Por: André | 29 Fevereiro 2012
No dia 25 de janeiro de 1959, João XXIII anunciou a realização de um Concílio Ecumênico. O Concílio Vaticano II, que começou no dia 11 de outubro de 1962, terminaria no dia 08 de dezembro de 1965.
A reportagem é Laurence Desjoyaux e publicada pelo jornal La Croix, 24-02-2012. A tradução é do Cepat.
O que é um concílio ecumênico?
É um encontro de bispos cujo objetivo é precisar ou reorientar a doutrina da fé e fortalecer ou reformar a organização da Igreja. Ao contrário dos concílios regionais, um concílio ecumênico reúne os bispos da oikumène, do mundo inteiro. Suas decisões devem ser aplicadas pelos fiéis de todo o mundo. Já houve 21 concílios ecumênicos na história da Igreja.
Quem convoca um concílio ecumênico?
Os primeiros oito Concílios Ecumênicos foram convocados por imperadores romanos. Na época, a autoridade do Papa não era tão universal como hoje e apenas o imperador podia impor suas leis do Oriente ao Ocidente (1). Os treze Concílios seguintes foram convocados pelos papas.
O Código de Direito Canônico é claro: “Compete exclusivamente ao Romano Pontífice convocar o Concílio Ecumênico, presidi-lo por si ou por meio de outros, transferir, suspender ou dissolver o mesmo Concílio, e aprovar os seus decretos” (2). João XXIII convocou os bispos para o Concílio Vaticano II no dia 25 de dezembro de 1961, através da Bula Humanae Salutis.
Por quê?
O Concílio é convocado para examinar questões de doutrina ou de organização da Igreja. Trata-se muitas vezes de resolver na unidade e na cúpula conflitos que atravessam as comunidades locais. Assim, os primeiros Concílios tiveram por objetivo definir dogmas, tais como a natureza de Cristo ou da Trindade, enquanto diversas teorias se alastravam pela Igreja. Outros aconteceram depois de cismas para tentar resolver ou definir a posição da Igreja em relação ao ramo cismático.
Enfim, os Concílios Ecumênicos servem também para resolver problemas pastorais e disciplinares desde o uso do vestuário litúrgico até a prática de duelos passando pela publicação de admoestações de casamento. O Concílio Vaticano II não respondeu especificamente a uma crise na Igreja. Nos diferentes discursos que precederam o Concílio, João XXIII evocou mais a necessidade de um aggiornamento, de uma atualização da mensagem da Igreja, para melhor transmiti-la aos homens contemporâneos.
Quem participou do Concílio Vaticano II?
2.850 “padres conciliares”, todos os bispos, patriarcas, superiores de ordens e de comunidades religiosas, foram convidados. Em média, 2.400 deles estavam presentes em cada sessão. Eles vieram de 116 países e 64% não eram europeus, ao passo que do Concílio Vaticano I, 40% dos bispos eram italianos! Episcopados inteiros não puderam participar por terem ficado presos em seus países pelos regimes comunistas da China, da Coreia do Norte, do Vietnã ou da União Soviética.
Muitos outros atores participaram de perto ou de longe do Concílio. 487 peritos teólogos foram assim nomeados por João XXIII e Paulo VI para aconselhar os bispos. A estes se devem acrescentar cerca de cem observadores de outras Igrejas e 42 leigos ouvintes, incluindo sete mulheres que puderam acompanhar os debates (3).
Como se desenvolveram as sessões?
Os temas abordados durante o Concílio Vaticano II foram divididos em quatro sessões, de setembro a dezembro de 1962 a 1965. Durante essas sessões, houve 10 sessões plenárias públicas, sendo as demais sessões, 168 ao todo, abertas a um público restrito de observadores e ouvintes. Essas “congregações gerais” realizaram-se no salão nobre, um anfiteatro composto de duas tribunas de 190 metros de comprimento situado em frente à Basílica de São Pedro.
Elas começavam às 9 horas com a Eucaristia, depois os bispos debatiam os esquemas elaborados pelas 10 comissões preparatórias. Sob condições bem precisas, alguns tinham o direito de fazer o uso da palavra por 10 minutos e em latim para criticar estes textos ou defendê-los. Ao meio-dia, os trabalhos eram interrompidos para dar lugar a encontros oficiais ou semi-oficiais e para permitir aos peritos e às comissões especializadas alterar os textos de acordo com os debates na parte da manhã.
De que se fala no Concílio Vaticano II?
Os textos que resultaram do Concílio Vaticano II abordam os temas mais diversos como as fontes da fé, a liturgia ou ainda a liberdade religiosa e as relações com as outras religiões. Em geral, podemos agrupar os temas tratados em três categorias: o que é a Igreja, o que a Igreja faz e as relações da Igreja com o mundo (4).
Durante o Concílio, algumas matérias foram discutidas de forma especial. Na primeira sessão, o esquema sobre a Revelação foi muito criticado e João XXIII foi forçado a intervir no sentido de adiar o estudo do texto. Na segunda sessão, Paulo VI se envolve diretamente na questão da colegialidade. Finalmente, a elaboração de textos sobre o ecumenismo, a liberdade religiosa e os judeus deram lugar a acalorados debates na aula conciliar.
Como votam os padres conciliares?
Uma vez corrigidos, os esquemas iniciais são submetidos à votação. Dessa maneira, foram realizadas 538 votações durante as congregações gerais das quatro sessões. Com uma média de 2.200 cédulas, foram, no total, mais de um milhão de cédulas distribuídas. Enquanto um esquema não era aprovado por uma maioria de dois terços, ele era novamente modificado pelas respectivas comissões. Quando o texto era aprovado, ele podia ser promulgado pelo Papa sob a forma de Constituição, decreto ou declaração. Ao longo das quatro sessões do Concílio, foram promulgados quatro Constituições, nove decretos e três declarações.
Quanto custou o Concílio?
De acordo com a L'Osservatore Romano (5), o Concílio, incluindo a fase preparatória, custou 4,5 bilhões de liras italianas, ou seja, entre 30 milhões e 40 milhões de euros no valor de hoje. Os trabalhos exigiam diariamente o trabalho noturno de 200 trabalhadores durante quase cinco meses e teve que financiar a viagem e o alojamento de muitos dos bispos presentes em Roma.
As Conferências Episcopais da Alemanha e da América do Norte foram particularmente generosas. O custo do Concílio Vaticano II, no entanto, nunca foi abordado durante os trabalhos do Concílio para não perturbar a agenda ou acelerar artificialmente os debates.
Notas:
1. CHIRON, Yves. Histoire des conciles, Éd. Perrin, 2011.
2. Código de Direito Canônico, c. 338, § 1.
3. O’MALLEY, John W. L’Événement Vatican II, Éd. Lessius, 2011.
4. POUPARD, Paul. Le Concile Vatican II, Éd. PUF, 1983.
5. Le Concile Vatican II, Synthèse historico-théologique des travaux et des documents, numéro spécial de L’Osservatore Romano, Éd. Apostolat des Éditions, 1966.
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Vaticano II, um Concílio Ecumênico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU