Rebeldes líbios avançavam ontem rumo ao centro de
Trípoli, enfrentando uma resistência menor do que se previa das forças de segurança leais a
Muamar Kadafi. O avanço ocorreu depois de os rebeldes terem tomado uma base militar responsável pela defesa do último reduto político do ditador e fez com que a
Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) decretasse o "desmoronamento" do regime de
Kadafi.
A informação é do jornal
O Estado de S. Paulo, 22-08-2011.
"O regime de
Kadafi está claramente em sua última fase", afirmou a porta-voz da Otan
Oana Lungescu. "O que vemos é gente arrumando as malas, três altas personalidades desertando nos últimos dias e o território controlado por
Kadafi se estreitando diante de nossos olhos."
Os ataques na área da capital líbia tiveram início no sábado em uma revolta coordenada em segredo entre células rebeldes "adormecidas" no interior de Trípoli que ontem recebiam reforço dos opositores vindos do leste da Líbia. A
Praça Verde, símbolo da resistência do governo durante a revolta, foi tomada por manifestantes que celebravam o avanço rebelde e recebeu o nome de "
Praça dos Mártires".
O grupo a caminho da capital afirmou ter quebrado o "anel de aço" de defesa estipulado pelas forças de Kadafi ao assumir o controle de uma base da 32.ª brigada, unidade militar de elite comandada por
Khamis Kadafi, filho do ditador. Após tomar a base, os opositores hastearam a bandeira rebelde no local e carregaram caminhões com armas e munições.
Um porta-voz dos insurgentes afirmou que o grupo abriu uma nova linha de ataque em Trípoli ao enviar mais combatentes de barco à capital pelo porto de
Misrata. Segundo os rebeldes, os primeiros ataques em Trípoli foram realizados em conjunto com a Otan. "Estamos coordenando os ataques de dentro da cidade e há tropas nossas de fora prontas para entrar em Trípoli", afirmou
Anwar Fekini, líder rebelde exilado na Tunísia. "Se você ligar para qualquer telefone em Trípoli, você escutará ao fundo o belo som das balas da liberdade", disse em referência à troca de tiros entre os insurgentes e as forças leais a Kadafi.
Prisão
O paradeiro de
Kadafi ainda era desconhecido ontem, mas, em pronunciamento na TV estatal, ele conclamou seus partidários a defender Trípoli da ofensiva rebelde. Ontem, o Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou que rebeldes teriam prendido
Seif Kadafi, filho do ditador e seu provável sucessor.
Apesar do avanço rebelde na capital, o porta-voz do governo líbio,
Moussa Ibrahim disse que a cidade permanece defendida por "milhares de soldados profissionais e voluntários" leais ao governo. "Nós vamos lutar. Temos cidades inteiras do nosso lado. Eles estão vindo em massa para proteger Trípoli", afirmou.
No entanto, os acontecimentos na capital sugerem uma possível mudança decisiva na insurgência de seis meses contra Kadafi, que já se transformou em uma das revoltas mais sangrentas do mundo árabe. Segundo ele, a ofensiva dos últimos dias resultou em 3 mil mortes. "Nós apontamos os senhores (Barack)
Obama, (David) Cameron, e (Nicolas)
Sarkozy como responsáveis morais para cada uma das mortes desnecessárias que acontecem neste país", disse
Ibrahim.
SINAIS DA QUEDA
Avanço maciço sobre Trípoli: Rebeldes, com apoio de bombardeios da Otan, marcham na direção do centro de Trípoli praticamente sem encontrar resistência
Cerco à capital: Com as linhas de suprimento cortadas pelos rebeldes e o bloqueio naval da Otan, forças de Kadafi não têm como se reabastecer
Rendição do corpo de segurança pessoal: Emissoras de TV árabes informam que guarda-costas de Kadafi se entregaram aos rebeldes que avançam em Trípoli
Prisão de dois filhos do ditador: Segundo fontes dos rebeldes, dois filhos de Kadafi, Neif e Said al-Islam, foram capturados no domingo
Deserção dos principais assessores do regime: Depois da fuga de vários funcionários do regime e militares, o ministro do Petróleo e o principal articulador político de Kadafi deixaram o país nos últimos dias
Chamada de Kadafi à negociação: Segundo seu porta-voz, ditador, agora, estaria disposto a dialogar com a oposição
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Regime de Kadafi desmorona, diz Otan - Instituto Humanitas Unisinos - IHU