Uma homenagem de políticos ao general
Golbery do Couto e Silva (1911-1987), um dos principais nomes da ditadura militar, provocou revolta no Rio Grande do Sul.
A reportagem é de
Felipe Bächtold e publicada pelo jornal
Folha de S. Paulo, 02-09-2011.
O centenário de nascimento de Golbery, no último dia 21, foi lembrado pela Prefeitura de Rio Grande (a 311 km de Porto Alegre), onde ele nasceu, com uma cerimônia e um projeto de monumento na praça central.
O prefeito
Fábio Branco (PMDB) disse na ocasião, ao lado de oficiais militares, que
Golbery prestou "muitos serviços" à terra natal. Só dois dos 13 vereadores da cidade se opuseram à homenagem.
O general, que morreu em 1987, foi um dos principais articuladores do golpe de 1964 e o responsável pela criação do
SNI (Serviço Nacional de Informações), tendo comandado o órgão durante o governo
Castello Branco (1964-1967).
Mais tarde, foi ministro-chefe da Casa Civil do presidente
Ernesto Geisel (1974-1979), quando articulou a distensão "lenta, gradual e segura" da ditadura.
Permaneceu no cargo no início do governo
João Baptista Figueiredo, mas pediu demissão em 1981. Depois, apoiou a candidatura de
Paulo Maluf à Presidência.
A iniciativa de homenageá-lo partiu da prefeitura e virou motivo de mobilização na internet. Um abaixo-assinado foi criado contra a medida, que se tornou alvo também da
União da Juventude Socialista, ligada ao PC do B.
Leis municipais de 2003 e 2009 deram o nome do general a um bairro e a uma avenida de Rio Grande, cidade de 197 mil habitantes. Também há um busto do ministro na praça de um quartel.
O vereador
Júlio Martins (PC do B) disse que se opôs à homenagem devido "ao que representa a figura de
Golbery na ditadura militar, na perseguição a brasileiros, e como ideólogo da Lei de Segurança Nacional".
Disse ainda que a ideia partiu daqueles que foram beneficiados pelo regime e que os militares indicaram, no período, um coronel como interventor do município.
O movimento estudantil local deve organizar protestos sobre o caso e chama o general de "figura nefasta".
O prefeito do PMDB afirmou que o monumento é apenas um reconhecimento a quem ajudou a cidade com obras e com a federalização da universidade local.
"Não vou entrar no mérito de se ele era da ditadura ou não. Eu não era nem nascido", afirma
Fábio Branco, 39.
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Homenagem ao general Golbery provoca revolta em cidade gaúcha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU