14 Abril 2011
Há 400 anos, grandes cientistas e estudiosos da Renascença reuniram-se em uma colina no topo de Roma, em uma noite de primavera estrelada, para observar uma inovação ímpar de Galileu Galilei: o telescópio. "Esse realmente foi um evento emocionante. Foi a primeira vez que Galileu mostrou seu telescópio em público para as pessoas educadas de Roma, que era o centro da cultura na Itália naquele momento", disse o irmão jesuíta Guy Consolmagno (foto), astrônomo do Vaticano.
A reportagem é de Carol Glatz, publicada no sítio Catholic News Service, 08-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O encontro original do dia 14 de abril de 1611 foi promovido pela mais antiga academia científica do mundo – a Academia Nacional dos Linces – da qual Galileu era membro.
Hoje, aquela colina faz parte da Academia Americana em Roma, que quis celebrar sua conexão com Galileu com uma série de eventos que incluiu uma discussão sobre fé e ciência com o Ir. Consolmagno no dia 07 de abril.
Christopher Celenza, diretor da Academia Americana, disse ao Catholic News Service, que os estudiosos renascentistas "reuniram-se aqui para celebrar Galileu e a invenção daquilo que eles chamaram nesse encontro de telescópio. Foi a primeira vez que o telescópio palavra foi usado", ao se referir ao dispositivo que Galileu aperfeiçoou em 1609 e começou a usar para estudar os céus.
Os renascentistas que se reuniram no monte Janículo incluíam estudiosos jesuítas, como o padre jesuíta Cristóvão Clavius, que ajudou a elaborar o calendário gregoriano 40 anos antes.
Gravura de Galileu que mostra os planetas Saturno, Júpiter, Marte e Vênus em suas diversas fases, conforme as observações feitas pelo cientista no telescópio |
Celenza disse que um boletim do século XVII, arquivado na Biblioteca do Vaticano, informou o que aconteceu naquela noite: os homens olharam pelo telescópio de Galileu, ornado de couro, em um esforço para ver o que ele havia estado relatando – um grande número de corpos celestes que circundam Júpiter.
O Ir. Consolmagno disse ao CNS que a revelação do telescópio foi tão significativo porque "essa foi a primeira vez que se fez ciência com um instrumento. Não era só algo que qualquer filósofo podia ver. Você tinha que ter a ferramenta certa para ser capaz de ver", porque os próprios olhos não eram mais suficientes.
"As pessoas, então, queriam olhar por si mesmas e ver se estavam vendo as mesmas coisas que Galileu estava vendo", disse.
Muitas vezes, as pessoas não percebem que Galileu estava em uma posição muito boa perante a Igreja e perante vários líderes da Igreja durante décadas antes do seu julgamento em 1633, afirmou.
Apenas algumas semanas depois de ter demonstrado o seu telescópio na colina romana, Galileu foi "homenageado no Colégio Romano dos jesuítas, que haviam ficado realmente impressionados com o trabalho que ele havia feito. Nesse momento, ele estourou na cena pública como uma das grandes luzes intelectuais do século XVII", disse o Ir. Consolmagno.
"Mesmo em seu maior ponto de dificuldade, Galileu sempre foi um fiel filho da Igreja – suas duas filhas eram freiras – e era amigo de muitos dos habitantes de Roma, incluindo futuros Papas", disse.
Irmão Consolmagno disse que a real razão pela qual Galileu foi finalmente levado perante a Inquisição e condenado por suspeita de heresia ainda é um mistério. Inúmeros autores propuseram diferentes provas, e o julgamento ainda é "um grande enigma para os historiadores", comentou.
Graças ao fato de ter muitos amigos em postos elevados, Galileu, durante anos, conseguiu escapar de todos os problemas referentes ao fato de sustentar que a Terra girava em torno do sol, disse o jesuíta.
Galileu recebeu permissão, inclusive do censor pessoal do Papa, para publicar seu livro Diálogo sobre os Dois Máximos Sistemas do Mundo, disse. "Ele fez tudo certo, ele seguiu todas as regras e, de repente, do nada, ele foi chamado a julgamento".
Galileu estava disposto e ansioso para fazer qualquer correção ao texto, disse, mas os inquisidores não permitiriam isso. Eles não foram capazes de prová-lo culpado por heresia, no entanto. Por isso, "mudaram o veredito no último minuto para culpá-lo por veemente suspeita de heresia", disse o Ir. Consolmagno.
"Tudo isso me faz suspeitar que o julgamento foi um arranjo político que não tinha nada a ver com filosofia", disse.
"O embaixador espanhol junto à Santa Sé acusou o Papa Urbano VIII em público por ser um protestante enrustido, porque ele não apoiou vigorosamente o lado espanhol" na sua luta contra o chamado lado protestante, comentou.
Punir Galileu foi uma forma de "acertar as contas com algumas pessoas que estavam com raiva de Galileu; de enviar uma mensagem para que os Médicis (a família governante da Toscana) ficassem fora da guerra; e de mostrar ao espanhol que, `veja, eu realmente não sou um protestante enrustido`", afirmou.
Independentemente das razões políticas que estavam por trás do julgamento e do seu veredito, ele disse que o "terrível erro" foi que a Igreja usou a sua autoridade religiosa para fins políticos.
A reputação de Galileu foi restaurada em 1992 por uma comissão especial do Vaticano instituída pelo Papa João Paulo II.
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Academia de Roma celebra uma histórica inovação astronômica: o telescópio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU