plástico preto repleto de latinhas, Emiliano Fonseca repetia o caminho que faz todos os domingos, de Copacabana a Del Castilho, onde mora. Torcedor do Flamengo, o catador de latinha estranhou ao ver a grande movimentação no metrô - a duas horas de começar o jogo entre Itália e México, às 16h, no Maracanã. Apesar da grande movimentação diante do olhar curioso de Emiliano, o metrô funcionou de maneira satisfatória para os torcedores que foram ao primeiro jogo da Copa das Confederações no Rio. De uma maneira geral, o governo municipal teve uma avaliação positiva sobre a eficiência dos transportes públicos. No entanto, houve problemas durante o jogo e na SuperVia.
"Quanta gente né... E está todo mundo arrumadinho. Fiquei sabendo agora que o pessoal está indo para o Maracanã ver o jogo. Geralmente, eu volto sozinho para casa nesse horário", confessou o catador.
Apesar da grande movimentação, a chegada dos torcedores ao Maracanã foi tranquila até mesmo na Estação de São Cristóvão, onde havia o foco inicial do protesto. Durante o jogo, no entanto, por conta do tumulto gerado entre os policiais e manifestantes, as portas do metrô nessa estação ficarão fechadas das 16h40m até por volta das 18h.
"Meu pai mora no Maracanã e vim comemorar o seu aniversário. Sai mais cedo da festa para evitar o fluxo maior de torcedores na saída do jogo. Deixei minha filha na estação (de trem) da Mangueira, que embarcou sem problemas. Agora, chego aqui na estação de São Cristóvão e o Metrô está fechado. O último trem para Tomás Coelho já passou e a minha única opção era o Metrô", disse o metalúrgico que só embarcou após 50 minutos de espera, quando as portas do metrô reabriram.
Na mesma estação, enquanto as portas do metrô ficaram fechadas na maior do tempo em que a bola rolava no Maracanã, a entrada da SuperVia abria e fechava de acordo com o andamento do tumulto provocado pelo tumulto entre policiais e manifestantes. No entanto, nem tudo funcionou de maneira satisfatória na SuperVia. O casal Loiane Ferreira, 20 anos, e Rodrigo Neres, de 26 anos, saiu de casa cedo, mas ao chegar na estação do Méier encontraram problemas. Para conseguir a gratuidade na passagem que o ingresso da partida dava direito, eles tiveram uma longa espera:
"Para conseguir a gratuidade, o fiscal anotou os nossos dados com caneta e papel. A fila tinha apenas 20 pessoas, mas demoramos 40 minutos até chegara a nossa vez. Por conta disso, perdemos os minutos iniciais do jogo", disse Loiane.
No Metrô, esse processo era eletrônico, e os passageiros não tiveram problemas. Já na SuperVia, a história foi diferente. Enquanto, os trens do metrô chegavam a cada cinco minutos nas estações próximas ao Maracanã, o estudante Vinícius Brum não teve a mesma facilidade para embarcar em outro ponto da Zona Norte.
"Esperei mais de 40 minutos para pegar o trem (da SuperVia)", disse Vinícius.
Apesar dos incidentes, o governo municipal teve uma avaliação positiva sobre a eficiência dos transportes públicos nesse primeiro jogo da Copa das Confederações na cidade:
"A avaliação da prefeitura é positiva. Tanto os cariocas quanto os turistas utilizaram principalmente o transporte público, principalmente o metrô, e o acesso ao Maracanã foi realizado de forma tranquila. Houve a manifestação, por isso foi necessário fechar a Radial Oeste, o que não atrapalhou o fluxo de veículos, pois utilizamos o nosso plano alternativo de trânsito. A saída também foi tranquila, sem nenhum problema registrado. Nas estações de metrô, o tempo médio de embarque foi de 14 minutos. Foi uma boa estreia do Rio de Janeiro na Copa das Confederações. A cidade como todo se comportou bem. Muitos turistas chegaram para assistir à partida, principalmente mexicanos e italianos, e nenhum problema foi registrado. Com menos de uma hora (após o fim do jogo), o Maracanã e as estações de metrô (no entorno do estádio) já estavam vazias. Tivemos apenas a questão das manifestações, mas que não atrapalhou quem foi ao jogo", disse o secretário municipal de Transportes, Carlos Osório.
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Polícia atira bombas contra manifestantes e famílias na Quinta da Boa Vista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU