27 Agosto 2011
"Jango chegara vivo graças a uma insubordinação: caças a jato da FAB receberam ordem de abater o avião de passageiros da Panair em que Jango estava", recorda Jânio de Freitas, jornalista, referindo-se aos 50 anos da Campanha da Legalidade, liderada por Leonel de Moura Brizola, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 28-08-2011.
Segundo o jornalista, "nas cassações de 1964 veio a vingança a quem se recusou ao crime monstruoso, nela incluída a negação futura de licença para pilotar até aviões comerciais em empresas e territórios estrangeiros. O ódio de 1955 e de 1961 jorrava, furioso".
Eis o artigo.
A maltratada história brasileira recente tem no que ocorreu há exatos 50 anos, em seguida à renúncia de Jânio Quadros, um rombo que a desonra. Foi um episódio grandioso demais, por si mesmo e como um dos fatores mais importantes do que viria, para ficar sem o merecido estudo e apenas nas memórias que o tempo vem levando, em números já próximos do final, para o desconhecido.
Nos primeiros anos daquele período, encerrado com o golpe de 1964, três ou quatro editoras dispuseram-se a publicar uns poucos livros a respeito. Ficaram como contribuições informativas, mas por força do imediatismo e da carga passional do momento, ou apenas introdutórios, ou reflexos de comprometimento pessoal, ou ambos.
Eram testemunhos e jornalismo em livro, não trabalho de historiografia, propriamente.
O golpe de 1964, por exemplo, foi a efetivação do fracassado golpismo que, em 1955, pretendeu impedir a candidatura de Juscelino e, depois, a posse na Presidência, mas sua raiz factual mais funda não foi essa. Foi a descarga dos ódios ampliados ou criados no golpismo pela derrota que lhe impôs, como às Forças Armadas, o levante do então governador gaúcho Brizola, em defesa da posse do vice Jango Goulart como determinado pela Constituição.
A derrota em 1961 foi fator fundamental para 1964 por vias variadas. Nem por isso tal aspecto foi sequer arranhado nas escassas e rarefeitas referências àquele episódio.
Dá ideia das disposições derrotadas, em 1961, um episódio sem registro histórico, mas comprovado. Em visita à China quando Jânio renunciou, Jango, além de retardar a saída, fez a mais sinuosa, saltitante e demorada volta de lá ao Brasil. Desde o dia seguinte à renúncia, jornais noticiavam aqui a sua chegada, havida ou para logo, e essa era só uma das suas muitas invenções na ocasião. Afinal chegado pelo Sul, Jango só viajou a Brasília depois de aceita a mudança do presidencialismo para o parlamentarismo.
Chegara vivo graças a uma insubordinação: caças a jato da FAB receberam ordem de abater o avião de passageiros da Panair em que Jango estava. Nas cassações de 1964 veio a vingança a quem se recusou ao crime monstruoso, nela incluída a negação futura de licença para pilotar até aviões comerciais em empresas e territórios estrangeiros. O ódio de 1955 e de 1961 jorrava, furioso.
A renúncia de Jânio, antecessora do período aqui considerado, está recebendo "O Romance da Renúncia", do admirável jornalista José Augusto Ribeiro, com a contribuição sobretudo de um dos dois políticos mais próximos de Jânio - José Aparecido de Oliveira, seus braços direito e esquerdo na Presidência.
Ex-ministro do governo Jango, Almino Afonso é dos mais informados e brilhante analista daquele período, com a melhor interpretação entre as de meu conhecimento.
É quase inacreditável que não lhes sejam propostas, como a outros ainda, condições para complementar seus trabalhos até o limite do possível, para dar à história do Brasil e aos presentes e vindouros o que lhes é devido.
E que, além do mais, é um conjunto extraordinário de ensinamentos de política, de democracia e de cidadania.
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50 anos depois. A história que falta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU