Por: Cesar Sanson | 13 Abril 2012
Incentivos para energia solar fotovoltaica e eólica nos Estados Unidos dão retorno social, na forma de novos empregos de qualidade, e econômico, propiciando ganhos financeiros e estimulando amplas parcelas do setor produtivo.
O comentário é de Sérgio Abranches em artigo no seu blog, 10-04-2012.
Eis o artigo.
A presidente Dilma Rousseff caracterizou como fantasia para o mundo e para o Brasil o uso extensivo de energia solar e eólica, em improviso para o Fórum Brasileiro de Mudança Climática. No EUA essas fontes geraram em três anos mais de 200 mil empregos de qualidade, valor de produção da ordem de quase US$ 45 bilhões e lucros em torno de US$ 15 bilhões.
Foram dias de negociações dramáticas depois do nervoso final de semana em que as autoridades do EUA ficaram sabendo que todo o setor financeiro estava assentado em papéis tóxicos e vários bancos já estavam quebrados. Ao longo desses dias foi ficando que já havia um efeito dominó em curso que poderia levar ao colapso do sistema financeiro global até o último dominó. As autoridades econômicas vislumbravam uma depressão maior que a de 1929. Haviam concluído que era preciso salvar os bancos e tomar medidas anticíclicas que mitigassem o tamanho da recessão previsível.
Washington vivia uma situação delicada. Tinha dois presidentes. Um sairia em poucas semanas, mas tinha o poder presidencial nas mãos e a maioria no Congresso. O outro, já eleito, tomaria posse em breve, com uma nova, porém mais delicada maioria. George Bush havia governado com o espírito da guerra fria, polarizador e militarista. Tinha relações pessoais e familiares muito próximas com a indústria do petróleo. Barack Obama, primeiro presidente negro da história do país, tinha formação acadêmica mais sólida e havia feito campanha pela paz e pela economia de baixo carbono. Eram antípodas ideológica e politicamente, sentados lado a lado na mais tensa, intensa e aflita das negociações econômicas em décadas.
Bush queria dar um cheque em branco aos bancos e reduzir impostos para estimular a economia. Obama queria um programa com salvaguardas e fazia questão que ele incluísse estímulos antirecessivos, com uma parcela significativa para as tecnologias limpas e as energias renováveis não-convencionais, como solar fotovoltaica e eólica. Obama conseguiu que 12%, em torno de US$ 110 milhões, fossem usados para incentivar tecnologias limpas. Logo após sua posse, nas negociações para ampliar o pacote de estímulos à economia, Obama aprovou um pacote de US$ 9 bilhões, por três anos, para energias renováveis não convencionais, isto é, fotovoltaica e eólica, excluindo hidreletricidade e nuclear.
O programa acaba de se esgotar, Obama quer renova-lo, os republicanos estão vetando a renovação. O departamento de energia divulgou esta semana o balanço do programa. Foi um completo sucesso, apesar de alguns erros de alocação de recursos a empresas que se mostraram inviáveis, principalmente no setor de energia solar. Os republicanos usam o caso de algumas empresas que quebraram, como da Solyndra e, o mais recente, da Solar Trust, para atacar esses estímulos. Mas o programa gerou empregos diretos e indiretos de qualidade – eu já havia comentado aqui estudo que mostrava isso – um valor de produção expressivo e rentabilidade bastante atraente. No caso Solyndra, Obama, questionado, disse que o projeto não representava todo o seu programa. Na verdade, foi uma aposta de risco em uma tecnologia alternativa ao silício que deu errado. Faz parte do jogo da inovação.
Os problemas da Solar Trust não se localizam exatamente nos Estados Unidos, mas na Europa, por causa da crise financeira e dos apertos fiscais generalizados. Ela pertence à empresa alemã Solar Millennium, que passou a ter problemas financeiros com a redução dos generosos incentivos dos governos alemão, italiano e espanhol e a queda dos preços da energia solar. Mas esses dois casos não dissiparam os benefícios sociais e econômicos propiciados pelos projetos de energia solar e eólica incentivados pelo pacote de Obama.
O relatório do Laboratório Nacional de Energia Renovável (National Renewable Energy Laboratory) estimou que o programa gerou em torno de 75 mil empregos diretos e indiretos por ano, nesses três anos, totalizando perto de 220 mil empregos. Além disso, o balanço mostra que esses projetos manterão em torno de 5500 empregos diretos e indiretos ao longo dos 20-30 anos de vida útil das usinas, em operação e manutenção.
Uma das características dessas fontes de energia é que elas geram muito impulso ao longo da cadeia de suprimentos. Os empregos são gerados em maior número na cadeia de suprimentos do que no design, construção e instalação dos projetos. Nessas fases foram gerados em torno de 10 mil empregos diretos por ano. Na manufatura e outros setores da cadeia de suprimentos, foram gerados perto de 65 mil empregos indiretos por ano. Por não serem setores autocontidos, têm muita capacidade de estimular outros segmentos da economia, principalmente à montante da cadeia de suprimentos.
Estima-se que os US$ 9 bilhões de recursos públicos investidos nesses projetos tenham gerado até US$ 45 bilhões em valor de produção, com lucros da ordem de US$ 14 bilhões. Pouco menos de US$ 15 bilhões em média ao ano de valor da produção, para ganhos de quase US$ 5 bilhões em média.
Esses números não se referem ao emprego e ao valor de produção de toda a indústria de energia fotovoltaica e eólica, mas apenas aos projetos alcançados pelo programa aprovado em 2009. Posteriormente houve outros incentivos e volume crescente, também, de investimentos privados de capital de risco na indústria. Significa que o setor como um todo é ainda maior, gera volume adicional significativo de empregos e tem efeitos dinâmicos mais amplos no sistema produtivo do EUA.
A economia verde não significa sacrifício de emprego, nem redução de crescimento econômico. Ela significa empregos e renda verdes, de melhor qualidade, e está estruturada em torno de setores muito dinâmicos, que estimulam a inovação.
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"Nos Estados Unidos energia solar e eólica não é fantasia: é estímulo econômico" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU