Por: André | 28 Setembro 2012
Um estudo francês constata um número maior de tumores e uma mortalidade mais elevada em ratos alimentados com milho geneticamente modificado da Monsanto.
A reportagem é de Marc Mennessier e está publicada no jornal francês Le Figaro, 19-09-2012. A tradução é do Cepat.
As imagens dão motivos para medo: os ratos alimentados com um milho transgênico, largamente utilizado na ração animal há ao menos 10 anos, desenvolveram tumores monstruosos, alguns do tamanho de bolas de pingue-pongue. O fígado e os rins desses infelizes roedores também apresentam graves lesões (necroses, congestões...) e sua mortalidade é duas a três vezes maior.
Estes são os resultados “alarmantes”, segundo seus autores, de um estudo que deverá ser publicado na revista Food and Chemical toxicology e também no Le Nouvel Observateur com o título: “Sim, os OGM são venenos!”. O estudo reaviva os debates sobre a periculosidade real ou presumida dos organismos geneticamente modificados, num contexto em que a França tenta, no momento sem sucesso, proibir essas cultura na Europa.
Sob a responsabilidade de Gilles-Éric Séralini, professor de biologia molecular na Universidade de Caen, os autores desse estudo acompanharam durante dois anos nada menos que 200 ratos que eles distribuíram em nove grupos de 20 indivíduos cada. O objetivo era testar os efeitos de um regime alimentar contendo três doses (11%, 22% e 33% da ração total) de milho transgênico NK603 da Monsanto, que foi tratado ou não com Roundup, herbicida também produzido pela Monsanto ao qual esse milho é resistente. Enfim, três outros grupos de roedores foram alimentados com água que continha doses de herbicidas próximas daquelas comparadas aos animais indicadores alimentados com uma variedade não transgênica, muito próxima (mas não idêntica ou isógena) do NK603 e que não recebeu Roundup.
Os resultados mostram uma taxa de mortalidade mais alta e frequente entre os animais expostos ao OGM e/ou ao herbicida. “Uma vez o período médio de sobrevivência transcorrido, as mortes foram atribuídas ao envelhecimento”, escrevem os autores. Depois deste período, 30% dos machos e 20% das fêmeas do lote indicador morreram espontaneamente”. Mas entre os animais alimentados com OGM, essas proporções chegam “até a 50% para os machos e 70% para as fêmeas”. Segundo este estudo, os tumores mamários, muito significativos, são mais frequentes em todos os grupos expostos ao milho transgênico e/ou ao herbicida, mas as diferenças não são sempre significativas no plano estatístico. Ao contrário, as lesões do fígado são muito mais comuns (de 2,5 a 5,5 vezes maiores), especialmente entres os machos, comparados ao grupo indicador. O aumento é igualmente muito acentuado, mas em proporções menores para as patologias renais.
“Em nosso estudo, os tumores se desenvolveram consideravelmente mais rápidos que no grupo controlado, mesmo se a maioria delas foi observada após 18 meses”, prosseguem os autores. O que é relativamente tardio para animais cuja esperança de vida é no máximo três anos. “Os primeiros tumores grandes detectados apareceram entre o 4 e o 7 mês, respectivamente entre os machos e as fêmeas, o que mostra a inadequação dos testes padrões de 90 dias utilizados para avaliar as culturas OGM e a toxicidade alimentares”, notam ainda os autores.
Avaliação de longo prazo
Segundo Séralini, o milho NK603 até agora só foi testado num período de três meses e é primeira vez que o Roundup é avaliado num longo prazo com seus coadjuvantes. “O crime é que isso não foi testado antes, que as autoridades sanitárias não tenham exigido testes mais longos, ao passo que os OGM já estão sendo comercializados há 15 anos no mundo”, acusa ele.
As reações evidentemente não se fazem esperar. Desde ontem ao meio-dia, os ministros da Agricultura, do Meio Ambiente e da Saúde fizeram saber, num comunicado, que eles vão acionar “imediatamente” a Agência Nacional de Segurança Sanitária (Anses) para averiguar os fatos. Segundo eles, o governo francês está próximo, “em função da opinião da Anses”, de pedir a Bruxelas para que suspenda “urgentemente a autorização de importação na União Europeia do milho NK603”. “Caso os novos fatos científicos forem demonstrados, tiraremos as consequências”, garantiu Frédéric Vincent, porta-voz da Comissão Europeia da Saúde, ao indicar que a Agência Europeia de Segurança Alimentar (Aesa) vai se apropriar do dossiê.
Por enquanto, os cientistas contatados pelo Le Figaro compartilham seu ceticismo em relação ao estudo. “Faltam dados numéricos sobre os tumores e análises bioquímicas, mas também sobre o regime alimentar e o histórico do tronco dos ratos utilizados”, nota o toxicólogo Gérard Pascal. Além disso, contrariamente ao que afirma Séralini, numerosos estudos de longo prazo foram realizados em ratos e animais de criação (vacas leiteiras, suínos, carneiros, aves...) alimentados com OGM. Nenhum deles mostrou diferenças significativas...
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Os OGM estão novamente no banco dos réus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU