Há pouco mais de um mês no comando da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República,
Ideli Salvatti faz o que pode para se consolidar no cargo. Restabeleceu a ponte entre o Palácio do Planalto e o Congresso e tem batalhado para recuperar o prestígio da Pasta junto à presidente
Dilma Rousseff. Tem agora como principal desafio, no entanto, convencer
Dilma a atender as duas maiores demandas dos partidos que integram a base aliada: a liberação do dinheiro de emendas parlamentares ao orçamento federal e o preenchimento dos cargos de confiança de ministérios, empresas estatais e órgãos federais.
A reportagem é de
Fernando Exman e publicada pelo jornal
Valor, 26-07-2011.
A postura de
Dilma em relação a esses dois assuntos deve dar o tom das relações entre o governo e o Congresso a partir de agosto, quando acabará o recesso parlamentar.
"Tudo vai depender do andamento da liberação dos restos a pagar e das nomeações para os cargos. Essas questões têm que ser resolvidas", comentou um influente deputado do PMDB. "Isso independe da pessoa que ocupa a Secretaria de Relações Institucionais; é o governo que precisa resolver."
E não são poucos os interesses do governo no Congresso. Na Câmara, por exemplo, o Executivo quer aprovar o projeto de lei que reestrutura o sistema brasileiro de defesa da concorrência e a criação do
Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
No Senado, tenta convencer o senador
Fernando Collor (PTB-AL) a destravar a tramitação da proposta que libera o acesso a documentos públicos sigilosos e pretende aprovar o
Código Florestal. Além disso, o Executivo deve enviar ao Legislativo propostas pontuais para reformar o sistema tributário.
Há também as armadilhas que o governo precisará desengatilhar no Congresso a fim de evitar despesas que coloquem em risco o ajuste fiscal em andamento. Os deputados querem, por exemplo, votar mudanças nas regras do fator previdenciário, aumentar os salários de policiais e bombeiros (
PEC 300) e os gastos na área de saúde (
Emenda 29).
"O governo vai ter que desarmar isso", alertou o líder de um partido governista.
Segundo ele, depois da pressão pela prorrogação do decreto que permite o pagamento de emendas parlamentares inscritas nos restos a pagar, a base aliada começará a cobrar do Executivo o empenho das emendas apresentadas ao Orçamento de 2011. "É melhor o governo me dever 100 do que me dever só 10", resumiu.
A prorrogação do decreto que trata das emendas parlamentares é um exemplo dos resultados da atuação de Ideli. Dilma resistia a acolher a demanda, mas mudou de ideia depois de alertada pela ministra de que a decisão poderia causar problemas para o governo no Legislativo.
O aviso da ministra tinha fundamento. Foi feito a
Dilma após uma série de conversas de Ideli com líderes dos partidos aliados no Congresso, as quais passaram a fazer parte da rotina da articuladora política do governo.
Ideli, que passou a despachar no gabinete de Dilma ao lado dos ministros
Gleisi Hoffmann (Casa Civil),
Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) e
Helena Chagas (Comunicação Social) sobre a agenda do governo, também teve crédito no arrefecimento da crise entre o governo e o PR. Devido à "faxina" promovida por
Dilma no Ministério dos Transportes, integrantes do partido de
Alfredo Nascimento ameaçavam faltar ao coquetel oferecido pela presidente a parlamentares aliados para brindar o fim do primeiro semestre. Mudaram de ideia depois que Ideli conversou com alguns líderes da sigla.
Ex-senadora (SC), ex-líder do PT no Senado e ex-líder do governo no Congresso, Ideli adotou uma estratégia criativa para fortalecer os laços com o meio político. Consulta a lista de aniversariantes do dia todas as manhãs e, em seguida, telefona para parabenizar ministros, congressistas, governadores e prefeitos.
No período em que a Pasta foi comandada por
Luiz Sérgio, hoje ministro da Pesca e Aquicultura, senadores e deputados se queixavam justamente da precariedade da interlocução com o Palácio do Planalto. A força do ex-ministro da Casa Civil
Antonio Palocci reduzia a margem de manobra da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, e Palocci não conseguia dar vazão aos pedidos dos aliados. Com crise que levou à saída de Palocci do governo, Dilma promoveu então a troca de cargos entre
Ideli e
Luiz Sérgio.
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Ideli dribla a crise e volta a ser testada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU