Por: André | 21 Dezembro 2012
Após ter vendido mais de 10.000 exemplares da versão em castelhano de “O caminho aberto por Jesus”, e após ser traduzido para cinco idiomas, agora chega a versão em euskera do novo livro de José Antonio Pagola, no qual convida a seguir o caminho iniciado por Jesus.
A entrevista é de Iraitz Astarloa e publicada no jornal espanhol Deia, 20-12-2012. A tradução é do Cepat
Eis a entrevista.
Você apresenta “Jesusek Hasitatko Bidea”, uma coletânea de comentários sobre os quatro Evangelhos que aproxima o leitor da figura de Jesus Cristo.
Os Evangelhos, para um cristão, têm uma importância única, porque são os únicos livros de toda a Bíblia que recolhem a memória de Jesus. Nos Evangelhos não se aprende doutrina sobre Jesus, mas se aprende a maneira como viveu, que abriu um novo caminho.
O que pretende transmitir aos leitores?
As doutrinas, com o passar do tempo, vão envelhecendo porque os conceitos vão mudando, o pensamento vai evoluindo, e chega o momento em que a doutrina não toca mais os corações, envelhece. No entanto, o estilo de vida de Jesus é realizável em qualquer época e em qualquer lugar. Estou convencido de que este estilo de vida pode nos ajudar a viver de maneira mais digna, mais saudável, mais contente e mais feliz, e é isso que eu quero transmitir com estes livros.
No contexto atual em que nos encontramos, a sociedade necessita mais do nunca de pessoas como Jesus de Nazaré?
Estou convencido de que o exemplo de Jesus pode nos ajudar a viver de maneira mais digna, mais justa, mais saudável, mais contente e mais feliz. Jesus não é um sacerdote que está defendendo e promulgando a religião, mas um profeta que está buscando tornar a vida mais humana. Sempre defendi que Jesus é patrimônio da Humanidade. Não é propriedade dos cristãos. Jesus é, provavelmente, o melhor que a Humanidade deu até agora.
Há quem confessa sentir-se admirado pela figura de Jesus e, no entanto, afirma ter perdido a fé na Igreja.
Eu não quero que as pessoas se aproximem da Igreja; quero apenas que vivam bem. Trabalhei com muita gente afastada da Igreja para quem tudo o que é religioso representa uma barreira ou dificuldade. Mas, quando as pessoas se encontram com Jesus e com seu projeto, isso que chamamos Reino de Deus e que nada mais é do que um mundo mais justo, mais humano e mais contente para todos, vivem essa experiência de outra maneira.
É possível seguir Jesus sem se considerar parte da Igreja?
Ali onde há seguidores de Jesus nasce a Igreja. A própria Igreja significa convocatória. A primeira coisa é que as pessoas se encontrem com Jesus e depois, celebrem sua fé com outras pessoas unidas com Jesus. Mas é compreensível que nesta época de crise, em que estamos vivendo uma forte sacudida, haja pessoas que estão fora da Igreja que tratam de seguir a Jesus.
Sociedade e Igreja estão cada vez mais distantes uma da outra. Qual deve ser o caminho a seguir?
Mais do que nunca voltar a Jesus. Mas isto não será fácil. Não é uma questão de restaurar as tradições religiosas e querer reforçar a religiosidade das pessoas. Não. É preciso voltar ao Evangelho, a Jesus; e este apelo, de forma geral, não está sendo ouvido neste momento. A Igreja está mais do que nunca necessitada, não apenas de pequenas reformas, mas de uma reconversão radical. Tem que ir à sua raiz, ao essencial: voltar a viver a experiência de Jesus.
Talvez, retomar o espírito do Concílio Vaticano II?
O Concílio Vaticano II pretendia preparar o cristianismo para ser vivido na sociedade moderna. Atualmente, há setores da Igreja que vivem de costas para o Concílio, que perderam essa perspectiva, essas linhas de força, e de costas a isso não nos resta mais nada. Recuperar o espírito do Concílio Vaticano II não dá mais conta.
Então, que rumo a Igreja deve tomar?
Em um momento em que se estão vivendo mudanças socioculturais sem precedentes, a Igreja está chamada a viver uma conversão sem precedentes. Não é questão de se atualizar. É preciso mudar o modo de celebrar a missa, a linguagem que se emprega na liturgia, evidentemente, mas é tarde para fazer pequenas reformas. É o momento de uma verdadeira revolução.
Trata-se da maior crise que a Igreja já teve que enfrentar?
A Igreja viveu uma crise contínua. No século X, os Papas tinham filhos. Quem iria pensar então que no século XX se produziria uma revolução como a que desembocou no Concílio Vaticano II?
A atual crise econômica é uma oportunidade para que as pessoas voltem os olhos para a fé?
Não creio que a crise vá nos aproximar da religião, mas pode nos humanizar a todos. Temos muitas coisas para viver de maneira saudável, e aprender a viver com menos vai nos levar a viver de maneira mais humana, mais saudável e dando mais importância às coisas que realmente têm importância. Cabe às gerações mais jovens aprender a olhar para trás e viver com menos.
Como vê o futuro do cristianismo?
O horizonte deve ser a Humanidade. A própria Igreja tem que estar a serviço da Humanidade e, caso contrário, não tem razão de ser. A única razão de ser da Igreja é anunciar a boa nova de Jesus. Há uma crise de esperança muito grande, mas é o momento de aprender a diferenciar entre a espera e a esperança. Você pode esperar ganhar na loteria sem que fique desempregado... mas viver com esperança é ter um fundamento para continuar a viver de maneira positiva, construtiva, e isso não é fácil.
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“A Igreja está chamada a viver uma conversão sem precedentes”, diz Pagola - Instituto Humanitas Unisinos - IHU