Por: André | 15 Abril 2012
Na corrida para a Casa Branca, aos eleitores americanos interessam mais as crenças religiosas dos candidatos do que sua posição sobre a economia, a saúde e o ambiente. Um estudo realizado na Universidade de Akron pelo Instituto Bliss de Estudos Aplicados documenta a centralidade da fé no debate público norte-americano. Fé e valores ocupam o centro das eleições primárias do Partido Republicano. Embora a economia seja o tema dominante na campanha eleitoral das eleições presidenciais de novembro, está se registrando um forte interesse no debate público pelos temas da fé e dos valores. Uma tendência reforçada também pelas inesperadas vitórias do ex-senador da Pensilvânia, Rick Santorum, que acaba de se retirar favorecendo a candidatura republicada de Mitt Romney. A propósito da relação entre fé e política nos Estados Unidos, o Vatican Insider entrevistou o sociólogo Luca Diotallevi, vicepresidente do comitê organizador das Semanas Sociais dos Católicos Italianos.
A entrevista é de Giacomo Galeazzi e está publicada no sítio Vatican Insider, 11-04-2012. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Professor Diotallevi, é o retorno de Deus às urnas?
Nenhum retorno. Os temas relacionados à religião e mais em geral ao conjunto dos aspectos da tradição judeu-cristã se encontram desde sempre no centro e na base do espaço público nos Estados Unidos. Os Estados Unidos, assim como também a Grã-Bretanha, não são sociedades laicas. No espaço público não se atingiu a separação entre poderes religiosos e poderes políticos eliminando os primeiros e substituindo-os pelos segundos, à maneira da laicidade, mas fazendo uso dos poderes religiosos para limitar os poderes políticos (e vice-versa), à maneira da liberdade religiosa. A liberdade religiosa, deste modo, é expressão da força, não da fraqueza das tradições judeu-cristãs.
O quanto o fator religioso influi na corrida para a Casa Branca?
Muito, mas para entender “como”, é necessário fazer uma distinção. Um candidato que apoiasse os princípios do laicismo, isto é, a exclusão da religião do espaço público, não teria muitas possibilidades de vitória. Mas não teria muito mais um candidato que pretendesse afirmar as regras de uma determinada tradição religiosa diante das exigências da liberdade e da ordem pública. É algo como “não obrigar, não impedir” afirmado pelo Vaticano II no decreto sobre a liberdade religiosa e proposto uma e outra vez por Bento XVI.
A centralidade da fé no debate público não contradiz a secularização que está tendo lugar nos Estados Unidos?
A secularização não tem a mesma forma nem a mesma direção em todos os lugares. A secularização em alguns casos é um fenômeno com características cristãs, em outros com características anticristãs. No primeiro caso reduz as pretensões dos poderes mundanos, no segundo impõe a hegemonia de um só deles, em geral do poder político que se converte em uma religião com fins próprios. Nos Estados Unidos (mas também em muitas áreas da Europa e da diáspora anglo-saxã) a secularização é do primeiro tipo; nos estatismos europeus continentais e nas ditaduras extraeuropeias de influência jacobina a secularização é do segundo tipo. A secularização é um pouco como a ilustração: tem ao menos duas variantes, e bem diferentes entre si.
É uma fé autêntica ou de aparência?
Como poderia responder? A fé é um dom de Deus e, ao menos em parte, é um mistério. O que podemos dizer é que em países como os Estados Unidos, as tradições judeu-cristãs, e de maneira particular o catolicismo, não estão isentas de problemas, mas estão muito vivas e são muito vivazes. Por esse motivo podem contribuir de maneira decisiva na formação do espaço público e da opinião pública.
A pertença à Igreja mórmon favorece ou prejudica Mitt Romney?
Diria que é mais prejudicial; é o que parece quando se observam os resultados das primárias e das pesquisas.
O atrito com os bispos dos Estados Unidos sobre a contracepção enfraquecerá Obama ou atrairá a favor de si ainda mais o voto das mulheres?
É muito difícil prognosticar. Em uma democracia que afinal de contas funciona bem, ganha quem melhor consegue evitar tanto a atenuação de suas posições como o fanatismo, tanto beato como leigo.
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Nos Estados Unidos, a fé conta mais que Wall Street - Instituto Humanitas Unisinos - IHU