Por: Jonas | 17 Mai 2012
Se for alcançada, a reconciliação ainda demorará algumas semanas, mas as chancelarias europeias estão se movendo para obter garantias da Santa Sé em relação às possíveis consequências do retorno, em plena comunhão com a Igreja católica, da lefebvriana Fraternidade Sacerdotal de São Pio X.
A reportagem é de Alessandro Speciale, publicada no sítio Vatican Insider, 15-05-2012. A tradução é do Cepat.
Preocupa, sobretudo, o futuro do diálogo católico com os judeus, cujas raízes estão no documento do Concílio Vaticano II, Nostra Aetate, rejeitado – como outras inovações do Concílio – pelos tradicionalistas lefebvrianos.
Por outro lado, os membros da Fraternidade, que nunca esconderam seu ceticismo para o reconhecimento do papel único dos judeus, por parte da teologia católica nos últimos 50 anos, tem afirmado diversas vezes a necessidade de também converter os “irmãos maiores” e em alguns de seus escritos – ultimamente, como de costume, dom Richard Williamson – faz ressoar a acusação de deicídio, que durante séculos “justificou” o antissemitismo e as perseguições cristãs contra os judeus.
Já na ocasião da revogação da excomunhão dos quatro prelados tradicionalistas – que coincidiu de maneira fortuita com a transmissão de um documentário sueco, em que Williamson repetia suas bem conhecidas teses negacionistas e antissemitas – os governos da Alemanha, Irlanda e França, para citar alguns, pediram garantias do Vaticano, enquanto o parlamento belga chegou a aprovar uma moção oficial.
Desta vez, os primeiros a se movimentarem foram os estados alemães. O vice-presidente de Bundestag, Wolfgang Thierse, católico do SPD e membro do Zentralkomitee der deutschen Katholiken (o comitê central de católicos alemães, que reúne os leigos do país), passou quatro dias em Roma para se reunir com diversos representantes da cúpula da Santa Sé, começando pelo cardeal Kurt Koch, presidente da Comissão Vaticana para as relações com o judaísmo.
Ele explicou, numa entrevista aos meios de comunicação alemães, que voltou “tranquilizado”. “Na Alemanha – disse na rádio do arcebispado de Colônia – existe rumores de que o Vaticano “cedeu” aos lefebvrianos, mas o cardeal me garantiu que não é isso. Ele explicou que a Fraternidade de São Pio X precisa reconhecer a autoridade do Magistério e do Concílio Vaticano II. E em relação a dois pontos sensíveis, a relação com os judeus e o reconhecimento da liberdade religiosa, não existe nenhuma vacilação, nem reticências da parte do Vaticano”.
Koch tem sublinhado que o Vaticano, em nível mundial, não pode lutar pelos direitos do homem e pela liberdade religiosa e, em seguida, “acolher um grupo que ainda faz da liberdade religiosa o centro de uma disputa”. “São temas essenciais, sobre os quais não se cederá”, concluiu.
Apesar dessas garantias, o mundo judeu parece continuar preocupado com a possível reconciliação. Na semana passada, o rabino chefe asquenazi de Israel, Yona Metzger, destacou que o Vaticano não deveria concluir nenhum acordo, enquanto os prelados lefebvrianos “não mudarem de ideia” a respeito do documento Nostra Aetate e da relação com os judeus. “Parece-me normal – disse – que todos os líderes da Igreja católica respeitem as decisões do Vaticano”. Há alguns meses, uma chamada de atenção deste tipo já havia sido feita pelos rabinos europeus e pela estadunidense Anti-Defamation League.
Uma vez que a longa saga de aproximação com os tradicionalistas está chegando ao seu ato final, talvez não seja casual que o papa Bento XVI, na última quinta-feira, quisesse reafirmar o valor da encíclica conciliar, diante de um grupo de judeus latino-americanos. Graças ao Concílio, disse, os “irmãos maiores” se converteram em “interlocutores confiáveis e amigos, inclusive bons amigos, capazes de enfrentar, juntos, a crise e de superar os conflitos de maneira positiva”.
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A preocupação da Alemanha pela “paz” vaticana com os lefebvrianos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU