A bolha da insubordinação

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Por: André | 12 Dezembro 2011

"O aumento dos lucros realiza-se através de recortes nos salários e no emprego, através da flexibilização do trabalho e da externalização dos processos de extração/apropriação do valor produzido na esfera da circulação de capital. Neste movimento de expansão do capital, os bens comuns são "cercados’, isto é, privatizados, gerando a marginalização e a pobreza. A acumulação de capital se realiza por meio da exclusão, da exploração não remunerada da vida, do "desemprego ativo’", escreve o economista italiano Christian Marazzi, em artigo publicado no sítio Rebelión, 11-12-2011. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

A crise do capitalismo financeiro que se impôs nos últimos 30 anos tem seu reflexo na relação entre capital e trabalho que marcou o fim do regime fordista de acumulação e a transição para um capitalismo caracterizado pela centralidade da renda em relação às variáveis "reais", isto é, salário, preço e lucro. A financeirização da economia, iniciada nos anos 70 com a desregulação dos mercados de divisas que se seguiu à ruptura dos acordos de Bretton Woods, se desenvolve com a desregulação dos mercados financeiros com o surgimento dos mercados de obrigações aos quais os Estados estão recorrendo para financeira sua própria dívida pública, se expande posteriormente no final dos anos 80 com o desenvolvimento dos mercados de produtos derivados e, em meados dos anos 90 até hoje, com a globalização dos mercados monetários e financeiros.

"Mas, o mais impressionante – escreve François Morin em seu Um mundo sem Wall Street? – é, sem dúvida, a rapidez com que os mercados de cobertura se desenvolveram. Em 1987, o volume do câmbio sobre os mercados de opções era de 1,7 tera de dólares (1,7 T$), ao passo que no final de 2009 havia alcançado os 426, 7 T$. Excetuando-se os CDS que passaram de 0,9 T$ em 2001 para 62,1 T$ em 2007, para depois caírem para 30,4 T$ em 2009, esta fulgurante expansão não foi detida pela crise". A criação de liquidez, em outras palavras, é praticamente ilimitada e alimenta um mercado financeiro onde os riscos associados aos mais diversos produtos estão todos relacionados entre si, dando lugar a processos infecciosos que mantêm uma bolha atrás de outra, da bolha da internet à bolha dos subprimes, passando pela dívida soberana. É da natureza dos mercados financeiros serem instáveis, sujeitos a processos autorreferenciais, de tal maneira que o aumento do preço de um ativo financeiro não causa a redução de sua demanda, mas, pelo contrário, seu posterior aumento, facilitado pelo acesso ao crédito.

A autonomia das finanças em relação à economia real é a outra face da autonomia do capital na relação direta entre capital e trabalho assalariado, aquele processo no qual o capital coloniza sempre novas "terras virgens", subsumindo primeiro o trabalho assalariado às finanças e à dívida, e depois os bens comuns de toda a população através da privatização da dívida pública e, por último, a própria soberania dos Estados. É um processo sincopado, que se expande e se contrai alternadamente, que nas últimas décadas viu a bifurcação entre as taxas de lucro e as taxas de acumulação; as primeiras em constante aumento e as segundas estancadas, se não em regressão.

O aumento dos lucros realiza-se através dos recortes nos salários e no emprego, através da flexibilização do trabalho e da externalização dos processos de extração/apropriação do valor produzido na esfera da circulação de capital. Neste movimento de expansão do capital, os bens comuns são "cercados", isto é, privatizados, gerando a marginalização e a pobreza. A acumulação de capital se realiza por meio da exclusão, da exploração não remunerada da vida, do "desemprego ativo". Realiza-se através da generalização das relações de dívida/crédito para todo o ciclo da vida do capital e da força de trabalho. De fato, como escreveu Maurizio Lazzarato, o capitalismo financeiro é uma autêntica "fábrica do homem endividado".

As margens de reforma na atual configuração do capitalismo financeiro, de "regulamentação" dos mercados, de reestruturação da dívida privada e soberana, são extremamente reduzidas. De fato, a reivindicação do "direito à insolvência" tem sentido como objetivo para sair do capitalismo, como um processo de insubordinação desde abaixo, que deve encontrar as formas de autodeterminação em si mesmo. Está em jogo não a queda de um país ou outro, dado que a financeirização já alcançou tal nível de interdependência que torna praticamente impossível qualquer redução da dívida sem efeitos devastadores para todos, mas a constituição de um contrapoder constituinte dentro dos processos de mobilização social.