14 Novembro 2011
De um lado, as grandes promessas da ciência e da medicina para o bem-estar e o futuro do homem. De outro, o risco de que, sobre o altar do progresso – ou, pior, do ganho imediato que pode ser obtido a partir de uma descoberta –, sejam sacrificadas a dignidade humana e a própria vida. É um dilema que a Igreja e o Papa Bento XVI conhecem bem e que não se recusam a enfrentar.
A reportagem é de Alessandro Speciale, publicada no sítio Vatican Insider, 12-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eles o fizeram, por exemplo, com o grande congresso organizado nesta semana em Roma sobre as células-tronco. A "medicina regenerativa", que promete reconstruir os órgãos danificados por doenças ou pela idade, é uma das fronteiras mais avançadas da atual pesquisa médica. Mas também apresenta enormes dilemas éticos, porque as células-tronco podem ser obtidas à custa da sua destruição, dos embriões humanos.
Para o Papa Ratzinger – que recebeu neste sábado, em audiência, os participantes do congresso, fruto da parceria entre o Conselho Pontifício para a Cultura e a empresa farmacêutica norte-americana NeoStem –, quem justifica essas ações com a possibilidade de salvar vidas humanas e de curar doenças até hoje incuráveis comete "o grave erro de negar o direito inalienável à vida de todo ser humano, desde o momento da concepção até a morte natural".
De fato, "a destruição mesmo que de uma única vida humana jamais pode ser justificada nos termos do benefício que ela, um dia, poderia trazer para outra pessoa".
Mas a Igreja também está consciente das acusações de obscurantismo que regularmente lhe são dirigidas e não quer permanecer fora daquele que parece ser o futuro da medicina. Daí o apoio explícito e convicto à pesquisa com células-tronco "adultas", obtidas por meio da "reprogramação" das células retiradas de um indivíduo adulto ou do cordão umbilical.
Um percurso de pesquisa não só rico de promessas, mas que, como destacou o pontífice, "em geral, não suscita problemas éticos".
É uma aposta do Vaticano na pesquisa com células estaminais adultas, que nasce da certeza de que "explorar as maravilhas do universo, a complexidade da natureza e a beleza peculiar da vida, incluindo a vida humana", faz parte da própria natureza do ser humano. Não se trata, porém, de um tatear às cegas, sem guia e sem meta.
"A partir do momento em que os seres humanos são dotados de uma alma imortal e são criados à imagem e semelhança de Deus – advertiu o Papa Ratzinger –, há dimensões da existência humana que estão além dos limites do que as ciências naturais são competentes para determinar. Se esses limites são violados, há o sério risco de que a dignidade única e inviolável da vida humana possa ser subordinada a considerações meramente utilitaristas".
Certamente, a "mentalidade pragmática" tão difundida hoje leva a justificar todos os meios a fim de se alcançar o fim desejado. Mas é uma mentalidade que leva a "consequências desastrosas induzidas por tal pensamento". Já se pôde ver isso no passado e ainda é possível ver hoje, mesmo que se trate de esforços animados pelo propósito "altamente desejável" de encontrar uma cura para as doenças degenerativas.
Mas "varrer as objeções éticas e prosseguir com qualquer pesquisa que pareça oferecer a perspectiva de uma reviravolta" é uma "tentação" à qual "os cientistas e os responsáveis políticos" não devem ceder.
Ao contrário, a pesquisa com células-tronco adultas e com terapias que nelas se baseiam poderiam ser "um significativo passo adiante na ciência médica, trazendo nova esperança aos doentes e às suas famílias". Por isso, a Igreja oferece o seu "encorajamento àqueles que estão envolvidos na realização e no apoio de pesquisas nesse campo".
Dada a delicadeza do que está em jogo, para o Papa Ratzinger, o "diálogo entre ciência e ética" torna-se cada vez mais central para "garantir que os progressos da medicina jamais sejam obtidos ao preço de custos humanos inaceitáveis".
Para o papa, ao contrário do que muitos lhe imputam, "a Igreja não pensa só no nascituro, mas também naqueles que não têm fácil acesso a tratamento médicos caros", porque "a doença não faz exceção entre as pessoas, e é justo que todos os esforços sejam feitos para pôr os frutos da pesquisa científica à disposição de todos aqueles que deles poderiam se beneficiar, independentemente dos seus meios".
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Pesquisa com células-tronco embrionárias: o dilema da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU