30 Setembro 2011
Enquanto na Itália o cardeal Angelo Bagnasco pessoalmente arquiva definitivamente os últimos resíduos de legitimidade eclesial do "berlusconismo", na Rússia, o Patriarcado de Moscou confirma e promove seu apoio incondicional à liderança "neoczarista" de Valdimir Putin.
A reportagem é de Andrés Beltramo Alvarez e está publicada no sítio Vatican Insider, 27-09-2011. A tradução é do Cepat.
A última prova da proximidade eclesiástica com o regime de Putin é a bênção patriarcal vinda imediatamente após a notícia de que o ex-"delfim" – e atual presidente – Dmitri Medvedev se afastará e não irá concorrer novamente, para deixar o caminho livre de volta ao Kremlin a Putin, que nos últimos anos teve que exercitar sua hegemonia na penumbra de seu cargo de Primeiro Ministro. A anunciada desistência – que após calibradas reformas oferece a Putin a possibilidade de exercitar novamente em primeira pessoa o poder presidencial até 2024 – foi celebrada pelo Arcipreste Vsevolod Chaplin com acentos de uma certa aparência messiânica.
O jovem eclesiástico de futuro promissor, nomeado pelo patriarca Kirill para dirigir o departamento sinodal de relações entre Igreja e Sociedade não poupou tons com uma ênfase de revanche. "Quando aconteceu na história da Rússia", se perguntou Chaplin, "que o supremo poder do país mude de mão de um modo tão pacífico, digno, honesto e amigável?" Segundo o Arcipreste o turn over concordado entre Medvedev e Putin é "um exemplo de cortesia e integridade política", que "teria sido motivo de inveja para os nossos predecessores e para as pessoas que viveram durante o período soviético" e teria que provocar inveja, com razão, na "maior parte dos países do mundo, compreendidos também aqueles que tratam sempre de nos dar lições".
Nas considerações feitas à agência Interfax, porta-voz autorizado do Patriarcado moscovita, determinou-se a analisar detalhadamente a manobra de Putin como um modelo de harmonia entre os diferentes órgãos que, sob o ponto de vista ortodoxo, teria sempre que caracterizar as fases de transição sob a guia de classes dirigentes iluminadas: "Em um país no qual a paz, o bem-estar e inclusive a vida de milhões de pessoas dependem da pessoa que está na cúpula da estrutura vertical da autoridade", destacou Chaplin, "a passagem de poder tem que ser realizada de modo extremamente responsável, deve excluir qualquer tipo de enfrentamento no vértice, não apenas entre os indivíduos, mas também entre grupos de amplo afinco social que estes indivíduos poderiam inscrever em uma ou outra parte".
E indo ainda mais longe, o Arcipreste ortodoxo estendeu seus elogios ao congresso do Partido Rússia Unida que foi o marco para os importantes anúncios dos futuros movimentos de Putin. O acontecimento do último final de semana em Moscou foi exaltado por Chaplin como um evento que ofereceu visibilidade aos pedidos dos setores mais vivos da sociedade russa, cujos membros mais ativos e sensatos expressaram um apoio sincero e unânime ao panorama político representado por Putin-Medvedev.
Ao contrário da hierarquia eclesiástica italiana, a da Ortodoxia Russa não parece que esteja se estomando os miolos para encontrar sujeitos políticos que estejam ao seu lado e confiar-lhes a defesa das necessidades eclesiais. Há alguns dias, também o sacerdote ortodoxo Yoann Okhlobystin retirou oficialmente sua improvisada e inconstante candidatura nas próximas eleições presidenciais justificando sua ação com o ostracismo manifestado em relação aos seus projetos por parte do Patriarcado de Moscou.
Para a desiderata do episcopado russo, encabeçado por um líder dotado de uma enorme visão estratégica como o atual Patriarca Kirill, o retorno à cena de Putin representa uma garantia mais que suficiente. Durante os últimos 15 anos o tão traído e partido orgulho russo da Era "Putiniana" encontrou um importantíssimo apoio ideológico na tendência cultural que exalta a Ortodoxia como matriz espiritual da tradição nacional russa, com acentos especulares aos usados no Ocidente por eclesiásticos e comentaristas Teocon. Agora, para o patriarca moscovita, trata-se apenas de continuar recolhendo os frutos da aliança que durante os últimos anos, por meio de acordos de tipo concordatário com os diferentes níveis do poder russo, lhe garantiu o acesso a importantes setores da vida civil: escolas, hospitais, cárceres, exército.
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Berlusconi, Vladimir e o alto clero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU