26 Outubro 2012
Uma análise do voto católico nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. O catolicismo norte-americano está mudando de rosto, e com isso também o voto está destinado a mudar.
A opinião é de Massimo Faggioli, doutor em história da religião e professor de história do cristianismo da University of St. Thomas, em Minneapolis-St. Paul, nos EUA. Seu último livro é Vatican II: The Battle for Meaning (Paulist Press, 2012). O artigo foi publicado na revista Il Mulino, n. 3, 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O voto católico nas eleições presidenciais dos Estados Unidos é conhecido não só porque, frequentemente, volta-se majoritariamente no vencedor das eleições, mas também porque é um swing vote, um voto de opinião e não de pertencimento, destinado a ser conquistado a cada eleição. Mas o catolicismo norte-americano está mudando de rosto, e com isso também o voto está destinado a mudar.
Ao longo da primeira metade do século XX, o binômio católico-Partido Democrata tinha uma obviedade que não exigia, nem diante dos eleitores, nem do Vaticano, ser argumentada. Ainda dividido em um partido do Norte (de imigrantes e de operários) e em um partido do Sul (o partido da conservação social e da segregação racial), o Partido Democrata era a casa política natural para os católicos: permanecera assim mesmo depois da derrota do Sul na Guerra Civil, que via o catolicismo sulista comprometido com a manutenção de um status quo que não mudara do ponto de vista social como mudara do ponto de vista estritamente jurídico com a abolição da escravatura por Lincoln em 1863.
A primeira crise veio em 1928, quando o governador de Nova York, Al Smith, tornou-se o primeiro católico candidato democrata à eleição presidencial: como católico com a fama de não "dry", mas sim de "wet" (ou seja, contrário à legislação proibicionista), Smith teve que enfrentar uma campanha de deslegitimação da sua candidatura com base na sua confissão religiosa, sob a insígnia de um anticatolicismo estereotipado, mas justificada pela teologia do catolicismo pré-Vaticano II, especialmente em matéria de cultura democrática dos católicos e da doutrina católica sobre a liberdade religiosa e sobre as relações entre Igreja e Estado.
A eleição de Al Smith, dizia-se em uma vasta literatura que incluía panfletos de ocasião compostos pelo establishment e volantes com desenhos denegridores para o público menos alfabetizado, colocaria a Casa Branca nas mãos do Vaticano: uma potência política estrangeira conhecida pela sua oposição à liberdade religiosa dos não católicos e pela hostilidade à democracia.
Nas eleições de novembro de 1928, Al Smith foi sonoramente derrotado graças também ao sucesso, para além das previsões, da campanha dos republicanos que fez do catolicismo do governador Smith a questão central das eleições.
É contra esse pano de fundo que se coloca a campanha eleitoral de John Fitzgerald Kennedy em 1960, que sobreviveu a inúmeras tentativas, dentro do Partido Democrata antes e dos Republicanos depois, de desqualificar o candidato católico, assim como ocorrera em 1928. O famoso discurso de Kennedy do dia 12 de setembro de 1960, em Houston, diante de uma plateia de pastores protestantes, pôs fim à campanha contra o catolicismo do candidato democrata graças ao claro posicionamento em favor de uma "separação absoluta entre Igreja e Estado".
Com a eleição de Kennedy teve-se não apenas o primeiro presidente católico dos EUA, mas também a inserção no mainstream cultural e social norte-americano de uma religião, a católica, considerada até o fim dos anos 1930 como a religião dos imigrantes e teologicamente inassimilável à democracia nos EUA. Os anos 1960, com Kennedy, o Papa João XXIII e o Concílio Vaticano II representam, portanto, a partir desse ponto de vista, muito mais do que um estereótipo.
A inserção dos católicos no mainstream representou uma reviravolta epocal para a Igreja nos EUA: o seu sucesso significou o início do fim da identificação dos católicos com um partido político, o democrata. Ronald Reagan compreendeu isso muito bem, com o qual ocorreu o nascimento de uma nova espécie de democratas, os chamados "Reagan Democrats", e uma nova espécie de católicos, os "Reagan Catholics".
Graças à mistura entre os frutos de uma mobilidade social que via os católicos não mais no nível mais baixo da escala social, e a oportunista adoção da causa pro-life pelos republicanos na campanha eleitoral de 1980, iniciou a fuga dos católicos do Partido Democrata: fenômeno que continuou nas eleições de 1988 para George H. W. Bush, e que teve a sua fase suprema durante a campanha eleitoral, planejada arbitrariamente e orquestrada por Karl Rove.
Mas o voto católico para Bush Jr. não compensou, durante os oito anos da presidência, como o eleitorado católico pro-life esperara, e essa foi uma das causas da desafeição dos católicos (e dos evangélicos) com relação aos republicanos. Em 2008, Barack Obama recebeu 54% dos votos dos católicos, ajudado pelo voto dos católicos latinos de imigração recente.
Das questões de moral pública às de moral sexual
No percurso histórico do catolicismo norte-americano e da sua colocação política, é evidente um deslize da ênfase de um tema ao outro: das questões sociais às da moral sexual e de defesa da vida. Até os anos 1960 e 1970, o elemento identificativo do posicionamento político dos católicos e dos bispos era a questão social: uma legislação para proteger imigrantes e trabalhadores nas linhas da doutrina social católica de Leão XIII (Rerum Novarum, 1891) e de Pio XI (Quadragesimo anno, 1931), mas também para proteger uma ideia de sociedade pré-moderna (e visceralmente hostil à Revolução Francesa) que, no Sul dos EUA, expressava o revanchismo contra a abolição da escravidão e contra a integração das raças.
Esses valores identificativos do catolicismo norte-americano na política foram traduzidos, no período anterior à Segunda Guerra Mundial, em um compromisso político dos católicos que contava com uma relação privilegiada entre os pensadores do catolicismo social norte-americano e o establishment político (especialmente a relação entre Dom John Ryan e Franklin Delano Roosevelt).
Depois de 1945, esse vínculo de cúpula tornou-se menos importante, graças também à inserção dos católicos no mainstream. Entre os anos 1950 e 1960, o ralliement dos católicos norte-americanos no corpo político norte-americano através de uma identificação com a luta contra o comunismo e uma reconversão teológica sua em uma direção cada vez mais americanista-calvinista (Jason W. Stevens. God-Fearing and Free: A Spiritual History of America's Cold War. Harvard University Press, 2010).
Mas o patriotismo militante dos católicos norte-americanos, iniciado com a guerra contra Hitler e Mussolini, não sobreviveu aos anos 1960. A guerra do Vietnã despedaçou essa ilusão, e grande parte do catolicismo liberal, de 1967 em diante, já se encontrava muito confortavelmente no mainstream, a ponto de poder se dar ao luxo de começar a nadar contra a corrente. É uma primeira divisão dentro do ex-gueto católico.
Uma nova divisão dentro do catolicismo dos EUA ocorreu de 1973 em diante, com a sentença da Suprema Corte Roe versus Wade de legalização do aborto. Esse divisor de águas fundamental na história social e religiosa norte-americana divide a Igreja em duas, entre aqueles que fazem da oposição ao aborto o único artigo de fé política para os católicos, e aqueles que veem na questão do aborto uma das questões sociais para resolver qual política deve pensar organicamente nas questões da educação, do trabalho, do sistema de saúde, das proteções para os mais vulneráveis.
Os primeiros se tornam, dos anos 1980 em diante, os católicos republicanos, e os segundos, os católicos do Partido Democrata: mas a posição católica sobre o aborto se torna muito mais do que uma questão cultural interna à Igreja e transborda na sociedade e na política norte-americana, levando os evangélicos, nos anos 1980, a pegar a oposição católica ao aborto e a fazer dela a questão por excelência dos pastores evangélicos que se juntam aos republicanos (e às vezes os superam à direita) nas campanhas antiabortistas durante as campanhas eleitorais.
Esse fenômeno atrai cada vez mais católicos ao partido de Reagan, apesar dos ainda fundamentais documentos dos bispos norte-americanos de 1983 e de 1986 sobre a paz e sobre a justiça social e econômica, que põem em discussão a possibilidade de uma adesão acrítica dos católicos à agenda política internacional e econômica do reaganismo. Essas mensagens dos bispos confortaram, à época, os católicos do Partido Democrata: mas, em um catolicismo cada vez mais rico e cada vez mais distante das suas origens sociais de imigrantes, o magistério social dos bispos não conseguiu interceptar a trajetória de um bloco social cada vez menos interessado no cuidado do welfare e cada vez mais atraído pela promessa de impostos menores.
Nas últimas duas décadas, os próprios bispos se tornaram menos sensível à necessidade de combater um liberalismo free market, alinhando-se com um calvinismo incompatível com a tradição do magistério social. Nesse contexto, nas últimas duas décadas, os democratas recomeçaram a correr atrás do voto dos católicos conquistados pelos republicanos a partir dos anos 1980. Mas era apenas uma corrida: os republicanos nunca haviam abandonado a busca do voto católico.
Karl Rove (o estrategista de G. W. Bush) estava convencendo o então governador do Texas a disputar a presidência quando, no outono de 1998, notou na revista Crisis (dirigida por Deal Hudson, um católico batizado quando adulto na convicção de que o Vaticano II havia jogado a Igreja em um estado de confusão) um estudo intitulado The Catholic Voter Project. Segundo esse estudo, o eleitor católico era identificável como patriota, antiabortista e sensível aos valores da família: o Partido Republicano devia ir à caça desses eleitores, que se encontravam sem um partido a partir de meados dos anos 1960, isto é, a partir do início daquela fratura ocorrida na sociedade norte-americana entre as pulsões liberais e a "maioria silenciosa" conservadora.
A caça ao voto católico recompensou os republicanos tanto no ano 2000, quanto em 2004. Especialmente as eleições de 2004 haviam visto os bispos católicos, antes, e o eleitorado católico, depois, alinharem-se à inclinação pro-life dos republicanos. Com a mesma orientação do voto dos evangélico e apesar da guerra no Iraque, o voto dos católicos havia ido majoritariamente (e nos Estados mais importantes para a eleição) a G. W. Bush, graças também ao efeito causado pelo posicionamento de alguns bispos, que durante a campanha eleitoral haviam ameaçado não dar a comunhão ao candidato democrata, o católico e pro-choice John Kerry.
As eleições que deram o segundo mandato a G. W. Bush marcavam assim o ponto mais extremo da fuga dos católicos do Partido Democrata, graças também às ameaças de alguns bispos de negar a comunhão ao candidato Kerry (Nicholas Cafardi [org.]. Voting and Holiness: Catholic Perspectives on Political Participation. Nova York: Paulist Press , 2012).
O voto dos católicos em 2008 e 2012
Nas eleições de novembro de 2008, Barack Obama conquistou a maioria do voto católico (52% contra 48% para McCain), mas só graças ao voto dos católicos não brancos: a maioria dos católicos brancos votaram no candidato republicano McCain (52% contra 47 %). O que contribuiu para a vitória de Obama entre os católicos foi o o repúdio à guerra no Iraque e uma maior capacidade de articular, na campanha presidencial, a linguagem religiosa – como deve ser na corrida a um ministério, o de presidente, que tem todas as características do sumo sacerdócio da religião chamada EUA.
Mas o que contribuiu especialmente para a vitória de Obama foi o catolicismo não branco. As tendências do catolicismo branco na urna eleitoral corroboram a impressão de que os católicos norte-americanos estavam entre as causas da falta da "lua de mel" de que goza todo novo presidente: o Tea Party, que surgiu imediatamente depois da eleição para prejudicar uma presidência percebida como ilegítima (não sem um fundo racista), reuniu as simpatias de muitos católicos brancos, e a hierarquia católica nos EUA foram muito pávidas diante de um clima político de deslegitimação descarada de um presidente recém-eleito
As difíceis relações entre bispos católicos e governo Obama continuaram durante todo o quadriênio 2009-2012, com um crescendo entre 2010 e o verão de 2012, graças à campanha da Conferência Episcopal contra o "mandato" da lei de reforma da saúde que exige que todas as entidades que empreguem pessoal (e, portanto, também as entidades católicas que empregam católicos e não católicos) forneçam apólices de seguro de saúde que incluam práticas médicas não aceitas pela moral da Igreja.
Em torno do governo Obama, de fato, solidificou-se mais do que antes a rachadura interna da Igreja entre católicos republicanos e católicos democratas – com os primeiros muito hábeis em inclinar os bispos ao Partido Republicano, mesmo apesar do fato de que o maior sucesso legislativo de Obama, a lei de reforma da saúde, finalmente consiga dar cobertura de saúde a quase toda a população, como deseja a doutrina social da Igreja.
A capacidade de mobilização dos católicos republicanos parece maior do que a dos católicos democratas, em uma campanha eleitoral que vê, a poucas semanas da votação, os jovens e os latinos mais desencantados do que em 2008. Não chegam mais a Washington as ajudas que chegaram à Casa Branca em 2009, no início do governo Obama, de um Vaticano que, então como hoje, não tem uma mente política. Diante de um episcopado inclinado, de fato, conjtra o governo Obama, o Vaticano do Papa Bento XVI e do secretário de Estado, Bertone, havia mantido uma linha realista e "concordatária" – fato que não escapou aos bispos norte-americanos, que estão agora se esforçando, até mesmo através de uma americanização da cultura e do pessoal da Cúria Romana, para corrigir a rota.
As questões sobre as quais a Igreja e os católicos julgarão o primeiro mandato de Obama são diferentes de acordo com as perspectivas de partida: os católicos republicanos criticam Obama por uma lei de reforma da saúde a seu ver opressiva à liberdade religiosa, assim como são vistas como opressivas outras medidas tomadas pelo governo em matéria escolar e especialmente acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Os católicos democratas, ao invés, apreciam a reforma da saúde e têm outras queixas, como a política de segurança do governo (um uso inescrupuloso dos drones [veículos aéreos não tripulados] no Oriente Médio, no Afeganistão e no Paquistão), as medidas sobre a imigração (o aumento exponencial das deportações dos undocumented, antes da anistia de junho de 2012) e uma atitude no mínimo pouco realista com relação a Wall Street (a partir da nomeação de Larry Summers e de Tim Geithner na administração).
Os dois lados dos católicos que julgarão o governo Obama se equivalem dentro da Igreja: mas os hostis ao presidente podem contar com os meios de comunicação como a Fox News, que fizeram dos católicos republicanos uma presença fixa na programação. Ambos os lados decidem como votar sem se basear muito nas recomendações dos bispos (por exemplo, em 2008, em duas dioceses guiadas por bispos firmemente pró-republicanos, como Charles Chaput, em Denver, e Robert Finn, em Kansas City, a chapa Obama-Biden recebeu respectivamente 75% e 78% dos votos).
Mas, mais importante do que a voz dos bispos, será a voz dos meios de comunicação e dos comerciais financiados, de modo praticamente invisível e indetectável, do grande capital privado.
Uma Igreja e um país pós-WASP
Clarke Cochran e David Carroll Cochran dividiram em três grupos os eleitores católicos norte-americanos. Os primeiros são os "católicos nominais", eleitores que se identificam como católicos, mas cuja filiação com a Igreja e com a sua mensagem social é fraca, na melhor das hipóteses.
O segundo grupo é formado pelos "católicos ideológicos", cujas posições políticas são guiadas por visões ideológicas – de direita ou de esquerda, e apelam ao ensino da Igreja de maneira muito seletiva, só depois de tê-lo "filtrado" com as suas ideologias de referência.
O terceiro grupo é o dos "católicos fiéis" ou "católicos conscientes", aqueles que se comprometem em assumir a mensagem social da Igreja como um todo e aceitam a ideia de que ela molde os seus comportamentos, mesmo políticos e eleitorais (Clarke E. Cochran e David Carroll Cochran. The Catholic Vote: A Guide for the Perplexed. Maryknoll NY: Orbis, 2008).
Esses três grupos são hoje maiores do que antigamente. A Igreja Católica dos EUA conta atualmente com cerca de 59 a 68 milhões de fiéis (de acordo com as diversas estatísticas), ou seja, três vezes mais do que a segunda maior Igreja do país, a Southern Baptist Convention, que tem pouco menos de 20 milhões de membros. O peso da Igreja Católica norte-americana, porém, não cresceu apenas com relação a outras Igrejas, mas também com relação à identidade cultural e política dos EUA: por um longo tempo vista como Igreja "hospedeira" por causa da grande parte de imigrantes lower class que faziam parte dela, a Igreja Católica norte-americana hoje é uma Igreja nacional. Poder-se-ia hipotetizar que a Igreja Católica talvez seja hoje a única Igreja nacional: transversal do ponto de vista social, étnico e político, de algum modo o catolicismo é herdeiro do papel de alma da nação, tendo tomado o bastão de um protestantismo norte-americano que se fracionou de maneira extrema do ponto de vista confessional e que desapareceu da cena política e cultural norte-americana. Os evangélicos estão politicamente muito mais divididos do que nos anos 1980 e não representam uma Igreja única, nem uma tradição teológica coerente.
Essa conscientização do papel da Igreja Católica nos EUA coincidiu não apenas com uma diversificação étnica sua (por causa da imigração dos latinos, mas também da Ásia-Pacífico), mas também com a diversificação étnica das elites dirigentes dos EUA: de Barack Obama aos emergentes Asian-Americans. Nesse sentido, o catolicismo norte-americano vai passar pelas eleições de 2012 como por um teste decisivo revelador das tendências em curso na Igreja.
Em primeiro lugar, as eleições dirão algo sobre a tentação "americanista" do catolicismo dos EUA – quase uma recaída no americanismo condenado pelo Vaticano em 1899: hoje, tem-se a impressão de um catolicismo que se tornou colateral ao Partido Republicano, que, enquanto declara querer ser contracultural sobre os temas da vida, da sexualidade e do gender, não parece muito interpelado pela retórica militarista e pelas crescentes desigualdades sociais – fenômenos típicos dos EUA do início do século XXI assim como do fim do século XIX e início do século XX.
Em segundo lugar, as eleições dirão algo sobre a presença política dos latinos (em grande parte católicos) e da sua capacidade de influenciar o discurso de uma Igreja Católica que sempre fez da defesa dos imigrantes um bastião da sua mensagem social, mas que, nos últimos anos, não conectou a questão migratória a um discurso mais amplo sobre o papel do governo e da política no Estado contemporâneo no Ocidente.
Também nisso os bispos católicos parecem ter assimilado, especialmente na luta contra alguns aspectos da reforma da saúde em nome da liberdade religiosa, uma visão populista de small government (ou às vezes no government), que é bem diferente da visão clássica e do século XX do governo e do Estado na doutrina social da Igreja. O recente fluxo de jornalistas e políticos neoconservadores convertidos do protestantismo nos cargos intelectuais do catolicismo norte-americano corre o risco de silenciar os "cradle Catholics" menos barulhentos e menos americanistas.
Em terceiro lugar, a grande questão político-religiosa nos EUA refere-se à presença e à influência pública da religião cristã e do catolicismo em um país em que a secularização começa a se fazer sentir, especialmente entre as gerações jovens. O Partido Republicano claramente desposou a religião como instrumentum regni, e não admire que o mórmon Romney se mantenha o mais longe possível de toda discussão sobre o papel público da religião (especialmente a sua) nos EUA de hoje, e que possa se dar ao luxo de fazer isso, em um partido que se apresenta como o da conservação dos EUA como ideia religiosa estreitamente ligada ao fundamento moral judaico-cristão. O Partido Democrata parece oscilar entre a vontade de recuperar um eleitorado religioso não necessariamente conservador (o que elegeu Obama em 2008) e a sensação de poder apontar no longo prazo para a secularização e de se tornar o partido da alternativa laicista.
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O voto católico nos EUA. Artigo de Massimo Faggioli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU