11 Junho 2011
"Uma figura acessível, terna, firme, convicta, forte, envolvente, segura, no que fazer e como fazer, além de uma grande capacidade de trabalho". O comentário é de Darli Sampaio, pesquisadora do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - Cepat, que conviveu com a senadora Gleisi Hoffmann no Partido dos Trabalhadores - PT.
Eis o testemunho.
Conheci a hoje ministra Chefe da Casa Cívil, Gleisi Hofmann, na década de 1980, período em que Jorge Miguel Samek, hoje diretor da Itaipu Binacional, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em Curitiba - PR. Gleisi também optou pela entrada no partido nessa época, em 1989, período da primeira disputa de Lula à presidência. Ela integrou a assessoria de Samek, então vereador do PT.
Na disputa por "enraizamento" de base e espaço no PT, Samek organizou-se através das zonais, onde o PT, seguia a forma de organização estrutural do TRE e motivava a organização dos núcleos de base e os diretórios zonais. A 145º Zonal, a maior zonal de Curitiba, abrangia a periferia sul da cidade. História em termos de luta e organização dos trabalhadores e, onde o PT mantinha o maior número de núcleos de base, que de fato atuavam e que tinham peso na direção do partido.
Portanto, as disputadas realizadas passavam em primeira instância pelas zonais e se estendiam em outras esferas partidárias. Samek com seu efetivo político, disputava espaço nas zonais e no partido como um todo.
Gleisi na assessoria, já com experiência de militância política, advogada e preparada para os embates, contribuiu de forma decisiva para a ascensão de Samek no PT. Mas os processos de disputa com Gleisi, sempre foram marcados por muita diplomacia e respeito na condução desses processos internos de democracia partidária.
Não havia dificuldade em trabalhar com Gleisi nos encontros zonais. Ela sempre estava interessada em resolver as dificuldades e buscar os consensos, embora nunca se afastasse de seus objetivos e do grupo no qual estava incorporada e nessa direção eram estabelecidas as estratégias, sempre polêmicas no interior do PT. Mas tratava a todos com muita cordialidade e defendia e garantia acordos firmados e as regras estabelecidas, tanto do partido como as oficiais do TRE. Trabalhar com a Gleisi nesses momentos era certeza de boa convivência, proveitosa e, harmoniosa. Não havia interesse nos confrontos, gratuitos, que impedissem ou dificultassem o bom andamento do processo.
Falando em zonais, organização por bairros, no 1º de Maio deste ano de 2011, a ainda senadora Gleisi, estava num ato preparado pelos movimentos sociais, com concentração em um pátio de igreja, no bairro da Fazendinha. Na sua intervenção, entre outros pontos, destacou a importância da data para os trabalhadores e os desafios colocados.
Em termos de trajetória política, o tempo foi passando e de lá para cá, acompanhou-se a progressiva ascensão da militante Gleisi. Ficou na assessoria do Samek por um bom tempo, depois integrou vários outros postos, especialmente no Paraná, como é sabido por todos, até chegar ao ministério e a uma amizade consolidada tanto com Lula, como com a presidente Dilma.
Do ponto de vista humano, como já foi dito, foi uma presença marcante, pela forma respeitosa e agradável de tratar as pessoas. Chamava-as pelo nome, perguntava e interessava-se pela vida destas. Escutava com atenção e dependendo da situação, sempre se propunha a colaborar ou indicar alguma solução. E, realmente o fazia. Por exemplo, diante de dúvidas que ocorriam por conta da elaboração do meu projeto de mestrado que seria apresentado à UFPR, em uma reunião qualquer, fiz a partilha dessas dificuldades com a Gleisi. Ela se propôs a ler o projeto, o que realmente ocorreu. Fez algumas críticas e destacou contribuições na área de gênero, linha do projeto. Enfim, era só para reforçar que estamos diante de uma figura acessível, terna, firme, convicta, forte, envolvente, segura, no que fazer e como fazer, além de uma grande capacidade de trabalho.
Na Itaipu Binacional enquanto diretora executiva financeira e, também responsável pelo setor de responsabilidade social, apoiou e desenvolveu paralelamente um trabalho ligado às questões de relação de gênero. Sensível à situação das mulheres e crianças, combatendo a prostituição infantil e, a violência contra as mulheres. Nas relações de gênero, Gleisi percebeu e apostou nas potencialidades de trabalho na área.
Convidou pessoas da área, oriundas de diversos setores e lugares, tais como Rose Marie Muraro, Moema Wiezer, Maria Helena Guarezi e, nós do Cepat também fomos convidados para contribuir em um planejamento nessa área, num encontro realizado em Foz do Iguaçu, no início de seu mandato na Itaipu. E, tivemos projetos aprovados nessa área.
O programa pela Equidade de Gênero ganhou corpo e foi responsável por ações importantes tais como a casa de abrigo e acolhida para as mulheres vítimas de violência e programas de formação e conscientização tanto no interior da empresa como em vários municípios.
A sensibilidade de Gleisi demonstrou-se não apenas nas questões de trato com as pessoas, mas também alimenta uma espiritualidade que tem raízes católicas. Certa vez em um encontro estadual do PT, onde organizávamos uma mística, ela queria que cantássemos uma música reconhecidamente de igreja: O Pai Nosso dos Mártires! O músico (um seminarista passionista) e eu, tivemos que argumentar que ali, não dava não...
Esse fato é só para dizer que a espiritualidade estava presente na dirigente Gleisi e que depois se ampliou para uma visão harmoniosa com toda a criação e o universo em si. Vegetariana não só por uma questão de saúde, mas também por amor e respeito aos animais, é muito ligada ao Brahma Kumaris que motiva, incentiva a meditação, a harmonia entre os seres e que aposta em numa outra relação entre os seres humanos, baseado no respeito e nas boas intenções que devem sempre nortear qualquer ação desenvolvida, desencadeada.
Portanto, apesar da ausência de ingenuidade para se achar que o mundo da política se sustenta apenas por boas ações e intenções, é também certo, que as características de Gleisi no ministério, terão as marcas dessa trajetória pessoal. Haverá diálogo com as várias forças de interesse, democracia e sensibilidade para os problemas prioritários e urgentes e para esses, a ministra não medirá esforços para remover qualquer barreira que se estabeleça nessa direção. Mas com tanta diplomacia, que vai ser bem difícil notar.
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"Gleisi Hoffmann. Concepção de mundo e convicções pessoais". Testemunho de uma companheira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU