Até hoje, a verdade mais aceita sobre o incêndio nos alojamentos dos trabalhadores e em veículos da
Usina Hidrelétrica de Jirau, há cerca de quatro meses, é a de que uma discussão entre um funcionário e um motorista de ônibus teria motivado uma rebelião entre os trabalhadores.
“É tudo conversa. Tudo aquilo que aconteceu não teve nada de ação do trabalhador. Aquilo foi para atender os interesses de alguém que estava reclamando por falta de recursos. Fizeram um pedido para acrescentar mais R$ 1 bilhão no contrato”, denuncia
Walter Gomes da Silva, recentemente demitido pelo grupo
Camargo Corrêa, um dos integrantes do consórcio responsável pela construção da usina, o
Energia Sustentável do Brasil.
A reportagem é de
Eduardo Sales de Lima e publicda pelo jornal do
Brasil de Fato, 13-07-2011.
O ex-encarregado técnico do setor de meio ambiente em na
UHE de Jirau faz relação direta entre a “rebelião” com o pedido da construtora
Camargo Correa de um “pacote” adicional ao consórcio Energia Sustentável do Brasil de R$ 1,2 bilhão por serviços adicionais. Ele assevera que o tumulto poderia apressar tais negociações entre o consórcio e a construtora.
“Por mais louco que um trabalhador seja, ele não chega ao ponto de botar fogo onde ele mora. Saquear, quebrar o refeitório onde come?”, questiona
Walter. De acordo com ele, os verdadeiros causadores daquele incêndio foram cerca de 30 pessoas, não trabalhadores. “Tanto é que se observarmos os danos causados, foram de terceiros. Da empresa mesmo, foram 4 ou 5 carros incendiados. Quanto às construções estratégicas da empresa, nada foi afetado. E os alojamentos estavam todos segurados”, conta. Se aprovado o “aditivo” no contrato entre a construtora e o consórcio, o total dos custos da usina alcançaria os R$ 13 bilhões, quase 50% do valor inicial da obra.
De acordo com
Walter, após toda a confusão, a empresa deu a cada gerente um aumento no salário-base. “Foi uma ação que todo mundo ganhou, menos os trabalhadores”, reclama.
Por causa da manifestação, cerca de 35 trabalhadores foram presos.
Passado um mês após a confusão,
Walter, com surpresa, recebeu a notícia de que estava demitido. “Meu gerente chegou me dizendo que eu era um ótimo funcionário, que todo mundo gostava de mim, mas que estavam pedindo meu desligamento”, afirma. Para ele, o motivo de sua demissão ocorreu em razão da confusão que resultou na destruição dos alojamentos da usina hidrelétrica e por ter sido discriminado pelo fato de ter sido um dos fundadores do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região do Pontal do Paranapanema.
Até agora, cerca de 2 mil funcionários foram demitidos. A previsão é que, no total, o número alcance 6 mil trabalhadores. O grupo
Camargo Correa entrou na Justiça e ganhou liminar pelo direito de demitir com o argumento de que havia ocorrido uma assembleia e que nela chegou-se a um acordo, com a suposta assinatura de todos os trabalhadores. “Não houve isso!”, indigna-se. Segundo ele, o assunto em pauta eram a
PLR (Participação nos Lucros e Resultados), o valor do cartão de compras “Big Card”, a visita familiar e o aumento salarial. “O ponto sobre as demissões não havia sido discutido. Assinaram e decidiram por eles. Não respeitaram os trabalhadores”, conta
Walter. Segundo a empresa, entretanto, tratou-se apenas de uma simples redução de quadro.
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