22 Setembro 2012
Pesquisas para melhorar a vida das pessoas e das cidades são feitas no Masachussets Institute of Technology - MIT pelo arquiteto Carlo Ratti. Em entrevista publicada no jornal Valor no dia 21-09-2012, o italiano conta como e porque as tecnologias cada vez úteis no noddo dia a dia podem ser combinadas ao funcionamento das cidades num futuro próximo.
Confira a entrevista
Chips que revelam o caminho do lixo, rastreamento de ligações interurbanas, construções que se alimentam da energia de pessoas que sobem suas escadas. Essas são as ferramentas tecnológicas que o arquiteto e engenheiro italiano Carlo Ratti explora em seu laboratório Senseable City do Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Boston e Cingapura.
Para Ratti, as tecnologias de informação e comunicação, associadas ao acesso cada vez mais ubíquo a computadores e tablets, permitem aos cidadãos falar com suas cidades e ouvir as respostas. Na comunicação com o ambiente urbano, a promessa é dar aos habitantes o poder de organizar melhor suas vidas.
Valor: Como seu projeto de integração tecnológica dos sistemas urbanos se insere na trajetória do planejamento urbano?
Carlo Ratti: Nossa situação, hoje, é particular. O automóvel determinou a forma que as cidades tomaram no século XX e as tecnologias de informação e comunicação vão determinar que cara nossas cidades vão ter nas próximas décadas. É parecido com o que aconteceu nas corridas de Fórmula 1. Até há duas décadas, o sucesso nas pistas resultava do funcionamento do carro e da perícia do piloto. Então a telemetria e a tecnologia avançaram e o carro foi transformado num computador monitorado em tempo real por milhares de sensores.
Valor: E as cidades?
Ratti: Na última década, as tecnologias digitais começaram a monitorar nossas cidades, formando uma infraestrutura enorme e inteligente. A fibra ótica de banda larga e as redes de telecomunicação sem fio sustentam celulares, smartphones e tablets cada vez mais acessíveis para o consumidor. Bancos de dados abertos, especialmente os públicos, que pessoas podem ler e nos quais podem fazer modificações, estão revelando todo tipo de informação. Se somarmos a esse fenômeno uma rede de sensores e tecnologias de leitura que cresce incansavelmente, interagindo por meio de computadores baratos e poderosos, veremos que as cidades estão se tornando "computadores ao ar livre".
Valor: Para a maioria das cidades, o crescimento, a organização e o funcionamento cotidiano incluem uma grande dose de espontaneidade. Como a dicotomia entre planejamento e acaso aparece no "computador ao ar livre"?
Ratti: A espontaneidade é crucial. A tecnologia ajuda a fazer surgir o inesperado de baixo para cima, com um componente de auto-organização. São iniciativas que partem de quem usa a cidade no dia a dia, catapultam a sociabilidade nas cidades e mudam os padrões de atividade. Vemos isso claramente na popularidade explosiva de redes de compras locais, como o Groupon e o LivingSocial. Em "Morte e Vida das Grandes Cidades Americanas" (1961), a urbanista Jane Jacobs dizia que as fofocas de esquina são cruciais para a coesão dos bairros e a segurança das ruas. Eu diria que os "prefeitos" do Foursquare lembram que até as mais inteligentes entre as cidades digitais são feitas de vida, porque estão cheias de pessoas interessantes.
Valor: Além da fofoca das esquinas e dos "prefeitos" do Foursquare, como as tecnologias permitem a cidadãos anônimos agir sobre a cidade?
Ratti: Vemos emergir um novo ativismo cidadão. Hoje, muitos municípios dispõem de linhas diretas de telefone, para dar aos cidadãos acesso imediato à prefeitura. Esses sistemas vão evoluir para o de informação no estilo "wiki" [a plataforma colaborativa da Wikipédia], que vão ajudar os cidadãos a se unir e ajudar uns aos outros. Por exemplo, um morador de Boston respondeu a um pedido de ajuda e retirou um gambá da lixeira de outro cidadão em menos de 30 minutos, antes que a Unidade de Controle de Zoonoses pudesse se mobilizar. A habilidade dos cidadãos para "se unir" também pode permitir a criação de novos projetos urbanos.
Valor: Outro projeto seu revela como cidades e Estados se conectam e dividem por meio de chamadas telefônicas. Como isso pode ser usado para desenvolver políticas públicas?
Ratti: O projeto usa a informação sobre como nos conectamos para definir regiões no espaço. Poderiam ser muitas as aplicações: desde usar a informação para redesenhar os distritos eleitorais até informar o planejamento urbano para garantir o nível apropriado de serviço para cada comunidade no espaço.
Valor: Na França, quando as companhias de gás e eletricidade começaram a instalar "leitores inteligentes", a população temeu pela exposição de sua intimidade. Como podemos lidar com esse "lado arriscado" das tecnologias urbanas?
Ratti: Esse é um ponto importante, que vale para todas as tecnologias da vida cotidiana. Quando fazemos um telefonema pelo celular ou uma busca na internet, produzimos informações pessoais que são armazenadas na nuvem. Precisamos parar para pensar e discutir que feições queremos para o mundo da informação no futuro. É essa discussão que vai definir a imagem do mundo de amanhã.
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Já podemos falar com as cidades - Instituto Humanitas Unisinos - IHU