05 Março 2012
A taxa de desemprego em níveis baixos anima alguns economistas, que já falam em pleno emprego no País. No entanto, pesquisadores alertam que as condições do mercado de trabalho estão longe do ideal. Por isso, para eles, é uma hipótese ainda afastada. O argumento é o de que o emprego no País é marcado por alto nível de informalidade, baixos salários e empregos precários.
A reportagem é de Daniela Amorim e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 04-03-2012.
A taxa de desocupação sobe consideravelmente quando inclui o desemprego oculto, pessoas que deixaram de procurar emprego por falta de perspectivas e encontram-se em situação de desalento, além das ocupadas em empregos precários.
Na região metropolitana de São Paulo, o desemprego oculto chegou a 2% em janeiro. Somado a uma taxa de desemprego média de 7,6% no mês, a taxa de desemprego real sobe para 9,6%, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
"Não dá nem de longe para chamar de pleno emprego", afirmou Sérgio Mendonça, economista do Dieese. Mendonça não vê uma situação de pleno emprego nem na taxa de desocupação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que fechou a 5,5% em janeiro.
O economista acredita que só poderia ser comemorado um nível de desemprego de 4%. "Mas, no caso brasileiro, ainda há outra questão: uma brutal informalidade", lembrou Mendonça.
No total do País, a pesquisa encontrou uma taxa de desemprego oculto de 2,3% em janeiro, que, somada aos 7,2% de desemprego aberto, levam a um índice de desocupação real de 9,5%. O Dieese recolhe informações em apenas sete regiões metropolitanas: São Paulo, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Distrito Federal, Salvador e Fortaleza.
O Ipea aponta que o nível de informalidade, embora venha melhorando, ficou em 34,3% em janeiro de 2012. O coordenador do Grupo de Análise e Previsões do instituto, Roberto Messenberg, acha difícil fixar uma taxa de desocupação no Brasil que pudesse ser considerada uma situação de pleno emprego, por causa da heterogeneidade do mercado brasileiro.
"É possível aumentar muito o emprego no País mantendo uma mesma taxa de desemprego de 6%", defendeu o coordenador do Ipea. "Há muitas pessoas em condições de trabalho precário e muita gente fora da População Economicamente Ativa considerada desalentada."
Distorções
Messenberg lembra que a taxa de desemprego nos moldes que é apurada hoje causa distorções, como a inclusão dos trabalhadores subempregados e a exclusão daqueles que deixaram de procurar emprego em razão de salários baixos e vagas pouco atraentes.
O vendedor ambulante Eduardo Costa, de 25 anos, vive uma situação de subemprego, vendendo relógios pelas ruas do Rio de Janeiro.
Apesar de trabalhar em situação irregular, que lhe causa prejuízos quando tem a mercadoria apreendida pela Prefeitura, Costa é considerado empregado nas pesquisas oficiais.
"Já tentei vaga de vendedor em loja e atendente de supermercado, mas não consegui o emprego", contou o camelô, que há dois anos e meio vive das pequenas vendas nas ruas. "Mas eu vou sair da rua com certeza."
Costa aponta ainda outro empecilho para que possa, enfim, conquistar uma vaga formal: os baixos salários não compensam os benefícios oferecidos aos que possuem carteira assinada.
"Com carteira assinada, a média de salário é R$ 700, R$ 800. Um camelô consegue tirar isso em 15 dias. Mesmo descontando o prejuízo que tenho com mercadoria apreendida, tiro, no mínimo, R$ 1.500 por mês trabalhando na rua", calculou.
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Analistas rebatem tese de pleno emprego - Instituto Humanitas Unisinos - IHU