Por: Jonas | 20 Setembro 2012
A Red Hat é a empresa que mais fatura no mundo do Linux. Agora aposta na computação em “nuvem”, com uma plataforma inicialmente gratuita e escalável. “Não temos concorrência direta”, disse Juan Noceda (foto).
A reportagem é de Mariano Blejman, publicada no jornal Página/12, 18-09-2012. A tradução é do Cepat.
O maior problema dos cidadãos, mais ou menos atualizados com o mundo digital, é acerca de onde guardar os dados. As fotos da família, os arquivos de trabalho, os vídeos das crianças, a agenda telefônica. A Internet tem uma solução para tudo. Os grandes programadores têm sustentado que o futuro está na “nuvem”. O Google, a Apple e a Amazon apostam que todos nossos arquivos estarão diretamente na Internet, e que apenas usaremos alguns computadores para nos conectarmos com a rede. Todo o restante acontecerá acima, na “nuvem”, o mais perto possível do deus Internet. A velocidade dos servidores e o aumento do percentual de conexão tornarão factível um mundo que já está ocorrendo. Não somos donos do armazenamento de nossos dados, confiamos em algo que seguramente estará ali para sempre.
No entanto, os grandes programadores da Internet apostam que todos acedam a “nuvem”, em suas empresas, com alguma agenda não totalmente clara, que acabe gerando dependência de milhões de usuários. Talvez, o caso mais emblemático é o fechado circuito de consumo cultural proposto pela Apple, cuja música é quase impossível de copiar a outro artefato que não seja dela mesma. Entretanto, a Red Hat – a empresa pioneira no mundo do GNU/Linux – pensa que outro mundo é possível. Como? Com um serviço que se chama OpenShift, e que combina software livre, servidores gratuitos (até certo limite, também não se criam), independência na hora de sair daí, e suporte no caso de desejar ficar.
E a letra pequena? Não parece haver letra pequena, apesar de o serviço gratuito ter um limite – bastante alto para os requerimentos habituais de pequenos empreendimentos – e com possibilidade de escalar rapidamente, se o assunto der. Escalar não tem nada a ver com o montanhismo, trata-se de uma forma de fazer crescer “o servidor”, de forma automática, na medida em que cada vez mais haja visitas, ou se necessite de mais espaço, mais processamento, essas coisas. “Muitas outras plataformas disponíveis não se baseiam em padrões abertos, mas em tecnologias proprietárias, ou motores ou linguagens proprietárias, e você precisa ter a sua solução sob medida ou transformar essas plataformas”, disse Juan Noceda, da Red Hat, para o jornal Página/12.
E em que se diferencia da “nuvem” do Google, Amazon e Go Daddy? Inicialmente, no piso de entrado que é gratuito e no código da tecnologia OpenShift que também é livre, ou seja, pode ser baixado e instalado em qualquer outro servidor. “Damos muitos tipos de tecnologias como Php, Java, Perl, mas não nos limitamos nelas. Alguém pode ter um sistema aberto e incluir outras tecnologias. Não estão restringidos ao que nós oferecemos.” O OpenShift é o último grande projeto da Red Hat, empresa que se valoriza na Bolsa de Nova York. No ano passado, chegou a faturar um bilhão de dólares por serviços associados, entre outras coisas, ao serviço Red Hat Enterprise Linux.
A Red Hat é uma das empresas-símbolo, como modelo de negócio exitoso no complexo mundo de software livre. Ao invés de cobrar licenças pelo uso de seu sistema operativo, baseado no Linux, cobra pelo serviço para assegurar um sistema estável. Enquanto isso, o ambiente de experimentação – embora sem serviço – cresce no mundo comunitário sob o nome de Fedora. No mundo da OpenShift, o desenvolvimento é semelhante: existe uma versão openshift.com, com uma versão pública administrada pela Red Hat, com assinatura básica totalmente gratuita, com possibilidade de ter uma assinatura Premium quando se vai além do serviço básico (isto ainda não está disponível, até o fim do ano o serviço todo continuará sendo gratuito). “A outra versão é empresarial para ser instalada em centros de dados, para aqueles que possam ou queiram criar sua própria versão de OpenShift e oferecer serviços de plataformas a clientes internos”, disse Noceda. A outra parte do projeto é manter o código aberto e utilizável livremente, para incentivar a inovação. “A ideia é que alguém só pague o que usa”, disse Noceda.
E até quando é gratuito? “Até três nodos de processamento. Cada nodo tem um processador, 1Gb de RAM e 3 Gb de disco. A partir daí oferece elasticidade, auto-escalabilidade, e quando estes requerimentos se tornam ociosos, o sistema os retiram automaticamente”, conta Noceda. Nos últimos oito meses, o crescimento da OpenShift foi exponencial. “Estamos contando com a adesão de dezenas de milhares de usuários, e com um crescimento mais acelerado do que nossos competidores quando começaram”, disse Noceda.
E quais são os competidores? “São competidores parciais. Não há nenhum que reúna as características de OpenShift, por isso nos fazem bons comentários. O Google tem um motor de aplicações que funciona apenas no próprio Google, não é uma comparação direta. O Heroku possui algumas características interessantes, mas não tem a mesma estratégia de software livre. Cada empresa tem sua própria agenda: o Google quer vender publicidade on-line. Nós queremos vender o valor agregado em manejar o plano, e o usuário faz o que quiser: é um acelerador de projetos incrível.”
A Red Hat também não pareceu estar muito preocupada pela possibilidade de que seu sistema aberto seja mal utilizado ou sobre-explorado: “Temos provas de que a pessoa seja um ser humano e de que a conta de correio existe. Depois, temos algoritmos internos da aplicação, que buscam padrões comuns de consumo e de volume, que podem nos alertar, mas neste momento não nos preocupamos muito com isso”, disse Noceda.
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