10 Dezembro 2012
A reivindicação do casamento homossexual não é uma exigência a ser satisfeita, mas sim um sintoma a ser decifrado. O que significa o fato de que o casamento deserto seja reinvestido sob a forma de paródia? Trata-se de dar-lhe o golpe de misericórdia? Ou de que esse lugar não seja deixado vazio?
A opinião é da psicanalista francesa Monette Vacquin, autora de Main basses sur les vivants (Ed. Fayard, 1999), e do psicanalista francês Jean-Pierre Winter, autor de Homoparenté (Ed. Albin Michel, 2010). O artigo foi publicado no jornal Le Monde, 05-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
As palavras "pai" e "mãe" serão suprimidas do Código Civil [francês]. Essas duas palavras que condensam todas as diferenças, por serem portadoras tanto da diferença dos sexos, quanto da das gerações, desaparecerão daquilo que codifica a nossa identidade.
É preciso ser surdo para não ouvir o sopro juvenil que percorre tudo isso. A varredura ideológica capaz de inverter séculos de uso e de suprimir as palavras às quais devemos a transmissão da vida evidentemente se baseia em ambivalências inconscientes muito arcaicas e amplamente compartilhadas, para ter a mínima possibilidade de se impor e... bem logo, de fazer a lei.
Essa violência, deflagradora, certamente não é somente o fato de uma minoria de homossexuais que exigem o casamento. Sem ecos coletivos do problema da perda ou da rejeição de qualquer ponto de referência transmitido, essa violência teria provocado, no melhor dos casos, o riso ou o desconforto, não a satisfação pura e simplesmente. Esse acontecimento, no entanto, é levado adiante por uma ultraminoria, com o recurso indispensável de uma linguagem que é a ruína do pensamento: o politicamente correto.
Essa negação da diferença, "uma mulher é um homem", Freud chamava de negação da castração. Isso significa, no jargão psicanalítico, que a castração não existe, basta que eu a negue mentalmente para que a sua existência real seja refutada. Quando uma demissão se torna um "plano social", nos sentimos desconfortáveis. Quando uma "bola" se torna um "referente saltitante", nos perguntamos se estamos sonhando. Quando o "casamento" se torna uma "discriminação legal contra os cidadãos fundamentada na sua orientação sexual", começamos a ter medo.
Politicamente correto: o discurso deve ser cortês, sem nenhum corte drástico. O "polimento" da forma, objeto de uma vigilância ideológica meticulosa, mascara o terrorismo que a faz reinar e leva a uma "ética" do ódio e da confusão, em nome do bem liberto de toda a negatividade... o que a humanidade não é.
A reivindicação do casamento homossexual não é uma exigência a ser satisfeita, mas sim um sintoma a ser decifrado. O que significa o fato de que o casamento deserto seja reinvestido sob a forma de paródia? Trata-se de dar-lhe o golpe de misericórdia? Ou de que esse lugar não seja deixado vazio? O que significa, por fim, a identificação dos políticos e dos meios de comunicação a esses desafios, quando há tantos problemas que requerem nossa vigilância?
De um lado, séculos e séculos de uso, que fazem com que o casamento e a aliança entre um homem e uma mulher se confundam. De outro, a reivindicação de uma minoria de ativistas que sabem falar a linguagem que se deseja ouvir hoje: o do igualitarismo ideológico, sinônimo de indiferenciação. E que maneja eficazmente a chantagem da homofobia, que impede de pensar.
Não cabe aos Estados se adequar às provocações de alguns ideólogos que falam uma língua confusa, mas com violência, assombrando ou aterrorizando os seus opositores com sofismas. Menos ainda dar a essas provocações uma forma institucional.
A luta contra a homofobia, indispensável, é uma coisa. A organização jurídica das relações entre os homossexuais que o desejam é outra. Mas a remoção das instituições por parte das mesmas pessoas que são encarregadas de elaborá-las é outra coisa ainda. É aí que se encontra a dificuldade de pensar o problema do "casamento homossexual": uma dificuldade que mistura uma problemática legítima com um ataque institucional selvagem que mobiliza as forças mais arcaicas.
Que os governos sabem o que fazem: não se impõe a lei sobre a linguagem, senão esta se vinga. Também devem desaparecer as palavras "homem" e "mulher"? Devemos deixar de levar em consideração o sexo no direito, senão para aboli-lo, ao menos para "persegui-lo" em nome da igualdade, acreditando que a linguagem usada é testemunha de antigos furores? A nossa geração continua superando os limites, ou destruindo tudo o que os encarna, em vez de transmiti-los com a sua parte de insondabilidade.
Homossexuais e heterossexuais não cabem na divisão rígida que parece ser aceita hoje. Todos compartilham o mesmo mundo e é juntos que eles pertencem ao cuidado das instituições que estruturam as relações entre as pessoas e entre as gerações.
As destruições simbólicas são reconhecíveis pelo sofrimento que causam a alguns, imersos na impotência, conscientes do ódio e da destrutividade, e que sentem que não se está argumentando contra uma perversão. Elas também são reconhecíveis pela alegria que provocam nos outros, imersos no triunfo da "onipotência" e da negação da lei.
É provável que o mundo absorverá isso com indiferença, que é o outro nome do ódio. Até mesmo é a isso que começamos a nos assemelhar: não mais a uma humanidade conhecida, mas sim a um mundo indiferente. Neutro. Neutralizado.
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''Não a um mundo sem sexos!'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU