21 Mai 2013
Foram dois dias muito intensos com os movimentos e as associações laicais para o Ano da Fé, concluídos nesse domingo pelo Papa Francisco em São Pedro no dia de Pentecostes. "Um Cenáculo a céu aberto", definiu a praça, a Via della Conciliazione e as ruas adjacentes lotadas com cerca de 200 mil peregrinos, expressão das tantas e diversas realidades presentes na Igreja, do Comunhão e Libertação aos Focolarinos, da Ação Católica às Associações Cristãs de Trabalhadores Italianos (ACLI), passando pela Comunidade de Santo Egídio, pelos Neocatecumenais.
A reportagem é de Roberto Monteforte, publicada no jornal L'Unità, 20-05-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Na Igreja – explicou Francisco – a harmonia é feita pelo Espírito Santo. Só Ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade". E, "quando somos nós que queremos fazer a diversidade e nos fechamos nos nossos particularismos, nos nossos exclusivismos, trazemos a divisão; e quando somos nós que queremos fazer a unidade segundo os nossos desígnios humanos, acabamos trazendo a uniformidade, a homologação".
"Ao contrário, se nos deixarmos guiar pelo Espírito, a riqueza, a variedade, a diversidade nunca se tornam conflito, porque – acrescentou – Ele nos leva a viver a variedade na comunhão da Igreja".
Bergoglio pediu, portanto, que todos tenham a coragem do novo, a sair das seguranças aparentes, confiando no Espírito, evitando os "caminhos paralelos" à Igreja.
O importante – destacou – é ter Cristo e a dignidade do ser humano no centro. É o Espírito Santo que dá a coragem para alcançar as "periferias existenciais", onde é preciso testemunhar o Evangelho. É a dignidade do ser humano, é o encontro com os pobres ("carne de Cristo") que devem ser postos no centro desse testemunho. Foi um verdadeiro estímulo o seu pedido para mudar as prioridades da vida. De pôr aética no centro de cada escolha política.
Quem destaca isso é o presidente da Ação Católica, Franco Miano. "Responder a esse seu apelo requer uma grande assunção de responsabilidade por parte de todos os fiéis leigos. Não é apenas um apelo às formas, mas também ao testemunho de uma coerência de vida. Indica alguns princípios simples e essenciais, mas absolutamente decisivos. Cabe à nossa responsabilidade de leigos localizar formas a serem identificadas". Ele as lembra: "Junto com a questão da ética pública, está a do encontro com o outro, particularmente com os pobres", que – explica – "não é simplesmente prover o seu sustento com a esmola, mas sim 'encontrá-los'".
Portanto, o presidente das ACLI sublinha o paradoxo denunciado por Francisco quando se dá mais peso ao andamento de um banco do que a milhões de pessoas que morrem de fome. "O que o papa enfatiza é profundamente certo, importante e sobretudo verdadeiro. Devemos recuperar o essencial e inverter a ordem de prioridades dada hoje pela político e pela mídia".
Por isso, ele insiste na formação das pessoas: "Certas prioridades devem ser entendidas e vividas como um valor próprio, como a contribuição à vida das cidades, o pagar os impostos, o respeitar os outros, o ocupar-se dos pobres.
São aquele patrimônio de valores a se compartilhar". Ele acrescenta a isso um segundo nível, o da "vigilância crítica" sobre políticos e administradores, "para que cada um faça a sua parte até o fim".
Mas isso não basta. Miano lembra a exigência de que, justamente estimulado pela crise, "cada um tenha um estilo de vida mais essencial, olhando para as coisas que realmente importam". É o testemunho dado desde o início pelo Papa Francisco com o seu estilo. Ele também lança novamente aquele "Não há política sem ética", reiterado por Bergoglio.
Mas não deve chamar a atenção a sensibilidade social do Papa Francisco. "Ele foi arcebispo de um país, a Argentina, que viu a crise em toda a sua dramaticidade, antes que se apresentasse entre nós", observa o presidente das ACLI, Gianni Bottalico. "Ele viu as famílias empobrecidas, o seu desespero. Ele viu como a economia e os poderes fortes mortificaram os sacrifícios das famílias. Ele nos chama a uma responsabilidade. Agora, nos obriga a rever com coerência a nossa ordem de valores: o ser humano e as pessoas vêm em primeiro lugar".
Para Bottalico, são advertências tão fortes a ponto de pôr aos leigos "a exigência de se comprometer mais diretamente na política". Devem ser reconstruídas as suas regras. "Porque não é mais possível confiar às finanças e a um capitalismo feroz e canibal a vida das pessoas".
De uma coisa está certo o presidente das ACLI: o discurso do Papa Francisco é de tão grande fôlego político que cria reflexões dentro dos nossos mundos. "O agir político não poderá prescindir disso".
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Partir dos pobres: Francisco sacode os movimentos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU