A tentativa de parlamentares defensores da punição de torturadores de rever a
Lei da Anistia sofreu um revés na Câmara dos Deputados. A Comissão de Relações Exteriores da Casa rejeitou anteontem dois projetos que tratam do tema. A proposta segue tramitando e irá ainda à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e ao plenário, mas o parecer contrário torna mais difícil transformar a ideia em lei.
A reportagem é de
Eduardo Bresciani e publicada pelo jornal
O Estado de S. Paulo, 30-09-2011.
As propostas foram apresentadas ao Congresso neste ano pelos deputados
Chico Alencar (PSOL-RJ) e
Luiza Erundina (PSB-SP). Eles desejam editar uma norma legal determinando que crimes cometidos por agentes públicos contra pessoas que combateram a ditadura militar não se incluem no conceito de "crimes conexos" dispostos na
Lei da Anistia.
O tema foi debatido no ano passado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e o resultado foi de que os crimes praticados por agentes públicos estão anistiados pela lei. Para
Erundina, porém, o julgamento não encerra o debate e o Congresso teria o poder para mudar a legislação. Ela destaca que o País já foi condenado pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos por não ter punido torturadores.
O relator,
Hugo Napoleão (DEM-PI), porém, argumentou em seu voto ter havido um pacto entre as forças políticas na época em favor de uma "anistia ampla, geral e irrestrita". Ele ressaltou ainda não ser possível produzir uma lei nova para punir crimes do passado.
Debate
A votação dos projetos ocorreu de forma simbólica e depois de o governo evitar o debate em reuniões anteriores para que não existisse contaminação na votação da
Comissão da Verdade, aprovada pela Câmara semana passada. Os governistas, que evitaram a possibilidade de votação nominal, foram fundamentais para a rejeição do projeto.
Para o deputado
Chico Alencar, o resultado retrata a dificuldade para mudar a legislação sobre o tema. "Acho que significou que do ponto de vista do Legislativo a interpretação do Supremo que os torturadores são inimputáveis foi referendada. Foi um sinal que as condições de aprovação deste projeto na Câmara são precárias", afirmou o deputado, descrente com as perspectivas do próprio projeto.
Durante a sessão, os parlamentares governistas procuraram enfatizar que o governo já está tratando da questão dos crimes cometidos durante o regime militar por meio da
Comissão da Verdade, que vai investigar violações aos direitos humanas ocorridas entre 1946 e 1988.
O deputado do PSOL atribui o fato de o PT e deputados que combateram o regime terem ficado contrários à revisão da
Lei da Anistia mostra a um possível "medo" em relação aos militares. Já o deputado
Jair Bolsonaro (PP-RJ) acredita que a intenção da Comissão da Verdade é abrir uma porta para punir militares no futuro. "Daria muito na cara o governo aprovar este projeto da
Erundina agora porque ia entregar que a
Comissão da Verdade é para retaliar."
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Comissão veta mudança na Lei de Anistia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU