17 Dezembro 2012
O Mestre Eckhart – escreve Marco Vannini, o seu maior estudioso, na introdução do "Comentário à Sabedoria", contido no livro em que estão reunidos os Commenti all'antico Testamento (Ed. Bompiani, 1.548 páginas) – nunca pensou na mística, muito menos em ser um místico, onde por misticismo se entende uma experiência intuitiva, secreta do divino. O padre dominicano nascido por volta de 1260 na Turíngia, prior do convento de Erfurt, professor de teologia em Paris, processado por heresia em 1326, falecido presumivelmente em 1328, pensava que o único caminho possível do ser humano para a verdade que é Deus era o caminho da razão. A razão: o intelecto é o universal que está no ser humano; o Logos gerado de Deus que está no mundo e dentro de cada pessoa: de um pagão, assim como de um cristão, de um muçulmano, assim como de um judeu.
A reportagem é de Giorgio Montefoschi, publicada no jornal Corriere della Sera, 14-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Para poder conhecê-lo, a pessoa justa deve se separar do determinado, do que ela vê com os seus olhos, pensa com o seu pensamento, ama com a sua vontade e busca com o seu desejo. Deve se separar do tempo e do próprio eu e chegar àquele "fundo da alma", onde está o absoluto silêncio e o nada, mas onde finalmente brota o que temos de mais profundo.
"Com dificuldade avaliamos as coisas terrenas, com dificuldade descobrimos aquelas que temos diante dos olhos? Mas quem pode traçar as coisas do céu?", diz a Sabedoria em um dos seus versículos mais sublimes. As "coisas do céu", responde Eckhart, nos aparecem quando um silêncio as envolve. Quando a alma repousa do tumulto das paixões e das ocupações mundanas, todas as coisas por ela se calam, e ela se cala por todas. "Lá", diz Agostinho, o mais citado por Eckhart, "é o lugar da quietude que não conhece perturbação", e é lá que o ser humano deve fazer a sua morada. Diz Jó: "Em visões noturnas, quando o torpor cai sobre o homem adormecido no leito, então ele abre os seus olhos e os adverte".
Se quiser as "coisas do céu" e sentir a plena união com Deus que vive no nosso coração, o ser humano deve se anular para além de toda possível concepção humana de anulamento. Não se trata apenas de não invocar a Deus com imagens terrenas e do tempo; mesmo a mera invocação muda, o mero desejo de estar em comunhão com Deus nos faz cair na determinação e nas coisas finitas.
Deus, ao invés, é indeterminável, não numerável, Uno. Porém, está no nosso coração: está em nós. Portanto, assim como Ele gera e cria a Palavra que toma forma no mundo, também nós geramos e criamos, continuamente – uma ideia imensa –, contanto que todo o saber humano seja removido. É um ponto fundamental.
Se se pergunta por que Deus criou tudo, isto é, o universo – diz Eckhart – é preciso responder: "Para que existisse". Deus fez todas as coisas para que existissem, isto é, para que tivessem o ser do lado de fora, na realidade natural, embora estivessem nele (como as ideias de Platão) desde a eternidade. Portanto, o fim é o ser. E a geração – segue-se daí – é amor. Portanto, nós continuamos o amor.
Não existe pensador ocidental mais implacável do que o Mestre Eckhart. Se lermos os seus textos (os "Comentários ao Antigo Testamento" e também os maravilhosos "Sermões alemães"), temos a sensação de atravessar um vazio imenso. As páginas mais extremas de João da Cruz ou de Teresa de Ávila nos parecem carimbadas por um som confidencial, em comparação com ele.
No entanto, Deus está conosco, Eckhart nos repete continuamente; muito mais próximo do que imaginamos, estando no nosso coração. Mas este, embora tente se desapossar, bate, e, até o rim, reconhece a sua pessoa, dada a ele por Deus.
"Na divindade – escreve Eckhart – sempre nasce o Filho", e também no Cristo, como homem, não há nenhum outro ser além do divino. E o Filho em carne e osso, o Filho do Getsêmani, é aquele que, embora se anulando, continuamos tendo diante dos nossos olhos mortais.
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Eckart, um místico no vazio de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU